A economista americana Deirdre McCloskey, que teve sua palestra na Petrobrás cancelada pela direção da estatal, defendeu que o Estado “deixe as pessoas sozinhas” para que elas e o país possam enriquecer. “O jeito de lutar contra a pobreza é deixando as pessoas sozinhas. Não é através de políticas do Estado que as pessoas ficam ricas”, afirmou na tarde desta terça-feira, 28, em evento do banco Credit Suisse em São Paulo.
Formada em Harvard e com passagem como professora pela Universidade de Chicago - polo do liberalismo nos Estados Unidos e instituição onde o ministro da Economia, Paulo Guedes, se doutorou -, Deirdre está no Brasilpara uma série de palestras. Na segunda-feira, 27, proferiria uma na Petrobrás, empresa presidida por Roberto Castello Branco, também formado em Chicago.
Ao chegar no Brasil na manhã de segunda, porém, ela foi avisada de que a palestra havia sido cancelada. Em entrevista publicada pelo Estado na última sexta-feira, a economista havia afirmado que o governo brasileiro é “tudo menos liberal” e descrito os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump como pessoas “desagradáveis e loucas”. Segundo a assessoria de imprensa da Petrobrás, o evento não ocorreu por um problema na agenda dos diretores da empresa.
Nesta terça-feira, 28, no entanto, a plateia de Deirdre foi grande. Entre os presentes, estava o banqueiro Pedro Moreira Salles, presidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco, e os ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga e Gustavo Franco. Os últimos dois também deram palestra no evento, mas Salles afirmou que estava ali para assistir a americana. Ilan Goldfajn, também ex-presidente do BC e atual presidente do conselho do Credit Suisse, foi quem conduziu a conversa com Deirdre.
Na palestra, a americana destacou que não são os investimentos que conduzem a economia, mas a liberdade de escolha das pessoas. “O ambiente de boas ideias é que é importante. (...) A riqueza não vem de onde achamos que vem, vem da ética e deste acordo de que todo mundo é livre na sociedade. O que precisamos para ter mais ideias é uma sociedade cada vez mais livre.”
Conhecida também por ser feminista e transexual - Deirdre publicou um livro sobre seu processo para se tornar mulher -, a economista afirmou que seu conselho para a plateia era que buscasse implementar uma sociedade igualmente livre para todos, “homossexuais, mulheres, estrangeiros”.
Deirdre voltou a criticar o conservadorismo de Bolsonaro:
Uma das coisas idiotas dele é querer que as pessoas sejam cristãs.
Ela também disse ser a favor apenas de pequenas regulações para preservação do meio ambiente. “Não acho que seja preciso construir um Estado cada vez maior para controlar como as pessoas lidam com o ambiente.”
Crítica antiga de Trump, a economista afirmou, em tom de brincadeira, que torcia para que uma pequena recessão atingisse os Estados Unidos, o que reduziria as chances de o presidente americano ser reeleito. “Se houver uma recessão, é certo que ele perde. Estou esperando uma recessão pequena, mas pequena. Quero esse homem fora”, disse, provocando risos.