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Como a ‘poda invertida’ está revolucionando a produção de vinhos na Mantiqueira

Sucesso de vinícolas como a Guaspari, em Espírito Santo do Pinhal, no interior paulista, está relacionado a técnica desenvolvida por pesquisador de Minas Gerais

Foto do author Suzana  Barelli
Por Suzana Barelli
Atualização:

São Paulo - Reza a lenda que as primeiras vinhas foram plantadas na Guaspari por indicação do paisagista - a família Brito chegou a Espírito Santo do Pinhal primeiro como destino de lazer, sem nem sonhar em ter uma vinícola no local. Ao estudar que variedade plantar para decorar o jardim da casa da família, descobriram a técnica de dupla poda, também chamada de poda invertida e, atualmente, de colheita de inverno. É essa maneira particular de cultivar a videira que explica o sucesso dos vinhos não apenas da Guaspari, mas de quase todos os vinhedos cultivados na região da Mantiqueira, entre São Paulo e Minas Gerais. E também de algumas vinícolas no Centro-Oeste.

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Desenvolvida pelo pesquisador Murilo Regina, então da Epamig, a técnica tem uma lógica simples: os verões na região são quentes e chuvosos, características climáticas que brigam com a ideia de produzir bons frutos e, consequentemente, branco e tintos de qualidade. A chuva cria um ambiente propício ao aparecimento de fungos e demais doenças no vinhedo, e os dias e noites quentes em nada ajudam as uvas a ganhar complexidade enquanto amadurecem.

Por outro lado, o inverno na região é seco, ensolarado e tem a necessária amplitude térmica entre o dia e a noite, que possibilita o lento e completo desenvolvimento dos aromas e dos sabores da uva.

O “pulo do gato” foi fazer com que a videira gerasse seus frutos entre o outono e o inverno. Por meio de uma poda quando a planta vai começar a produzir, e também de irrigação e de hormônios (o dormex, desenvolvido para a cultura da maçã, é o mais usado), garante-se que a planta “durma” no verão e volte a produzir entre o outono e o inverno. Após a colheita, é feita a tradicional poda, daí a técnica ser chamada de dupla poda.

O resultado é uma matéria-prima (a uva) mais complexa e sana, que segue para a vinificação tradicional. Os experts brincam que, com a uva de qualidade, cabe aos enólogos apenas não estragarem o vinho - a máxima de que o vinho se faz no vinhedo.

Vista como a 'pedra fundamental' do enoturismo em Espírito Santo do Pinhal, a Vinícola Guaspari foi a primeira companhia a explorar o potencial do vinho na cidade Foto: Tiago Queiroz

Ainda recente - os primeiros vinhos com a técnica de poda invertida surgiram na virada dos anos 1990 para os 2000, em Minas Gerais -, há questões que só o tempo responderá sobre o cultivo. A primeira é a vida útil da videira e o quanto ela irá resistir a uma poda a mais todos os anos. Será que sua produção se manterá estável por décadas ou a planta vai produzir menos depois de 20 ou 25 anos? Para ser viável economicamente a videira deve produzir por pelo menos 25, 30 anos, conforme a região. A segunda é quanto à quantidade de hormônios colocados na vinha - aqui os produtores afirmam que exames de laboratório mostram que eles são eliminados pela planta e não há vestígios no vinho final.

Por enquanto, sabe-se apenas da qualidade da uva nos parâmetros da viticultura. A syrah, variedade originária do Rhône francês, tem dado origem aos melhores tintos da Mantiqueira. São, em geral, encorpados, aromáticos e potentes. Mas há vinhedos com outras variedades tintas como a cabernet sauvignon e pinot noir, entre outras. Nos brancos, há bons resultados com a viognier e a sauvignon blanc. Mas essa história está apenas começando.

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