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Casino: proposta de aporte de 1,1 bilhão de euros pode dar controle do grupo a investidor checo

Rede francesa dona do Pão de Açúcar no Brasil é controlada atualmente pelo empresário Jean-Charles Naouri; grupo tem dívidas de curto prazo que superam 3 bilhões de euros

Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Altamiro Silva Junior (Broadcast)

O aporte de 1,1 bilhão de euros que a rede de supermercados francesa Casino deve receber de um investidor da República Checa, pode fazer o empresário Jean-Charles Naouri perder o controle do grupo, que no Brasil é dono do Pão de Açúcar. Com dívidas de curto prazo que superam 3 bilhões de euros, o grupo varejista pode não ter outra opção a não ser aceitar a proposta de investimento, avaliam analistas.

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Em Paris, as ações do Casino inicialmente reagiram bem à proposta e dispararam mais de 4%, mas acabaram fechando em baixa de 1,6%. No Brasil, o papel do Pão de Açúcar ganhou quase 5%.

Logo pela manhã, o Casino anunciou que a EP Global Commerce, empresa controlada pelo bilionário checo Daniel Kretinsky, cuja Vesa Equity Investment detém uma fatia de cerca de 10% no Casino, propôs um aporte, de 750 milhões de euros, em um aumento de capital privado, incluindo ainda conversão de dívida em ações. A operação teria mais dois aportes de outros investidores, que elevaria o total a 1,1 bilhão de euros. No comunicado, o Casino disse que iria avaliar a plano.

“Se aprovado, o aumento de capital pode reorganizar muito a estrutura de propriedade, com o Naouri perdendo o controle em benefício de Kretinsky”, afirma o analista da Bryan Garnier, Clement Genelot, em relatório. O próprio Casino, reconhece no comunicado em que anuncia a oferta que a diluição dos atuais acionistas pode ser “muito significativa”. Por isso, o grupo francês informa ainda que considera pedir no tribunal a ajuda de um conciliador para supervisionar as conversas com os credores.

EP Global Commerce, controlada pelo bilionário checo Daniel Kretinsky, propôs um aporte de 750 milhões de euros no Casino Foto: Thomas Samson/AFP

A fortuna de Kretinsky, de 47 anos, é estimada em US$ 9,4 bilhões, segundo a revista Forbes. Ele é dono da Energetický, o maior grupo de energia da Europa central. Ele também tem ações da gigante varejista americana Macy’s, da empresa de calçados Foot Locker e da supermercadista britânica Sainsbury. Na França, além do Casino, tem uma fatia no prestigiado jornal Le Monde.

Abilio Diniz

Aos 74 anos, Naouri ganhou fama no Brasil ao travar uma disputa com o empresário Abilio Diniz pelo controle do Pão de Açúcar, há dez anos. Com a vitória do francês, Diniz foi então para o rival Carrefour, do qual atualmente é membro do conselho mundial, em Paris.

Já o empresário francês vive um inferno astral no Casino, com ações nas mínimas históricas, queda das margens da rede de supermercados e pressão dos credores por conta do alto endividamento. Tudo isso fez com que a agência de rating Moody’s rebaixasse no mês passado a nota do grupo para o nível inferior ao grau de investimento - ou “junk bond”, no jargão do mercado financeiro. Na semana passada, nova ação negativa do perfil de crédito do grupo, desta vez da Fitch Ratings.

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Em busca de recursos, o Casino fez no Brasil duas vendas de ações bilionárias da rede de atacarejo Assaí, uma de R$ 4 bilhões, em março, e outra de R$ 2,7 bilhões, em novembro. Com as duas operações, a participação do grupo francês no Assaí saiu de pouco mais de 40% para 11,7%. Na Faria Lima, espera-se que uma nova oferta ocorra, mas talvez em 2024, segundo uma fonte.

O Casino precisa pagar 1,2 bilhão de euros em dívidas que vencem até 2024, segundo a Moody’s. Há ainda mais 1,8 bilhão de euros vencendo até 2025. Para isso, os analistas da agência esperam que novas vendas de ativos, como as do Assaí, sejam feitas. Já a Fitch alerta para um potencial risco maior no refinanciamento das dívidas, em meio a uma pressão de liquidez. Nesse ambiente, Naouri pode ter que aceitar a proposta de Kretinsky.

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