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CSN fecha acordo de exclusividade para compra da InterCement e pode virar líder no setor de cimento

Empresa de Benjamin Steinbruch tem prazo de negociação exclusiva até 12 de julho para compra da cimenteira da Mover, ex-Camargo Corrêa, em negócio estimado em mais de R$ 8 bilhões

Por Ivo Ribeiro

Segunda maior produtora de cimento do mercado brasileiro, a CSN Cimentos Brasil, empresa do grupo controlado pelo empresário Benjamin Steinbruch, deu um grande passo nesta quarta-feira, 1º, para a compra da InterCement, ao firmar um acordo com direito de exclusividade na negociação. A InterCement é a cimenteira da Mover Participações (ex-Camargo Corrêa), holding dos negócios dos herdeiros do empresário Sebastião Camargo (falecido em 1994). As negociações exclusivas têm prazo até 12 de julho (72 dias).

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Em comunicados nesta quinta-feira, 2, CSN e InterCement afirmaram que o acordo não representa, neste momento, compromisso vinculante por nenhuma das partes, ou suas controladas, de obrigação para realizar a transação.

Se confirmada, a aquisição pode garantir à CSN a posição de líder nas vendas de cimento no Brasil, ameaçando o domínio de décadas da Votorantim Cimentos. O negócio envolve 100% do capital da InterCement Participações, holding que controla duas fabricantes de cimento e concreto: a InterCement Brasil, com 15 fábricas no País, e a Loma Negra, dona de 9 unidades de produção na Argentina.

O negócio terá de passar, no entanto, pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que poderá exigir da CSN alguns remédios para evitar concentração de mercado. Por exemplo, a venda de algumas fábricas, principalmente nos Estados do Rio e de Minas Gerais, onde passaria a ter maioria de unidades fabris.

Fábrica da InterCement em Ijaci, Minas Gerais Foto: InterCement/Divulgação

A venda da InterCement, que é conduzida pelo BTG Pactual, envolve dívidas financeiras consolidadas na casa de R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões, compostas por debêntures detidas por Bradesco, Itaú e Banco do Brasil, e por US$ 549 milhões de um título com vencimento em julho, entre outros compromissos. A empresa, no ano passado, postergou com os três bancos o pagamento de debêntures vencidas em 2023, de mais de R$ 1 bilhão. Esse novo prazo vence na próxima semana, no dia 8 de maio.

Com a aquisição, a cimenteira de Steinbruch poderá atingir, no mínimo, 35% do mercado brasileiro, fatia semelhante à da Votorantim Cimentos, atual líder de mercado, se não sofrer restrições do Cade. Em 2023, a CSN Cimentos alcançou 21% (com 13 milhões de toneladas vendidas), enquanto a InterCement Brasil, em terceiro lugar, obteve 14% do mercado (vendas de 8,6 milhões de toneladas).

Ao assumir a InterCement - operação dada como fato praticamente consumado com o acordo de ontem, segundo pessoas próximas das negociações -, a CSN passa a ser a número 1 no mercado de cimento da Argentina. O negócio no país vizinho é operado pela quase centenária Loma Negra, uma marca emblemática local que o então grupo Camargo Corrêa adquiriu em 2005. A empresa detém cerca de 48% das vendas de cimento: 6,42 milhões de toneladas no ano passado.

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Evolução do negócio

O negócio de cimento dentro da CSN começou em 2009 com uma moagem em Volta Redonda (RJ), ao lado da siderúrgica, aproveitando resíduos da fabricação do aço (escória). Anos depois a empresa montou um complexo de produção de clínquer (matéria-prima feita a partir de calcário) e cimento em Arcos (MG), elevando sua capacidade a 4,6 milhões de toneladas. Mais um passo foi a aquisição da Cimento Elizabeth, em 2021, na Paraíba. O último grande salto de Steinbruch foi a compra dos ativos da LafargeHolcim no Brasil, em 2022, por US$ 1,025 bilhão.

Com isso, em 14 anos, a CSN saiu do zero para a vice-liderança do mercado de cimento brasileiro. Com a compra total da InterCement, a empresa se tornaria ma protagonista desse negócio no Mercosul e na América Latina, assumindo a liderança na Argentina e com grande chance de assumir a mesma posição no Brasil.

A InterCement, fundada em 1967 por Sebastião Camargo, cresceu aceleradamente com aquisições: a Cauê, de Minas Gerais, em 1997, a Loma Negra, em 2005, e a portuguesa Cimpor, em 2010, que tinha operações em Portugal, Brasil e África. Está nessa compra, alavancada financeiramente, a raiz do endividamento da companhia, agravado por custo da dívida e crises econômicas que afetaram o negócio.

A venda da empresa, por conta das dívidas, tornou-se inexorável desde o início do ano passado. A gestão da InterCement vendeu em janeiro de 2023 a fábrica do Egito e em meados do ano as unidades de produção na África do Sul e Moçambique, negócio concretizado no fim de dezembro. No total, essas alienações geraram cerca de US$ 270 milhões ao caixa da companhia, que garantiu um alívio temporário.

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No fim de 2023, conforme balanço da empresa publicado recentemente, a InterCement registrava uma dívida líquida financeira de US$ 1,3 bilhão, o correspondente a R$ 6,5 bilhões. A empresa, que registrou prejuízo de US$ 183 milhões - por conta da queda de vendas na Argentina e no Brasil e ao custo da dívida -, encerrou o exercício fiscal com caixa US$ 361 milhões. Esse valor se deve em grande parte aos três desinvestimentos de ativos na África.

No Brasil e Argentina, a empresa encerrou o ano com vendas de 15,1 milhões de toneladas, com recuo maior na Argentina por causa da crise do país. Somente no Brasil, a empresa dispõe de capacidade de produção de 17 milhões de toneladas de cimento por ano, mas cerca de 5 milhões são de fábricas que estão hibernadas, aguardando melhoria da demanda, ou fechadas para sempre (antigas e de alto custo de produção). Na Argentina, são 7,6 milhões de toneladas de capacidade instalada, além de uma ferrovia e ativos de concreto.

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