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CVM vai apertar o cerco a influenciadores de investimentos nas redes sociais: saiba por quê

Regulador do mercado de capitais solicitou dados de contas consideradas ‘influencers’, o que pode significar uma investigação mais rigorosa desse tipo de atividade por parte da autarquia

Foto do author Fernanda Guimarães
Por Fernanda Guimarães
Atualização:

Desde ontem, a comunidade do mercado financeiro no Twitter, batizada há alguns anos de Fintwit, está vivendo momentos de agito. Dezenas de usuários receberam um comunicado de rede social informando que o regulador do mercado de capitais, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), havia solicitado os dados do usuário da conta, no âmbito de uma investigação. O sinal, no entanto, é de que haverá fiscalização mais rigorosa nas redes por parte da autarquia.

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E se trata de um trabalho árduo. Em virtude da dimensão das comunidades de investimento nas redes sociais, a associação que representa agentes do mercado financeiro, como bancos e gestoras, a Anbima, fez um estudo para traçar um retrato da Fintwit e o alcance de seus tentáculos. O levantamento identificou ao menos 266 influenciadores de investimento, que juntos têm uma base de 74 milhões de seguidores em seus canais, com um engajamento médio de 937 interações por publicação.

Não há detalhes sobre o perfil do influenciador que recebeu o ofício para abertura dos dados. Pelas postagens do Twitter, trata-se de dezenas de contas, com diferentes número de seguidores, mas com alta frequência de publicação, conforme observou a reportagem.

Na verdade, o pedido do regulador do mercado financeiro apenas coloca em evidência um processo de maior fiscalização das redes sociais que já foi iniciada há alguns anos, já que, nos últimos tempos, postagens de dicas relativas a ativos negociados na Bolsa ganharam força, principalmente entre as pessoas físicas. O tópico já consta, inclusive, da agenda regulatória da CVM para este ano.

Segundo uma fonte com conhecimento no assunto, o pedido ao Twitter faz parte de uma sequência de ações que busca a maior fiscalização das redes sociais. A supervisão, disse a fonte, será feita com várias ações; Por isso é necessário que a CVM saiba a identidade da pessoa ou organização por trás de cada conta, pois é muito comum o uso de “avatares” para se falar de temas financeiros.

CVM enviou ao Twitter pedido de dados de contas de "influenciadores de investimento" Foto: REUTERS / REUTERS

“Tudo isso está dentro de um plano maior de monitoramento, porque existe risco”, disse a fonte. A mesma fonte explica que a ação não é necessariamente uma cruzada contra a atuação desse grupo, mas busca atuar onde pode haver problemas e prover segurança aos investidores que buscam informações de investimento nesses canais. A fonte disse que há um reconhecimento por parte da autarquia sobre a importância da divulgação do mundo de investimento pelos influenciadores, mas que a intenção é apenas atuar onde há problemas, o que se trata de uma minoria.

Afinal, nos últimos tempos, muita gente caiu em golpes ou em esquemas de pirâmide financeira. Entre os casos mais recentes estão perdas com esquemas envolvendo criptomoedas, que prometiam ganhos exorbitantes, e também questões relacionadas a sites de apostas. Logo, entrar na onda de algo visto nas redes sociais pode, sim, representar um perigo de perdas para os investidores.

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A sinalização de que esse era um assunto prioritário na mesa do xerife do mercado já havia sido dado pelo ex-presidente da autarquia, Marcelo Barbosa, que deixou o cargo em julho último, após cinco anos no comando da CVM.

Barbosa afirmou que a autarquia estava em busca de ferramentas para aumentar sua capacidade de fiscalização no meio digital, como o uso de robôs. Ele disse que era importante a divulgação do trabalho feito por esses influenciadores, mas que havia riscos, como influenciadores que dão conselhos de investimento sem serem analistas certificados ou aqueles que usam as redes para manipular o mercado.

Possibilidade de golpe

Dentre as mensagens que se disseminaram no Twitter estavam questionamentos sobre a veracidade do pedido feito à rede social. Entre os dados pedidos estão, por exemplo, CPF, endereço e telefone. No e-mail enviado pelo Twitter aos usuários que foram alvo do pedido da CVM, a companhia informou que a “conta no Twitter é objeto de pedido de fornecimento da dados no âmbito da investigação em trâmite perante a CVM”.

Procurada, a CVM confirmou o ofício enviado ao Twitter e disse se tratar de um “trabalho de supervisão temática, no âmbito do Plano de Supervisão Baseada em Risco (SBR), da Superintendência de Relações com o Mercado e Intermediários (SMI), envolvendo atuação de influenciadores digitais nos mercados regulamentados pela Autarquia, aprovada recentemente pelo Colegiado da CVM.”

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