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El Salvador completa 2 anos da adoção do bitcoin como moeda oficial, com queda de 43% na cotação

País da América Central foi o primeiro do mundo a adotar o criptoativo como moeda oficial, mas não é usado em massa, e há riscos de financiamento irregular de campanhas eleitorais

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Por Redação

São Salvador- El Salvador completou dois anos da adoção do bitcoin como moeda oficial do país sem que a população faça uso em massa da criptomoeda. Analistas também apontam para o risco de a moeda ser usada para financiamento irregular de campanhas eleitorais, como o que foi visto nas eleições locais de 2024 sem que o governo prestasse contas dos fundos utilizados. Além disso, a moeda comprada pelo governo desvalorizou-se em 43% no período.

Em setembro de 2021, esse país da América Central tornou-se a primeira nação do mundo a adotar o bitcoin como moeda oficial, juntamente com o dólar americano. O país investiu mais de US$ 250 milhões no projeto, que foi a principal aposta econômica do presidente Nayib Bukele.

Em San Salvador, pixação afirma que bitcoin é "negócio de Bukele", o presidente de El Salvador Foto: Jose Cabezas/Reuters

Dois anos sem informação

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O governo de Bukele destinou US$ 150 milhões a um fundo fiduciário para a conversão da criptomoeda em dólares. Foram pelo menos US$ 107 milhões na compra de 2.381 bitcoins, além da concessão de um bônus de US$ 30 para quem utilizasse a carteira digital do governo, entre outros gastos.

As informações sobre o uso desses recursos foram mantidas em sigilo pelas instituições estatais, e a única fonte oficial são as publicações de Bukele no X (antigo Twitter). Os dados ainda estão ocultos.

Reservas de bitcoin do país registraram desvalorização de 43% no último ano Foto: Dado Ruvic/Reuters

Nessa rede social, Bukele anunciou, em meados de novembro de 2022, que seu governo começaria a comprar um bitcoin por dia, mas 295 dias se passaram, e as autoridades não confirmaram essa compra.

As reservas de bitcoin de El Salvador custaram cerca de US$ 107 milhões, mas devido às flutuações no valor do criptoativo, atualmente valem cerca de US$ 61,3 milhões, uma desvalorização de 43%.

Em 2022, também era esperado que o governo emitisse títulos de bitcoin, conhecidos como “Bonos Volcán”, no valor de US$ 1 bilhão para financiar a construção da “Bitcóin City”, na região leste do país, mas esse movimento financeiro não foi realizado e o projeto nunca saiu do papel.

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Bitcoin para financiar campanhas?

Em 2024, El Salvador realizará a próxima edição das suas eleições gerais, e Bukele, apesar das alegações de inconstitucionalidade, buscará sua reeleição para mais cinco anos de mandato.

Segundo Eduardo Escobar, diretor da organização Ação Cidadã, o país irá novamente às urnas “com a porta e as janelas abertas para que o crime organizado, fundos públicos e governos estrangeiros financiem campanhas eleitorais”.

Ele afirmou que o bitcoin “é permitido para financiar campanhas”, mas “é uma ferramenta que pode ser usada para ocultar a fonte de financiamento”.

Em sua opinião, a adoção dessa criptomoeda “só tem servido (ao governo) para aumentar o grau de opacidade na gestão da coisa pública”.

“Também serviu para promover uma imagem de El Salvador moderno, mas na realidade é apenas uma questão propagandística”, observou.

Economia cresceu 10% em 2021

A economia de El Salvador cresceu 10,3% em 2021, de acordo com dados do Banco Central de Reserva (BCR), mas economistas atribuem isso à recuperação econômica no pós-pandemia de covid-19 e não à adoção do bitcoin como instrumento monetário oficial.

Em 2022, a economia do país da América Central cresceu 2,6%, abaixo dos 2,8% esperados pela atual gestão. Para este ano, a expectativa é de que El Salvador chegue a dezembro com uma expansão econômica entre 2% e 3%, uma das mais baixas da região.

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Desconhece-se a quantidade de empregos gerados pela adoção do bitcoin, bem como sua contribuição para o investimento estrangeiro e privado, uma vez que há pelo menos 97 provedores de serviços registrados, incluindo casas de câmbio reconhecidas.

Além disso, El Salvador registrou uma queda de 28% nas remessas recebidas por meio de carteiras de criptomoedas entre janeiro e julho de 2023, em comparação com o mesmo período de 2022./ EFE

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