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Sócio da Le Lis Blanc e John John ganha prêmios com vinhos portugueses e quer vendê-los no Brasil

Produtos das vinícolas de Marcelo Lima, maior acionista do grupo de moda Veste e da Meltafrio, de refrigeradores, foram reconhecidos na Europa e agora devem chegar com mais força ao País

Por Carlos Eduardo Valim
Atualização:

O empresário Marcelo Faria de Lima é conhecido nos meios corporativos por ser sócio de dois grandes negócios de perfis bastante diferentes: a fabricante de refrigeradores Metalfrio Solutions e o grupo de moda Veste, como foi rebatizada no fim de 2022 a Restoque, dona das marcas Le Lis Blanc, Dudalina e John John. Porém, pela última década, ele vem investindo num mercado ainda mais distinto, que é uma de suas paixões: a produção de vinhos.

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Em parceria com o ex-jornalista e correspondente britânico Tony Smith, formou a Lima & Smith para comprar em 2011 a Quinta da Covela, na região do Minho, em Portugal, de onde saem os vinhos verdes. Dois anos depois, assumiu a Quinta das Tecedeiras, no Douro. Desde então, os seus vinhos vêm colhendo prêmios no país europeu. Agora, Marcelo quer que o brasileiro conheça os resultados de seus esforços na vinicultura lusitana.

Atualmente, cerca de 80% da produção anual de 180 mil garrafas da empresa fica em Portugal. É um reflexo do reconhecimento que os produtos atingiram no país. A Revista de Vinhos, publicação referência do país no setor, já elegeu Lima e Smith como produtores do ano, e alguns de seus rótulos como dos melhores e a revelação do país.

Vinhedo na Quinta das Tecedeiras, na região do Douro, administrada pela Lima & Smith Foto: Divulgação/Lima&Smith

O restante da produção é exportado para diversos países europeus, como a Suíça, Alemanha, Bélgica e Inglaterra. Sobra pouco para o país natal de Lima.

“Como brasileiro, queria que viesse mais para cá. O ideal seria Portugal ficar com metade da produção”, diz o empresário, que falou com o Estadão na semana passada, durante uma viagem que fazia em região próxima a Bodrum, na Turquia, onde se localiza uma produção que atende a Metalfrio. Dois dias depois, Lima visitaria os seus vinhedos em Portugal, antes de voltar ao Brasil.

“Os nossos vinhos merecem ser mais conhecidos no País. Se falar com um bom enólogo ou um especialista, ele nos conhece, mas queremos que mais apreciadores brasileiros de vinho tenham acesso a eles.”

A empresa fechou acordo neste ano com a distribuidora londrina Berkmann Wine Cellars, que agora é a responsável por trazer os seus produtos para o Brasil. Dessa forma, deve se esperar que eles passarão a chegar com mais constância ao País. E isso acontece num momento de retomada desse mercado, que mudou de patamar nos últimos anos, e movimentou R$ 20,1 bilhões de reais em 2022, segundo dados da empresa de pesquisas Ideal BI Consulting, especializada no setor.

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“O consumo de vinho cresceu muito no Brasil durante a pandemia, e depois passou a cair devido ao momento econômico. Agora, há bastante estoques. Mas, com a previsão de queda dos juros, ele deve voltar a crescer”, afirma o CEO da consultoria, Felipe Galtaroça. O mercado total vendia 42,2 milhões de caixas de nove litros, em 2019, e, no ano passado, negociou 54,9 milhões.

Outro empresário brasileiro, que, assim como Lima, “descobriu” recentemente as vinícolas portuguesas, acabou premiado também pela Revista de Vinhos como uma das personalidades do ano de 2022: o mineiro Rubens Menin, controlador da construtora MRV, do Banco Inter e da rede de TV CNN Brasil, além de um dos investidores que está assumindo o clube Atlético Mineiro.

Menin tem investido desde 2018, por meio da Menin Wine Company, no Douro. Além deles, na última década, também André Esteves, maior acionista do BTG Pactual, e Alberto Weisser, ex-presidente da gigante de commodities Bunge, colocaram os pés e os bolsos em vinícolas portuguesas.

As quintas do país, que virou, nos últimos anos, um local da moda para brasileiros que desejam mudar de país e para turistas americanos e europeus, se tornaram um bom negócio para empresários apaixonados pela tradicional bebida. Afinal, Portugal traz a vantagem de oferecer vinhos, tradição e terrenos de boa qualidade no Velho Mundo sem os preços da França.

Vinhedo na Quinta da Covela, comprada por Marcelo Lima em 2011, na região apelidada de Verde Douro Foto: Divulgação/Lima&Smith

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Essa tendência pode ajudar nos planos de Lima, assim como alguns dos diferenciais de seus vinhedos, que chamam a atenção do mercado. Um dos motivos do reconhecimento do trabalho da empresa está na localização de suas vinícolas. A Quinta das Tecedeiras produz um tradicional tinto da região Douro, além de brancos e fortificados, considerados de bom custo benefício. Já a Quinta da Covela traz um histórico de inovação em vinicultura sustentável. Saem de lá brancos e rosés com cultivo orgânico.

Além disso, a propriedade traz a curiosidade de ter pertencido ao mais importante cineasta da história do país, Manoel de Oliveira (1908-2015), que filmou até depois dos 100 anos, fez obras clássicas como Aniki Bobó (1942) e Vale Abraão (1993), e foi premiado em grandes festivais como o de Cannes.

A sua localização é fora do padrão para a região dos vinhos verdes. Fica bem ao sul da região demarcada, na fronteira com onde se inicia a denominação do Douro, às margens do famoso rio de mesmo nome. “A gente e alguns jornalistas especializados chamamos a região onde fica a Covela de Douro Verde”, diz Lima. “Ela tem a característica de chover muito menos do que na região do verde, mas mais do que na do Douro.”

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Assim, nesse terroir, a Covelo consegue trazer um produto diferente que vem ganhando destaque. “Ela é um exemplo de que é possível fazer bons vinhos da região do verde fora do Alvarinho, bem ao Norte do país”, diz Suzana Barelli, jornalista especializada em vinhos e colunista do Estadão. “Os vinhos verdes, apesar de muito vendidos no Brasil, eram conhecidos por serem simples e de menos prestígio do que os do Alentejo e Douro, mas vinhos com uvas como a avesso, utilizada na Covela, estão mudando isso.”

Não só o terroir explica as inovações da empresa de Lima. Ela também conta com o trabalho do enólogo português Rui Cunha, que desenvolve os vinhedos da empresa e que trabalha desde 1991 na Covela. Em 2022, foi a vez dele também receber uma premiação pela Revista dos Vinhos, ao ser eleito o melhor enólogo do ano no país. “Rui gosta de experimentar”, diz Lima. Ele foi pioneiro em levar para o norte de Portugal uvas francesas famosas e que eram pouco utilizadas na região, como chardonnay e viognier.

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O vinho português também tem ganhado mais destaque na mesa do consumidor brasileiro. Apesar do valor do euro, ele é o terceiro mais consumido pelo brasileiro, dentre os vinhos finos, sem contabilizar os de mesa. Fica atrás apenas do chileno e do argentino, mas à frente até mesmo do produto brasileiro. Neste ano, os portugueses responderam por 17% do volume e 15,5% do valor das importações brasileiras, segundo a Ideal BI Consulting.

Na mão inversa, o Brasil se tornou, este ano, o terceiro maior mercado para as exportações de rótulos portuguesas, atrás apenas de França e Estados Unidos, e à frente da Inglaterra. Entre janeiro e abril, o Brasil comprou 7,7% das exportações totais.

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