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Novo eixo de indústrias, ‘Corredor Campinas-Sorocaba’ desacelera

Itu, Salto e Indaiatuba são aposta de imobiliárias após promessa de desenvolvimento, mas planos atrasam com queda de produção

Por Túlio Kruse
Atualização:

A extensa malha rodoviária, territórios livres à beira de estradas e a proximidade com grandes centros urbanos fazem das cidades de Itu, Salto e Indaiatuba uma espécie de Jardim do Éden para a indústria, mas, em meio à crise econômica, o desenvolvimento da região têm ficado abaixo do esperado. A expectativa de que um novo eixo industrial se formasse entre Campinas e Sorocaba fez com que o mercado imobiliário apostasse em novos empreendimentos no local. Até agora, porém, a região ainda não decolou.

A atual crise econômica atrasou os planos de investimento para a área, que ainda tem potencial para crescer. Se nos últimos três anos ao menos 12 novas indústrias se instalaram no entorno de Itu, o índice de emprego na indústria da região metropolitana de Sorocaba despencou mais de 10%, abaixo da média do Estado, que caiu 8,7%.

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Um dos principais fatores que atraiu investidores do mercado imobiliário foi o anúncio de que a chinesa Foxconn, fabricante de componentes eletrônicos que tem a Apple como sua principal cliente, iria se instalar na região. A construtora Conspar Urbanismo, por exemplo, lançou dois condomínios em Itu, cidade de 154 mil habitantes, de olho em novos moradores e empresas que a multinacional iria atrair. A conclusão da fábrica, porém, foi adiada de 2016 para até 2020, e a Conspar hoje diz que o ritmo de vendas dos terrenos vai pior do que o esperado. De um total de 177 lotes de um condomínio comercial voltado para médias empresas, cerca de de 30 foram foram vendidos.

“As vendas não estão a mil maravilhas em virtude da situação econômica do País”, justifica o diretor de marketing da Conspar, Marcus Cunha. A empresa está confiante de que a região de Itu continua estratégia e será a ‘bola da vez’ do investimento no Estado assim que o mercado reaquecer. Além do empreendimento comercial - que Cunha diz ser focados em “empresas satélites” que as multinacionais na região vão atrair” -, a Conspar aposta mais alto e lança neste mês um condomínio residencial próximo ao centro da cidade com capacidade para abrigar em média 1500 novos moradores, de olho nos empregos que a indústria da cidade iria atrair. “É o eixo de desenvolvimento de todas as cidades no entorno (Campinas, Sorocaba e Jundiaí), o vetor de crescimento delas todas estão sinalizando para dentro de Itu.”

A avaliação é confirmada por estudos de urbanismo feitos recentemente sobre a região. Autores de um artigo sobre o processo de conurbação das regiões metropolitanas no interior paulista, o professor Wilson Santos Junior e o doutorando Anderson Proença, do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da PUC-Campinas, dizem que a ligação entre Campinas e Sorocaba é o corredor “que mais se desenvolve” entre as zonas metropolitanas. “Itu é um pólo potencial de desenvolvimento, assim como suas vizinhas cidades que deverão receber progressivamente  mais investimentos nas atividades industriais e logísticas”, disseram os pesquisadores por escrito ao Estado.

Fotomontagem mostra futuro empreendimento da Conspar Urbanismo para atender indústrias em Itu, o Bethaville 3, às margens da Rodovia Santos Dumont. Foto: Conspar Urbanismo/Reprodução

Lentidão. Para o principal concorrente no ramo imobiliário da Conspar em Itu, o investimento da indústria em Itu está muito abaixo do esperado. Sócio administrativo da Fonseca Imóveis, Fernando Berti diz que houve o mercado espera a expectativa gerada pela administração municipal ser cumprida, mas que empreendimentos nas cidades vizinhas ainda tem levado moradores a Itu.  “A indústria que há quatro anos vem gerando uma expectativa para Itu, até agora, não foi implementada”, disse Berti. “A gente vê muito mais industria em Salto e em Indaiatuba, então acabamos absorvendo esse publico. A pessoa acaba trabalhando em Salto, que é muito proximo, e o metro quadrado em Itu acaba valendo a pena.”

Questionada sobre o assunto, a prefeitura de Itu disse que procura manter equilíbrio nos índices de empregabilidade e adota medidas para o enfrentamento da crise econômica no País, ou seja, “mitigação de custos e aproveitamento máximo da estrutura existente” para enfrentar a crise econômica.

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“A desaceleração no ritmo desse crescimento está atrelada ao atual panorama recessivo do Brasil. Apesar disso, de acordo com a Secretaria Municipal de Apoio ao Emprego e Incentivo ao Desenvolvimento Empresarial, novas empresas estão negociando suas vindas para Itu”, disse a prefeitura em nota.

Pátio da fábrica de empilhadeiras Nacco, uma das indústrias que se instalou no Corredor Campinas-Sorocaba nos últimos anos, inaugurada em Itu em abril de 2015. Foto: Bruno Santos/A2

Futuro. A maior preocupação de Junior e Proença no processo de conurbação, no entanto, é com as políticas públicas de ocupação do solo e a infraestrutura oferecida pelo governo. “A ação das empresas tem sido mais determinante visto que não existe de fato um protagonismo do Governo do Estado no planejamento territorial metropolitano”, eles dizem.

Para resolver os problemas de fragmentação das decisões, tomadas de forma independente pelas prefeituras da região, e também do que chamam de “guerra fiscal predatória” que envolve a disputa por investimento entre as cidades, os pesquisadores propõem a criação de uma “Agência de Governança Metropolitana”. Essa agência teria a participação de  representantes de cada cidade. “No nosso entender, o que é mais crítico e urgente para ser equacionado neste veloz processo de transformação dos territórios metropolitanos é a construção compartilhada  de um modelo de governança metropolitana, a exemplo de vários países que adotaram este caminho”, escreveram os pesquisadores, que também se disseram preocupados com a estrutura de abastecimento de água da cidade.

Obras de canalização do Córrego Guaraú, em Itu, onde a empresa responsável pelo abastecimento da cidade, Águas de Itu, está sob intervenção desde junho deste ano. Foto: Daniel Assis Alcântara/Divulgação

Em 2014, Itu foi uma das cidades mais afetadas pela falta d’água. O governo estadual chegou a gastar R$ 20 milhões com a contratação emergencial de 20 caminhões-pipa para abastecer a cidade. A ausência de investimento no abastecimento poderia inviabilizar a chegada de novas indústrias, mas a prefeitura diz que as precauções para evitar esse cenário já foram tomadas.

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A empresa responsável pelo abastecimento da cidade, Águas de Itu, está sob intervenção desde junho deste ano. A prefeitura de Itu diz que a obra de uma adutora com capacidade de captar 280 litros por segundo está em sua fase final de obras. O volume da obra correponde a 60% da capacidade da estação de tratamento que abastece o centro da cidade. “Ao contrário do que se verificava há um ano, o nível dos reservatórios está  acima de 90% da sua capacidade,  o que assegura a garantia no abastecimento”, disse a prefeitura em nota.

Por precaução, o condomínio empresarial em construção pela Conspar tem poços artesianos para socorrer a área em casos emergenciais, uma exigência da prefeitura. “Se houver falta d'água vamos pedir permissão para ativá-los, mas por enquanto não será necessário", diz Marcus Cunha, da Conspar.

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