ANTONIO CORRÊADE LACERDATodos que tomamos decisões que envolvem aspectos fora do nosso controle precisamos estar atentos aos novos sinais e às novas tendências que determinarão os rumos da economia brasileira. Rejeite o chavão de que "nada mudou", assim como os preconceitos, e faça uma análise pragmática. São mudanças às vezes sutis, mas que, tudo indica, vieram para ficar e deverão representar novos desafios e oportunidades.As transformações em curso nas políticas econômicas brasileiras apontam para um cenário futuro menos desfavorável à atividade produtiva e aos investimentos. Várias ações foram, ou estão sendo, tomadas para um ambiente mais favorável ao valor agregado local. Destaco algumas delas:Juros: houve redução de cinco pontos na taxa básica Selic nos últimos 12 meses, apontando para um juro real de cerca de 2% ao ano, considerando a expectativa de inflação para os próximos 12 meses. Os juros para o financiamento do BNDES foram reduzidos e há ações em curso para baixar o custo do financiamento privado aos consumidores e às empresas. Essa mudança tem grandes impactos positivos, a começar pela diminuição do custo de financiamento da dívida pública, mas não só. A queda do custo de oportunidade deve favorecer um maior interesse de grandes fundos investidores em diversificar seu portfólio e investir em projetos.Taxa de câmbio: o real desvalorizou-se de R$ 1,60, em julho de 2011, para um nível ao redor de R$ 2. O Banco Central (BC) tem envidado esforços para ações visando a evitar a valorização do real. Os juros mais baixos, as intervenções no mercado e o IOF desestimulam o ingresso de capitais voltados para operações de arbitragem, mas os influxos de investimentos estrangeiros diretos e em portfólio já são suficientes para provocar a valorização da nossa moeda. Isso só não está ocorrendo porque o BC tem estado corretamente atento para evitá-la.Aqui, trata-se de uma mudança de direção importante, pois sinaliza um quadro mais favorável para a produção local, que ganha competitividade relativamente aos produtos importados. Também a exportação de manufaturados é favorecida pelo mesmo motivo.Elevação de alíquotas de importações: embora não seja desejável, o protecionismo reinante no quadro internacional nos obriga a tomar medidas preventivas. Neste campo, todos os países ficam a dever. No mais das vezes, adotam um discurso liberal, mas são protecionistas na prática. O fato é que quem não se cuidar vai acabar pagando uma parcela maior da conta.Redução do custo Brasil: aqui, sim, temos ações para melhora da competitividade sistêmica, com impactos mais amplos. Desonerações tributárias e de encargos incidentes sobre a folha de salários favorecem a competitividade dos produtos brasileiros. Nesse campo, outra medida bem-vinda foi o anúncio da redução do custo da energia elétrica.Concessões públicas: o governo anunciou que ampliará seu programa de concessões na área de infraestrutura, buscando atrair investimentos do setor privado - uma importante ação para viabilizar a eliminação de entraves importantes para o crescimento de longo prazo.É certo que as medidas citadas, embora na direção correta e revelando importantes quebras de paradigma, ainda são insuficientes para garantir um ambiente isonômico relativamente ao praticado internacionalmente. Mas representam importantes mudanças de rota. É preciso que as transformações em curso não sejam só transitórias, mas perenes, para propiciar um cenário mais favorável à produção e aos investimentos.Ao contrário de alguns que veem uma deterioração de qualidade da política econômica, os novos rumos apontam para justamente o contrário. O Brasil vem respondendo bem à desordem econômico-financeira que se estabeleceu depois das crises americana e europeia. As transformações domésticas em curso também refletem o cenário de exceção em voga na maior parte do mundo. E, se não as fizéssemos, estaríamos numa situação muito pior do que estamos.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.