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Para Brasil crescer mais, juros têm de cair mais, afirma presidente da Febraban

Presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Murilo Portugal, afirmou que o segmento é a favor de mais competição e da livre iniciativa

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Por Aline Bronzati (Broadcast), Cynthia Decloedt (Broadcast) e Fernanda Guimarães
Atualização:

Para um crescimento mais robusto da economia brasileira será preciso uma queda mais forte dos juros, afirmou o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal. “A função dos bancos é emprestar para financiar a produção, o consumo e o investimento. Quem empresta quer emprestar para o maior número de pessoas e empresas, aumentando o volume de negócios e reduzindo os riscos. Quanto menores forem os juros, mais pessoas poderão usar o crédito”, disse, em almoço anual da entidade, que reúne dos dirigentes das instituições financeiras do País.

Portugal disse ainda que houve avanços no âmbito do ajuste fiscal ao longo dos últimos dois anos e que a expectativa é de que uma reforma da previdência possa ser alcançada em 2019.

Um crescimento mais robusto da economia brasileira depende de uma queda mais forte dos juros. Foto: Christina Rufatto

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Portugal disse que 2018 foi o segundo ano de recuperação do crescimento econômico após uma das mais profundas recessões da história do Brasil, mas que o crescimento registrado, contudo, ficou aquém do que se esperava no final do ano passado. “Mas vimos a partir de outubro um afrouxamento das condições financeiras, com queda das taxas de juros de mercado, apreciação do Real, elevação da bolsa de valores e dos preços de ativos brasileiros, e uma melhora dos indicadores de confiança de empresários e consumidores que já se refletem em sinais de aceleração da atividade econômica e do emprego”, destaca.

Segundo ele, o mercado de crédito continua em gradual recuperação, influenciado pelo crédito livre aos consumidores. “A despeito de flutuações mensais, há recuperação nas novas concessões, com expansão do crédito ao consumidor, especialmente consignado e veículos, e retomada do crédito para as grandes empresas e em linhas como desconto de duplicatas, enquanto o crédito direcionado continua em queda”, disse. A projeção, destacou, é de que expansão do crédito deve se acelerar em 2019 diante da aceleração do crescimento do PIB.

O presidente da Febraban disse também em seu discurso que apesar das “circunstâncias conjunturais” não terem ajudado pra uma aceleração mais forte do crescimento, o Brasil anotou nos dois últimos anos, durante o governo de Michel Temer, um início do ajuste fiscal. “Na área econômica, o governo Temer deixa um legado positivo construído em pouco mais de dois anos de mandato. A equipe econômica assumiu com um déficit primário de cerca de 2,5% do PIB, que vem sendo gradualmente reduzido há já dois anos, ficando abaixo dos limites anuais estabelecido na LDO. Restaurou a transparência fiscal reconquistando a credibilidade junto aos agentes econômicos no Brasil e no exterior”, afirmou.

Dentro desse escopo, Portugal frisou que o atual governo encaminhou ao Congresso um projeto de reforma da previdência, mas que “ainda não encontrou o necessário apoio político para a sua aprovação”.

“Mas os progressos alcançados mostram que, com o empenho do governo, o apoio do Congresso, e o esclarecimento da sociedade, é possível avançar nas reformas das quais precisamos para crescer mais rápido e gerar mais empregos. Isso fortalece nossa esperança de que uma reforma eficaz da previdência social possa ser alcançada no próximo ano”, destacou.

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Dentre os feitos da atual equipe econômica, o presidente da Febraban salientou ainda o controle sobre a inflação. “A forte redução da inflação corrente, a ancoragem à meta das expectativas da inflação futura, e a consequente queda da taxa de juros para nível historicamente baixo devem-se muito à competência e à credibilidade pessoal que o Presidente Ilan trouxe à condução da política monetária, sabendo aproveitar com maestria a conjuntura para travar permanentemente estes ganhos propondo ao Conselho Monetário Nacional reduções da meta de inflação para os próximos anos”, disse.

Ainda em seu discurso, o presidente da Febraban disse que houve avanço da agenda BC+, “com medidas para aumentar a inclusão financeira; para reduzir o custo do crédito, para aprimorar a regulamentação financeira, e para aproveitar as extraordinárias oportunidades abertas pela revolução digital”.

Nova proposta para redução do spread

Portugal ainda anunciou nesta terça-feira, 4, uma nova iniciativa do setor bancário para reduzir os spreads, diferença de quanto um banco paga para captar e o quanto cobra para emprestar. A proposta, conforme ele, está sendo apresentada ao novo governo, ao Congresso, ao Judiciário e à sociedade por meio de um livro e visa a permitir que as instituições financeiras reduzam mais os juros e os spreads cobrados no País.

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“Para reduzir mais rápido os juros no Brasil é preciso reduzir os custos da intermediação financeira, que aqui são mais elevados do que em outros países, e incentivar a competição no setor bancário para facilitar que estas reduções de custo sejam repassadas aos clientes”, destacou o presidente da Febraban, em discurso ao setor, durante evento de fim de ano da entidade, acrescentando que o segmento é a favor de mais competição e da livre iniciativa e apoiarão medidas não discriminatórias que visem a elevar a competição e eficiência no setor bancário.

Ele reforçou, contudo, a necessidade de reduzir os custos da intermediação financeira que incluem gastos associados à inadimplência, à insegurança jurídica na recuperação das garantias, à tributação, custos regulatórios e operacionais que, conforme Portugal, são muito elevados no Brasil e mais altos do que em outros países. “A maior parte desses custos não pode ser reduzida apenas com mais competição porque decorrem de leis, regulamentos e fatores institucionais”, justificou ele.

De acordo com Portugal, foi com o intuito de ajudar a reduzir os juros e os spreads no Brasil que a Febraban resumiu suas propostas em um livro lançado no tradicional almoço de fim de ano da entidade. A obra estará disponível na internet como e-book e será distribuído gratuitamente em forma física em livrarias.

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O presidente da Febraban afirmou que o livro traz o diagnóstico do setor sobre a situação, mas que não é apenas “uma lista de problemas”. Segundo ele, algumas das propostas compiladas no livro já foram apresentadas por parlamentares e técnicos, no Congresso e no Executivo.

Portugal informou ainda que a Febraban vai iniciar uma campanha de mídia na televisão, no rádio, jornais e revistas para levar o tema de redução dos juros e spreads ao conhecimento do público em geral. “Precisamos todos trabalhar juntos para deixarmos de ser parte desse problema e fazermos parte da solução. Listamos propostas que queremos ver discutidas e aperfeiçoadas numa discussão técnica. Não é possível fazer isso sozinho, mas, trabalhando juntos e de forma coordenada, podemos baixar mais os juros para o Brasil crescer mais”, enfatizou o presidente da Febraban.

De acordo com ele, o País não pode esperar. É preciso, conforme Portugal, aproveitar o momento atual, de aceleração do crescimento para fazer as reformas macro e microeconômicas necessárias.

'Fomos tímidos na comunicação sobre spread bancário'

A Febraban tem sido tímida na discussão com a sociedade sobre a queda do spread bancário, disse o presidente da Febraban ao comentar sobre o livro “Como fazer os juros serem mais baixos no Brasil”, lancado nesta terça-feira. “Ter maior engajamento é o caminho adotado nas sociedades modernas”, afirmou, lembrando que a contribuição da Febraban é técnica e que a entidade quer falar, mas também ouvir.

Portugal observou que os bancos, como qualquer empresa privada, querem ter lucro, mas não gostam de juro alto, já que com taxa baixa o número de empréstimos aumenta e o risco cai.

Ele afirmou que, embora a opinião que prevalece é a de que a falta de competição e a concentração favorecem o juro elevado, estudos mostram o contrário. Nesse sentido, notou que a concentração bancária no Brasil é moderada comparada a outros setores, estando atrás de setores como papel e celulose, óleo e gás, metalurgia e outros. Ele disse ainda que em relação a outros países está em quinto lugar, segundo ranking internacional.

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O presidente da Febraban disse que na literatura não há correlação entre concentração e juro mais alto. “Há países com mercados mais concentrados e spreads mais baixos. O importante não é a concentração mas a competição”, frisou.

Ele frisou também que o lucro dos bancos são elevados em termos nominais, mas que em relação ao investido a taxa média é de 12,5%.

Novo governo inicia com perspectivas favoráveis

Além de representar mais um passo no fortalecimento da democracia, as eleições já tiveram importante e positiva repercussão econômica, criando a oportunidade de o País continuar a avançar na agenda de reformas, afirmou o presidente da Febraban.

Após saudar os governantes eleitos, em especial, o presidente Jair Bolsonaro, o governador do Estado de São Paulo, João Dória, e a equipe econômica já nomeada pelo presidente eleito, Portugal disse que o setor bancário e a Febraban "trabalharão com empenho e em sintonia com as novas autoridades constituídas dando a nossa melhor contribuição para o desenvolvimento econômico e social do nosso País".

"O novo governo que se inicia no próximo ano foi recebido com expectativas favoráveis pelos mercados, por seu compromisso explícito com as reformas econômicas liberais, compromisso confirmado pela escolha de uma equipe econômica de grande envergadura intelectual, que tem o diagnóstico correto do que precisa ser feito para enfrentar os nossos desafios econômicos", disse.

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