Percepção de pobreza dos brasileiros vai aumentar, diz Armando Castelar

Pesquisador do Ibre/FGV diz que País precisa criar ocupações de mais qualidade para voltar a enriquecer

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Foto do author Luiz Guilherme  Gerbelli
Atualização:
Foto: Marcos Arcoverde/Estadão
Entrevista comArmando Castelarpesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Armando Castelar avalia que a sensação de pobreza entre os brasileiros pode crescer nos próximos anos.

O Brasil já tem um Produto Interno Bruto (PIB) per capita menor do que o da China e corre o risco de ser ultrapassado pela Índia no futuro. Se esse cenário se confirmar, cerca de 40% da população global estará na frente do Brasil, destaca Castelar.

“O Brasil vai se tornar um país pobre, em vez de ser um país de renda média, menos porque o Brasil vai empobrecer, mas mais porque o que é (país) médio vai subir”, afirma.

A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Brasileiro está mais educado, mas não há agenda para criação de vagas qualificadas, diz Castelar Foto: FABIO MOTA/ESTADÃO

Por que o Brasil não cresce?

Na minha leitura, são dois pontos que estão relacionados. O primeiro é que o Brasil investe muito menos do que investiu na média do período entre 1930 e 1980. A infraestrutura é um bom exemplo. No período pré-1980, a expansão da geração de energia elétrica e a extensão de rodovias foram muito mais rápidas do que nos últimos 40 anos. E a segunda resposta é produtividade. Ela cresceu mais rápida nesse outro período do que nos últimos 40 anos. As coisas são, em partes, relacionadas, porque o crescimento da produtividade muito grande, particularmente entre 1950 e 1980, ocorreu com a realocação do trabalhador. A história mais clássica é a da pessoa que estava numa economia de subsistência na agricultura e foi trabalhar na indústria, na construção, em setores em que ela era muito mais produtiva.

Essa agenda de investimento e produtividade tem sido endereçada hoje?

É óbvio que se tem conhecimento da prioridade do investimento de infraestrutura, mas ele não acontece. Na verdade, tem sido até mais baixo nos últimos 10 anos do que nos 10 anos anteriores. Você está andando para trás, por mais que se reconheça a importância do investimento em infraestrutura. Em outras áreas, eu acho que a gente teria de evoluir mais. Qual é o problema do Brasil? Tem uma curva muito fantástica que é olhar o que acontece com a escolaridade do brasileiro e o que acontece com a produtividade do trabalhador. A escolaridade do trabalhador brasileiro aumentou bastante, felizmente, mas a produtividade dele cresceu muito menos.

Qual é a consequência disso?

Você educou melhor o trabalhador, o que é bom para a vida dele como um todo, mas você o coloca em ocupações em que ele é pouco produtivo. É o oposto do cenário pré-1980. Se o País não dá oportunidade para o trabalhador estar numa ocupação em que ele é mais produtivo, essa educação não vira produtividade. A educação é boa por várias dimensões, não só para a produtividade, mas não há uma agenda de criação de ocupações produtivas para os trabalhadores. E onde é que estão as ocupações produtivas? Em empresas grandes, com muito capital, tecnologia, boa gestão. No fundo, o Brasil teria de ter uma política que aceitasse fechar ocupações de baixa produtividade. O País tem muita empresa improdutiva e a política é de proteger a empresa improdutiva que não consegue competir com a produtiva.

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Essa proteção vem via o Simples, por exemplo?

Por exemplo. Em economia, existe ganho de escala, a questão do capital é importante, da gestão é importante. Empresas pequenas são tipicamente de baixa tecnologia, de pouco capital, até porque não têm tamanho para ter grandes sistemas de gestão.

E como conduzir essa transição na economia brasileira?

É difícil. Você tem muita insegurança jurídica no Brasil, que é uma coisa que atrapalha muito. Tem um custo de capital elevado. De fato, existem fundamentos macro que atrapalham, preferências políticas que atrapalham. Isso não vai mudar sem que haja uma mudança muito grande no modelo, mas também tem coisas que estão ajudando.

País tem política de proteger a empresa improdutiva, afirma Castelar Foto: Marcos Arcoverde/ESTADÃO

O que tem ajudado?

A reforma trabalhista, por exemplo, está aumentando a formalização da força de trabalho. Formalização é importante. O trabalhador tem menos rotatividade, e a empresa investe mais no treinamento dele. Tudo isso ajuda.

Diante desse cenário de PIB per capita estagnado, quais podem ser as consequências para o Brasil?

Há uns anos, o Brasil estava bem no ponto mediano de renda. E está andando para trás, tem muito país passando o Brasil. Se esse processo continuar, o Brasil vai se tornar um país pobre, em vez de ser um país de renda média, menos porque o Brasil vai empobrecer, mas mais porque o que é (país) médio vai subir. A China tinha um PIB per capita que era uma fração do nosso há 20 anos. Hoje em dia, tem um PIB per capita mais alto. A Índia ainda está um pouco longe, mas, no ritmo atual, vai passar a gente também. Com a China e se Índia passar, os dois países representam 40% da população mundial. A percepção de pobreza vai aumentar. Eu acho até que o Brasil continua crescendo vagarosamente, tem potencial de crescer um pouquinho, mas muito pouco. Tem um outro fator que é importante que é o seguinte: nos últimos 40 anos, a gente tinha bônus demográfico

Como isso afeta a economia?

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Antes, você tinha uma casa com quatro pessoas morando e duas trabalhando. Depois, passou para uma casa com quatro pessoas morando e três trabalhando. O PIB per capita dessa casa subia porque tinha uma proporção maior de gente na casa trabalhando. Ao longo dos últimos 40 anos, isso ajudou bastante. Tinha mais gente gerando PIB. Isso acabou. O potencial daqui para frente é mais reduzido.

Isso implica mais reforma, abrir a economia para mudar esse cenário?

De alguma forma, você precisa criar as ocupações em que o trabalhador pode ser produtivo. Também tem um problema que é o seguinte: às vezes você faz a reforma que aumenta a produtividade de alguns setores, mas isso simplesmente desloca o trabalhador para uma outra ocupação em que ele é pouco produtivo. Se for uma coisa que aumenta a produtividade na indústria, mas a pessoa vai trabalhar em serviço informal, a produtividade da economia sobe pouco. É preciso criar liquidamente mais ocupações de qualidade.

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