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Petrobrás ficou com 25% do aumento do crédito às empresas em outubro

Operações da estatal com a Caixa e o BB somaram R$ 2,7 bi, enquanto a expansão do crédito foi de R$ 10,6 bi

Por Lu Aiko Otta
Atualização:

Os empréstimos tomados pela Petrobrás à Caixa Econômica Federal e ao Banco do Brasil respondem por um quarto de toda a expansão do crédito concedido às empresas em outubro. De acordo com dados do Banco Central, o saldo dos financiamentos à pessoa jurídica em aberto naquele mês em todo o sistema financeiro nacional era de R$ 379,1 bilhões, ante R$ 368,5 bilhões em setembro. Houve, portanto, expansão de R$ 10,6 bilhões. As operações da Petrobrás com os bancos oficiais somam cerca de R$ 2,7 bilhões, o equivalente a 25,5% do crescimento no período. O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) aponta o socorro dos bancos oficiais à estatal petrolífera como um indício de que a Petrobrás enfrenta dificuldades financeiras. Ele afirmou anteontem que a empresa tem atrasado pagamentos a fornecedores. Além disso, segundo o senador, as operações de crédito podem estar em desacordo com normas do Conselho Monetário Nacional (CMN), que fixa limites para o endividamento do setor público e para o montante que os bancos podem emprestar. A Petrobrás nega atraso de pagamentos e diz que os empréstimos são operações "corriqueiras". Os empréstimos à Petrobrás não são vistos como anormais pelo mercado financeiro. "Tecnicamente, ela tem todas as justificativas para ter feito isso", comentou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. "A Petrobrás teve seus preços violentamente onerados de uma hora para outra." A estatal importa petróleo e, com a alta do dólar, seus custos subiram. Ele acha que o fato de ela ter procurado os bancos oficiais é natural, principalmente porque na época em que os contratos foram firmados - fim de outubro - havia forte escassez de empréstimos. "A idéia das intervenções do governo no mercado financeiro é essa mesmo, desafogar a falta de crédito." As críticas à suposta má gestão da estatal petrolífera podem conter alguma dose de oportunismo, avalia Gonçalves. "Vão ter de dizer o mesmo em relação à Vale do Rio Doce", ironizou. Mas, como boa parte dos analistas de mercado, ele mantém um pé atrás. "Se tem malandragem ou não, não tenho a mais remota capacidade de analisar." Os bancos oficiais afirmam que os empréstimos foram operações corriqueiras. A Caixa, que emprestou à estatal R$ 2,022 bilhões para capital de giro, informou que tem outras grandes empresas na carteira de clientes - procurando mostrar, com isso, que não se dedica só a financiar habitação e saneamento. De janeiro a outubro, a instituição emprestou R$ 80 bilhões. O empréstimo à Petrobras é, portanto, 2,5% do total. O volume emprestado pela Caixa corresponde também a 3,8% dos R$ 52,2 bilhões em depósitos compulsórios liberados pelo Banco Central em outubro. Segundo informações de Tasso, a estatal tomou US$ 300 milhões em Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC) do Banco do Brasil em 23 de outubro. A instituição não confirma nem nega a informação, devido ao sigilo bancário. Mas, de acordo com informações do mercado, não é a primeira vez que a Petrobrás faz ACC com o banco, que é o principal fornecedor desse tipo de recurso no mercado brasileiro. Em outubro, a instituição bateu seu recorde nas operações de ACC, com um total de US$ 1,444 bilhão. Desses, 20,7% foram para a Petrobrás.

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