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Projeto de dança coloca pessoas com deficiência no centro do palco

Criada há dez anos, escola de dança Movimentarte tem hoje cem estudantes com Síndrome de Down; cinco bailarinos já se profissionalizaram no setor

Foto do author Wesley Gonsalves

Durante a graduação em dança na Universidade de Campinas (Unicamp), a então estudante Flora Bitancourt decidiu que criaria um projeto para colocar as pessoas para dançar, independentemente de dificuldades, diferenças ou deficiências. O que começou como um trabalho de conclusão de curso transformou-se no Instituto Movimentarte, uma escola de dança inclusiva, focada em ensinar arte para pessoas com Síndrome de Down. “O que me fez criar o Movimentarte não foi a sensação de estar ajudando, mas a sensação de aprender o tempo todo com eles”, afirma.

Projeto foi idealizado por Flora Bitancourt atende atualmente 100 alunos com Síndrome de Down. Expectativa do projeto é chegar a 500 estudantes.  Foto: Marcelo Chello

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Flora explica que a ideia do projeto nasceu durante um intercâmbio em Portugal. Na ocasião, a então universitária teve seu primeiro contato com o conceito de dançaterapia na Universidade de Lisboa. De volta ao Brasil, ela desenvolveu seu trabalho de conclusão de curso aplicando a teoria à realidade de pessoas com deficiência no País.

A professora de dança conta que sua ligação inicial com o universo das pessoas com Síndrome de Down se deu por um primo de terceiro grau, o que acabou direcionando sua atuação nos anos seguintes – apesar de o projeto ser aberto para todas as pessoas com deficiência. No início, em 2012, o projeto de dança começou com apenas cinco alunos, hoje instituição atende cerca de 100 crianças, adolescentes e adultos.

Esse tipo de iniciativa é essencial para desconstruir cenários de capacitismo e desmistificar vieses inconscientes de que as pessoas são limitadas a partir de suas deficiências

Simone Freire, idealizadora do Movimento Web Para Todos

Atualmente, o Movimentarte angaria os cerca de R$ 60 mil mensais necessários à sua operação por meio de parcerias com empresas privadas e de doações de pessoas físicas. “O que nós queremos é continuar dançando e transformando a realidade das pessoas”, enfatiza.

Da socialização à profissionalização

Com o passar dos anos, o projeto cresceu, virou uma ONG e se transformou em um polo de formação profissional. Após se apresentar com os alunos em festivais internacionais de dança em Portugal, no Chile e na Áustria, a professora percebeu a evolução técnica do grupo quis inscrevê-lo para solicitar o registro profissionais na Delegacia Regional do Trabalho (DRT), algo essencial para o trabalho remunerado com arte no País.

Depois de 10 anos, projeto vai se transformar na Casa de Cultura Movimentarte, com aulas de teatro, dança e canto para pessoas com e sem deficiência.  Foto: Marcelo Chello/Estadão

“Quando eu fiz as inscrições eu não coloquei que eles eram bailarinos com Síndrome de Down. A banca avaliadora descobriu apenas na hora das apresentações das coreografias”, lembra. “Eu queria que eles fossem vistos como artistas dentro da cultura brasileira, não com um olhar de assistencialismo”.

Atualmente, a Movimentarte tem cinco artistas com registro profissional aptos para atuar em peças de teatro, filmes, musicais, espetáculos de dança e comerciais. Segundo a professora de dança, a formação completa do artista na instituição para se atingir o nível técnico necessário para solicitar o DRT pode durar até cinco anos.

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É meu sonho quebrar esse paradigma da inclusão no Brasil, criando espaços de relações humanas de mais respeitos e diversidade

Flora Bittencourt, fundadora do Movimentarte

Próximo ato

Depois de trilhar um caminho como trabalho universitário, projeto social e ONG, Flora se prepara para o seu próximo ato nos palcos: o lançamento da Casa de Cultura Movimentarte. Além do curso de dança, nova fase do programa também oferecerá aulas de teatro, teatro musical e artes para todas as pessoas. “A convivência com a diversidade gera ganhos para todo mundo. O que nós queremos é integrar pessoas com e sem deficiência através da arte”, diz. A fundadora agora quer chegar à marca de 500 bailarinos.

Para Simone Freire, do Movimento Web Para Todos (MWPT), o processo de inclusão de pessoas com deficiência precisar passar por todas as áreas da sociedade, incluindo educação, mercado de trabalho e arte. “Antes de ter uma deficiência, esses alunos são pessoas que têm direito à arte e à diversão”, avalia Simone. “Esse tipo de iniciativa é essencial para desconstruir cenários de capacitismo e desmistificar vieses inconscientes de que as pessoas são limitadas a partir de suas deficiências”.

Para arcar com os cerca de R$ 60 mil reais, projeto criado por Flora precisa de apoio de empresas privadas e doações de pessoas físicas. Foto: Marcelo Chello/Estadão
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