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Demanda por imóveis no Brasil pode disparar no 2º semestre, aponta pesquisa

Segundo levantamento da Datastore, 28,7% dos entrevistados teriam intenção de adquirir um imóvel nos próximos 24 meses; especialista diz que pandemia teve papel determinante no resultado

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Por Bianca Zanatta e O Estado de S.Paulo
Atualização:

Especial para o Estadão

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O mercado imobiliário brasileiro pode viver o melhor semestre do século 21. Segundo a última pesquisa da Datastore, empresa de pesquisas de mercado para o setor imobiliário, que entrevistou 1.647 pessoas entre 4 de junho a 2 de julho, o índice de intenção de compra nos segmentos popular, médio padrão e alto luxo em todo o País chega a 28,7%. Os números indicam que mais de 14,5 milhões de famílias teriam intenção de adquirir um imóvel nos próximos 24 meses.

Para o estatístico Marcus Araujo, presidente e fundador da Datastore, se as condições econômicas atuais forem mantidas e a perspectiva de aumento do PIB no segundo semestre se concretizar, o setor talvez alcance a maior demanda imobiliária da história já entre setembro e outubro deste ano. Ele explica que a probabilidade de fechamento das intenções de compra gira em torno de 13%, o que representa, nesse caso, quase 1,9 milhão de imóveis novos. "Hoje um lançamento no Brasil tem probabilidade de (esgotar) vendas em 8 meses. O mercado está respondendo assim porque existe muito mais demanda do que oferta", analisa. "É uma supervelocidade que já previmos em junho do ano passado."

Parte do bom resultado foi impulsionada pelo crescimento da demanda na região Sudeste, mais especificamente no Estado de São Paulo, que chegou a passar dos 30% de intenção de compra - patamar que não era atingido desde 2011, segundo a Datastore. Para Araujo, a pandemia teve um papel determinante nisso. "As pessoas em casa acabam poupando mais e querem melhorar o ambiente", diz. "O ano de 2021 ainda será pautado pelo investimento na melhoria da moradia, já que a possibilidade de gastos maiores com viagens, por exemplo, deve acontecer apenas no 2.º semestre de 2022 ou em 2023."

Para Marcus Araujo, a pandemia impulsionou o atual cenário de demanda por imóveis. Foto: Alessandro Couto - 02/6/2021

O especialista diz ainda que existe um aspecto futurista no momento do setor, que deve caminhar para grandes mudanças a partir de 2060. "Depois disso, vai ficar como o mercado europeu, em que só os mais velhos compram imóveis e outras gerações veem a locação como opção de vida", prevê. "É uma evolução para um modelo mais desprendido."

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Novo perfil

O mercado já experimenta uma mudança de perfil. Se nas décadas de 1980 e 1990 os principais consumidores de imóveis eram pessoas jovens que priorizavam casamento, filhos e comprar a casa própria, hoje a situação é bem diferente. O especialista aponta que sete novos públicos são responsáveis pelo boom do setor. E apesar de bastante diversos - jovens adultos que querem investir, casais acima de 35 anos que não querem filhos, têm apenas um ou são pais de pets, pessoas LGBTQIA+, a turma com mais de 60 anos e a geração digital -, eles possuem um traço comum: a valorização dos serviços e da tecnologia.

"É a primeira vez que temos a tecnologia definindo como serão os imóveis do futuro", diz Araujo. Segundo ele, nos anos 80 e 90, o que importava para os consumidores era a segurança; nos anos 2000, o lazer foi a bola da vez, lotando as áreas comuns de opções. "Agora o lazer virou essencial e os serviços se tornaram a nova fronteira, em conexão com a economia digital. O imóvel vai muito além do metro quadrado", afirma.

Compradores

O primeiro público de novos consumidores de imóveis destacado pelo presidente da Datastore são os adultos solteiros que têm entre 25 e 35 anos. Ativos no mercado de trabalho, eles vivem com os pais ou amigos e pensam em se casar mais tarde. Segundo o executivo, esse grupo acaba tendo sobra de dinheiro e passou a investir em imóveis compactos ou estúdios com o intuito de alugar e gerar renda.

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Os casais com mais de 35 anos formam três públicos distintos. Há os que decidiram não ter filhos, gostam de viajar e fazer compras e buscam apartamentos mais práticos e modernos, como os que contam com elevador de delivery. Depois vêm os casais com um único filho, que também querem imóveis compactos, só que bem equipados, com home office, varanda gourmet e estrutura de lazer para a família. Por fim, Há os casais que têm pets como filhos. "Nos próximos dez anos, as pessoas comprarão muito mais coleiras que mamadeiras", diz Araujo. "É um público que procura empreendimentos 'pet friendly'."

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O quinto público, formado por pessoas LGBTQIA+, engloba as características dos quatro anteriores. "Esse nicho tem demanda consistente e não precisa de imóvel específico, mas deseja ser atendido com respeito e dignidade, o que nem sempre acontece", diz. Ele lembra que se trata de um grupo com alto poder aquisitivo, que preza por qualidade, opta por acabamentos de primeira linha e aceita pagar mais para ter conforto.

Um outro grupo que emergiu no novo cenário é o das pessoas com mais de 60 anos, que estão se tornando avós mais tarde ou nem o serão. Sem "netaiada", é um público que investe em longevidade e moradias mais práticas. Não querem apartamentos grandes com altos custos de manutenção e condomínio e desviaram as despesas para saúde e bem-estar. "Eles querem mais viagens e pilates e menos IPTU, condomínio e empregados domésticos", diz Araujo.

O especialista fecha a seleção com o que chama de público do futuro - a turma da era digital, que hoje está na faixa dos 25 anos e adota o estilo de vida "solteiros convictos". Segundo Araujo, eles não moram mais com os pais nem terão filhos porque almejam a individualidade. "Em 2059, os solteiros convictos serão a maioria, segundo estudos publicados em revistas científicas, como The Lancet", destaca. "Eu estimo que as famílias terão menos de duas pessoas em todas as classes sociais, e com isso o mercado vai demandar cada vez mais os imóveis menores, porém confortáveis."

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