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‘Rei do gás’ emplaca jabuti em projeto de energia eólica offshore; inserções podem custar R$ 28 bi

Alteração no projeto tornaria preço do megawatt gerado pelas usinas térmicas mais atrativo, facilitando os leilões dos empreendimentos

Foto do author Iander Porcella
Foto do author Giordanna Neves
Por Iander Porcella (Broadcast) e Giordanna Neves (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA – O empresário Carlos Suarez, conhecido como “rei do gás”, conseguiu emplacar um “jabuti” que no projeto de lei que trata da geração de energia eólica offshore (em alto-mar). A versão mais recente da proposta traz alterações na lei da privatização da Eletrobras que deixam os leilões de contratação de usinas térmicas movidas a gás natural mais favoráveis aos negócios de Suarez.

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“Jabuti” é um jargão usado para se referir a trechos incluídos em propostas legislativas que não têm relação com o conteúdo principal. O objetivo é fazer com que as mudanças sejam aprovadas sem alarde.

Em nota, a Abrace, associação que representa os grandes consumidores de energia, estimou que os “jabutis” incluídos no projeto, como um todo, podem elevar os preços da conta de luz aos consumidores a partir de 2027. O custo pode chegar a um valor superior a R$ 28 bilhões por ano em 2031. A reportagem ainda não conseguiu contato com Suarez.

O projeto das eólicas offshore faz parte da chamada “agenda verde” que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quer votar esta semana para apresentar resultados concretos na Conferência do Clima da ONU (COP-28). O evento ocorre de 30 de novembro a 12 de dezembro, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e o deputado viaja dia 4.

Carlos Suárez conseguiu alteração no texto da lei para favorecer seus negócios de gás Foto: André Valentim / Agência Petrobras

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a inclusão de trechos que beneficiam Suarez no projeto causou polêmica no setor de energia, o que pode fazer com que o relator, deputado Zé Vitor (PL-MG), apresente um novo parecer antes da votação. A Câmara aprovou hoje um requerimento de urgência para o projeto, e a expectativa é que a análise no plenário ocorra nesta quarta-feira, 29.

Dono da Termogás, Suarez patrocinou um “jabuti” na medida provisória (MP) da privatização da Eletrobras, aprovada em 2021, que obriga a contratação de 8 mil megawatts de energia proveniente de usinas térmicas movidas a gás natural, justamente o produto distribuído pela empresa do “rei do gás”.

Os leilões das térmicas, contudo, foram pouco atrativos e fracassaram por falta de interesse das empresas, principalmente no Nordeste, porque não há infraestrutura para transportar o gás.

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Suarez, então, articulou uma alternativa, incluída no projeto das eólicas offshore. O novo “jabuti” altera a metodologia de cálculo do preço do megawatt de gás natural para tornar os leilões mais atrativos. O caso foi revelado pela coluna da jornalista Malu Gaspar, no jornal O Globo, e confirmado pelo Estadão/Broadcast.

De acordo com o texto apresentado pelo relator, a nova metodologia será baseada apenas no preço da molécula do gás natural, sem incluir os gastos com construção de gasodutos e investimento em infraestrutura para transportar a energia.

Isso porque, pelo “jabuti”, será permitido que distribuidoras enviem gás às térmicas por meio de chamadas públicas, sem o custo que haveria com transportadoras, por exemplo. A mudança beneficia Suarez porque, ao deixar de considerar os custos do transporte, o processo fica mais atrativo economicamente.

“Será realizada a contratação pelo poder concedente de geração termoelétrica movida a gás natural, na modalidade de contratação de reserva de capacidade (...) considerando na composição do preço de geração a ser calculado pela EPE o valor da molécula de gás entregue na central de geração”, diz o trecho do projeto de lei.

No ano passado, o empresário também tentou emplacar no Congresso um “jabuti” que destinaria R$ 100 bilhões do pré-sal para a construção de uma rede de gasodutos que viabilizasse o transporte do gás natural distribuído pela Termogas.

O caso, revelado pelo Estadão, ficou conhecido como “Centrãoduto” e levou os parlamentares a engavetar o projeto, que inicialmente tratava da modernização do setor elétrico.

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