O adiamento do teste no Senado de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central faz zero diferença para as expectativas em torno do Copom, mas dá mais um atestado de dificuldade política do governo ao mercado. Diretor de Política Monetária, ele até ganharia algum verniz na reputação que vem construindo desde que subiu o tom contra a inflação caso sabatinado até a decisão sobre a Selic, no próximo dia 18. O mercado, contudo, já tem precificado um aumento próximo do juro básico. Já a sensação de clima desfavorável no Congresso piora a avaliação do andamento da agenda econômica.
A avaliação é que isso só prova que o governo não consegue avançar muito nas suas pautas no Congresso ou com muita rapidez. Um analista de mercado lembra que a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) está sendo questionada pelo próprio relator, e que o adiamento é só mais uma demonstração de que o ambiente, principalmente no Senado, não é tão amigável assim.
Nas mesas de operação, a corrida do governo para tentar marcar no início de setembro a sabatina de Galípolo no Senado chegou a ser vista como a chance de ele já ser “presidente” do BC no possível início do ciclo de elevação da Selic neste mês. Um presidente virtual, pois o mandato do atual, Roberto Campos Neto, vai até dezembro. O aval dos senadores, porém, representaria mais um ato simbólico, sem efeito prático ou impactos maiores. Dado que Galípolo foi indicado pelo presidente Lula e ninguém acredita em rejeição, o mercado deu como irrelevante sabatinar antes ou depois do Copom.
Até porque Galípolo já passou pelo crivo dos senadores quando indicado a diretor de Política Monetária, com aprovação da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado (23 votos a 2) e do plenário (39 votos a 12 e uma abstenção) no mesmo dia, em 4 de julho do ano passado.
Agora, em boa medida, a possibilidade de uma sabatina às vésperas do comitê foi desconsiderada pela proximidade do período de silêncio do Copom, mesmo com a defesa pelo presidente da CAE, Vanderlan Cardoso. Pelo silêncio, de quarta-feira da semana que vem até a publicação da ata do Copom, às 8 horas do dia 24, nem o presidente nem os diretores do Banco Central podem se manifestar sobre qualquer assunto que possa influenciar ou ser influenciado pela decisão da Selic, incluindo juros e câmbio.
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O calendário eleitoral também não faz diferença. Nesta quarta-feira, 4, o Senado definiu 8 de outubro, após o primeiro turno das eleições municipais, como a data de votação da indicação de Galípolo em plenário, estabelecendo prazo limite para a sabatina, já que ela tem de ocorrer até essa data. O agendamento cabe a Cardoso, candidato à prefeitura de Goiânia. Mas Galípolo já tem uma influência importante, e Campos Neto terá até o fim deste ano no BC.
Por outro lado, o timing da sabatina jogaria a favor dos anúncios dos nomes para as duas diretorias do BC cujos mandatos também expiram em dezembro - de Regulação e de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta -, além do substituto na Política Monetária. Principalmente porque o próprio Galípolo deve participar das indicações. Mas, se isso vai reduzir incertezas, de acordo com um analista, dependerá mesmo é de quem for indicado. Entre candidatos, circulam nomes de mercado e de quadros da instituição.
Vale lembrar que, sexta-feira passada, o mercado digeriu mal a intervenção do BC no câmbio, com dúvida sobre se a autoridade monetária vai atuar para amenizar o efeito do dólar nas expectativas para inflação e Selic, ou seja, por uma alta menor da taxa. Naquele dia, Campos Neto disse pela manhã que “se e quando houver um ciclo de ajustes no juros, este ciclo será gradual”, e a autoridade monetária fez leilões de venda de moeda à vista e de swaps cambiais, mas não conseguiu evitar a alta do dólar nem abafar apostas em alta de 0,50 ponto porcentual na Selic em setembro.