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CNU: Questões sociais e de baixa complexidade dominam bloco com mais concorrência, dizem analistas

Na prova do ‘Enem dos Concursos’, foram incluídas questões sobre indígenas, racismo e desigualdade social; especialistas avaliam exame do bloco 8, de nível médio, que teve mais inscritos

Foto do author Isabel Gomes
Atualização:

A prova do bloco 8 do Concurso Nacional Unificado (CNU), aplicada neste domingo, 18, foi de baixa complexidade e com enfoque em questões sociais, como era previsto, por serem temas identificados com o governo Lula, avaliam especialistas ouvidas pelo Estadão. Mas não consideram que houve viés ideológico. Foram incluídas questões sobre povos indígenas, marco temporal, racismo, desmatamento e desigualdade social.

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O CNU foi realizado com oito diferentes blocos temáticos, sendo o de 1 a 7 com exigência de formação de nível superior, O bloco 8 pedia escolaridade de nível médio ou técnico e se referia às áreas de gestão governamental e administração pública.

A reportagem convidou especialistas para analisar as perguntas de humanidades da prova do bloco 8, uma vez que este foi o que teve maior número de inscritos (694 mil), e a maior concorrência, com 1.003 candidatos por vaga.

Durante a manhã, os candidatos realizaram as provas de conhecimentos gerais e discursiva — para nível superior — e português e redação, para nível médio. Já à tarde, o bloco 8 envolveu questões de direito, matemática e realidade (que tratou de história e atualidades), enquanto os demais abordaram conhecimentos específicos das áreas. A avaliação de especialistas sobre a redação pode ser conferida aqui.

Entrada de candidatos para provas do CNU na Faculdade Unip em São Paulo. Foto: Felipe Rau/Estadão

Questões de Direito e Realidade: foco em atualidades e temas sociais

Para Joana Melo, professora de Língua Portuguesa, e Ceres Rabelo, professora de cursos preparatórios para concursos, as questões de português, noções de direito e de realidade cobradas no concurso foram fiéis ao edital, e candidatos que acompanham o notíciário certamente tiveram mais facilidade para responder às questões.

“Cobrou o que é contemporâneo”, opinou Ceres. Na visão da especialista, que é mestre em Direito e Negócios Internacionais e especialista em Direito Penal e Processo Penal, as questões de direito concentraram-se em noções de direito constitucional e noções do funcionamento do sistema público, sem exigir conhecimento técnico. “Se o candidato tiver uma boa noção de atualidades, ele consegue fazer uma boa prova”, pontua.

O mesmo vale para a prova de realidades, aponta Joana, na qual diversos assuntos recentes pautaram as perguntas. Questões como perda de biodiversidade do cerrado, desaceleração do crescimento populacional, Sul Global e tese do marco temporal, apareceram. “Se você assistiu a um telejornal falar sobre isso, você conseguia responder à questão”, disse a professora em referência à pergunta sobre o marco temporal (veja abaixo).

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Questão sobre demarcação de terras indígenas e tese do marco temporal na prova do bloco 8 do CNU. Foto: Reprodução/Divulgação Cesgranrio e Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos

Prova do CNU: alinhamento com a visão do governo Lula

De um modo geral, levando-se em conta as perguntas de todas as áreas de humanidades no bloco 8, as especialistas apontam para a forte presença de questões sociais, como racismo, por exemplo, e de problemas contemporâneos do País, como desmatamento e desigualdade social.

Para Joana, que também é graduada em História, a prova está alinhada com a visão do governo Lula, o que já era o esperado pelos professores e que refletiu também nas questões focadas em história, no bloco de realidade.

“Já era uma expectativa que eles cobrassem Getúlio (Vargas), ditadura militar e muito a questão racial. Apareceu muito mesmo a questão racial, que é uma pauta bem importante para a realidade brasileira. Mas também bem de acordo com o atual governo”, diz a professora

Ela citou como exemplos a crítica ao mito da democracia racial (conceito que nega a existência do racismo no Brasil), na questão 33 do gabarito 1, e a crítica ao suposto milagre econômico da ditadura militar, na pergunta 39, como perspectivas coesas com o governo petista.

Na visão de Ceres, a prova não teve cunho político. “Com todas as letras, a prova não teve viés ideológico, não teve viés político”, afirma. “Teve, sim, uma exigência de conhecimento a respeito de direitos básicos, direitos humanos, direitos inerentes à qualidade do ser humano”, argumenta.

Português e redação: faltou análise de texto

Assim como questões das áreas de realidade e noções de direito foram consideradas de baixa complexidade para as professoras, as perguntas de português não exigiram grande conhecimento teórico e pecaram pela falta de cobrança de uma visão mais crítica na interpretação textual.

A prova de português está de acordo com outros concursos de nível médio aplicados no País, diz Joana, que chamou a atenção para a maior atenção à gramática e descreveu as perguntas como de nível fácil.

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“Senti falta de um pouco mais de análise de texto, uma análise mais aprofundada. O texto não era desafiador”, opina a professora, que defende que a prova poderia ter sido mais complexa.

Outro facilitador, segundo a professora, foi a falta de distratores. “Os distratores são aqueles em que o candidato fica entre uma e outra (alternativa). Ele até consegue eliminar algumas com facilidade, mas fica em dúvida”, explica.

Textos longos foram desafios da prova

No formato da prova, também chama a atenção uma forte presença de textos longos no contexto das perguntas de humanidades.

Isso que exigiu que os candidatos fizessem uma leitura rápida, segundo Ceres, o que, de seu ponto de vista, tornou o teste mais desafiador.

“As questões não eram tolas. Eram questões que incitavam o conhecimento”, aponta.

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