Rubens Anater /Especial para o Estado Filho de um empreendedor da área têxtil, Felipe Sanchez não queria viver à sombra do pai. "Eu sempre tive a percepção de que não queria trabalhar na empresa do meu pai, porque eu sentia que lá dentro eu seria sempre o filho do dono."
O pai compreendeu a decisão, mas insistiu para Sanchez investir na carreira de empresário. Foi por isso que ele foi um dos poucos em seu círculo de amigos a não ganhar um carro ao completar 18 anos, em 2006. Em vez disso, ganhou uma viagem para a China.
"Na época, foi até uma decepção. Em vez de me dar um carro, meu pai me deu uma passagem", recorda. Mas foi essa viagem, em 2006, que começou a abrir caminho para a criação da Global Química & Moda, um empreendimento de estamparia têxtil que prevê faturar, neste ano, R$ 50 milhões.
Na viagem, Sanchez visitou a Canton Fair e conheceu um mundo empresarial que nem imaginava. Foi com esse conhecimento que ele começou a pavimentar o caminho para a empresa de estamparia que hoje é referencia no País, segundo diz.
Novidade. De volta ao Brasil, Sanchez planejava se manter longe do mercado têxtil, porque via que o segmento sofria com pequeno valor agregado e com a concorrência chinesa. No entanto, acabou conhecendo uma proposta diferente para o ramo: a estamparia têxtil. "Eu tinha visto algo parecido na China, então abracei a oportunidade."
A estratégia do jovem para superar as dificuldades do mercado têxtil foi apostar em itens de maior valor agregado e que não fossem produzidos na Ásia, de forma a não precisar disputar mercado. Decidiu vincular-se à moda, que possui margens financeiras maiores, e investiu na importação de foil e na estamparia. Assim, em 2006, nasceu a Global Química & Modas.
Estamparia digital. Por quatro anos, a Global trabalhou quase exclusivamente com estamparia tradicional, o que limitou o crescimento da empresa. O cenário mudou quando Sanchez percebeu o crescimento da estamparia digital no resto do mundo e resolveu trazê-la para o Brasil. "Entendi que esse seria um nicho para explorar, e nosso foco se voltou quase inteiramente para isso."
Quando começou, com um processo de impressão mais limitado, a Global tinha pouco mais de dez funcionários e faturamento baixo. Mas em pouco tempo ele conseguiu a representação de uma empresa inglesa que fabricava tinta para impressão direta em tecido. "Foi um divisor de águas que permitiu imprimir em algodão e viscose, tecidos da moda."
Isso era uma novidade no Brasil e, com a respeitabilidade que Sanchez herdou da reputação da empresa do pai, a Global entrou com força no mercado do País. Em 2013, com um produto novo e as portas do mercado abertas, o avanço foi intenso. "Tanto que foi um desafio para conseguirmos crescer de forma controlada", lembra .
Crise. Desde 2014, a Global dobrou seu faturamento e hoje está com uma equipe de 55 colaboradores, prevendo crescer a uma média de 25% ao ano, mesmo neste período de crise no Brasil. Só em 2015, mesmo ano em que o crescimento da Global se consolidou, o País perdeu 1,5 milhão de postos de trabalho com carteira assinada e muitas empresas foram fechadas.
Investimentos. "Acho que um dos vários motivos de conseguirmos ter sucesso foi porque não deixamos a crise afetar nosso otimismo e nossa vontade de crescer", pondera Sanchez.
"Mesmo com o mercado retraído, reduzimos um pouco nossos lucros para podermos investir em pessoas e estrutura. Essa foi nossa forma de lidar com a crise, a encarando de frente. Assim, atualmente temos uma estrutura que nem mesmo empresas multinacionais possuem", afirma.
Além disso, o jovem empreendedor conta que a empresa passou por várias transformações durante sua existência. "Agora, a Global é uma empresa diferente do que era antes. Ela tem conceitos modernos e atualizados, porque acreditamos que a resposta para conseguir a continuidade é sempre se renovar." Com tudo isso, ele enxerga um futuro de muitos desafios, mas certamente promissor.
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