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Volpon, ex-diretor do BC, tem ambição de criar uma ‘Bolsa’ no mercado imobiliário

Em retorno ao mercado privado, empresário decidiu investir na área imobiliária e vislumbra criar uma espécie de Bolsa de Valores no segmento

Por Célia Froufe

BRASÍLIA – Professor adjunto da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, o ex-diretor do Banco Central Tony Volpon volta a atuar no setor privado brasileiro. Decidiu investir pesado na área imobiliária e vislumbra criar uma espécie de Bolsa de Valores no segmento. A empreitada é feita com o sócio José Carneiro, por meio da empresa CF Inovação.

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No primeiro passo, a empresa participou de uma licitação do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci) para implantar um sistema voltado aos profissionais do setor. Com a plataforma, há uma obrigação por parte de quem trabalha na área de consultar negócios - para verificar se já há outros corretores atuando com o imóvel, por exemplo - antes de celebrar o contato com o novo cliente.

A exigência já existia, mas, como outras leis do País, “não pegou”. No mês passado, o Diário Oficial da União (DOU) publicou a obrigatoriedade da contratação de corretagem por meio do Sistema de Governança e Registro (SGR). De acordo com o presidente do Sistema Cofeci-Creci, João Teodoro, o procedimento passou a ser mais rápido, rígido e seguro com o SGR.

“Agora temos um modelo de contrato aplicável a qualquer tipo de contratação de corretagem imobiliária, porém, controlado em todos os seus detalhes pelo uso da tecnologia blockchain, inclusive quanto à prevenção contra o chamado bypass (calote) de honorários profissionais”, disse ao Estadão/Broadcast sobre os cinco modelos de formulário publicados no DOU. “O novo modelo ‘vai pegar’ porque, além da modernidade, traz segurança para todas as partes envolvidas na negociação”, acrescentou.

Além de ser tratado como uma plataforma que facilita o trabalho do corretor, Carneiro explicou que a intenção também é auxiliar e dar mais eficiência ao processo de fiscalização, já que os contratos são encadeados, o lastro do imóvel está em chain e todas as informações são criptografadas. “Não só a fiscalização do setor, como a Receita Federal podem observar os dados quando houver necessidade”, explicou. Ele ilustrou a plataforma como algo semelhante ao serviço de transporte por aplicativo, que resolve um problema de confiança.

Em retorno ao mercado privado, empresário decidiu investir na área imobiliária e vislumbra criar uma espécie de Bolsa de Valores no segmento Foto: Amanda Perobelli/Estadão

Para Teodoro, o instrumento ajudará a ampliar o número de fiscalizações, já que muitas delas poderão ser feitas de forma virtual. “A fiscalização será menos presencial e mais virtual. Com os registros dos contratos de corretagem e os anúncios feitos por meios eletrônicos, ficará muito mais fácil a checagem eletrônica entre eles, oferecendo mais agilidade e segurança ao processo. Já a fiscalização presencial será direcionada às denúncias e o exercício ilegal da profissão”, considerou.

O número de inscritos no Sistema Cofeci-Creci ascende a 600 mil pessoas físicas e 72 mil jurídicas, dos quais cerca de 480 mil devem estar em atividade. Não há estatística sobre o número de contratos celebrados por mês, mas estima-se uma média de 680 mil de forma conservadora.

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De olho nesses números é que Volpon e Carneiro se atiraram ao novo empreendimento, que usa tecnologia blockchain e trata de todos os dados de forma virtual. O contrato da CF Inovação é de 10 anos e, além de prestar serviços diretos e essenciais aos corretores e rastreamento na internet para verificar se um imóvel já foi comercializado ou está sendo por mais de um agente, deve, aos poucos, ampliar a oferta de produtos, como planos de saúde e de crédito.

“A ideia é criar um hub que reúna clientes, corretores, com vários serviços diferentes. Já estamos também conversando com bancos”, disse Volpon. O sistema estará preparado para, no futuro, de acordo com o professor, transacionar diretamente a moeda digital do Banco Central, o Drex. “É possível, a partir daí, se criar algo muito parecido com a B3 para o setor imobiliário. É nossa ambição”, projetou. Antes disso, porém, é preciso aguardar a ferramenta ganhar escala, algo parecido com o que aconteceu com as redes sociais.

O contrato de uma década da CF Inovação com a Cofeci detalha que todos os dados registrados no SGR são de propriedade do Conselho e, em caso de transição para outra organização após o prazo contratual, a empresa que ganhou a conta atualmente tem a obrigação de assessorar a transferência dos dados para sua substituta, se for o caso.

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