Como escolher a pós-graduação mais adequada? Veja dicas

Planejamento, tanto financeiro quanto de tempo a ser destinado a uma nova atividade, é aspecto fundamental para o estudante que decide ingressar em um programa

PUBLICIDADE

Por Paulo Reda e Ana Carolina Montoro
Atualização:

O planejamento, tanto financeiro quanto de tempo a ser destinado a uma nova atividade, é um aspecto fundamental para o estudante que decide ingressar em uma pós-graduação. De acordo com Gabriel Campos, sócio da Pró Vendas Consultoria Empresarial e professor de Gestão de Produtos e Serviços no MBA da PUC-Campinas, o primeiro ponto é procurar um programa que tenha a ver com seu objetivo de carreira atual ou de futuro. “Que vá agregar conhecimento e seja prático”.

PUBLICIDADE

Campos não recomenda uma pós profissional para recém-formados na graduação. “Não é o momento adequado. Essa pessoa ainda vai precisar adquirir experiência profissional para escolher a área correta”, diz.

Outro cuidado fundamental é o entendimento de que a pós não exigirá dedicação do estudante apenas no momento da aula: há tarefas extraclasse. “Definir um tempo que dedica a isso é importante. Pelo menos meia hora ou uma hora por dia para essas atividades complementares”, afirma ele.

Planejamento, tanto financeiro quanto de tempo a ser destinado a uma nova atividade, é um aspecto fundamental para o estudante que decide ingressar em um programa de pós-graduação Foto: Dida Sampaio/Estadão - 10/12/21

Para Campos, um grande erro é fazer a pós-graduação apenas pelo currículo, sem dedicação efetiva ao conteúdo. “Nesses casos, há perda grande do que a pós pode trazer para ele. É um investimento importante demais para isso.” Pesquisar muito bem a escola escolhida também é essencial. “A pessoa é bombardeada por muitas opções. Por isso, é importante perguntar para amigos, pesquisar em rede social os dados sobre aquela escola.”

A pesquisadora do Labjor da Unicamp Sabine Righetti também ressalta a importância de ouvir testemunhos de outras pessoas que já fizeram o curso. “Ainda não temos um banco de dados unificado nacional com informações sobre o desempenho das instituições de pós-graduação. Por isso, é importante tentar falar com quem já fez o curso. Precisa ser proativo.”

De acordo com Joaquin Santini, pesquisador e consultor internacional em temas relativos ao mundo corporativo, quando você oferece um programa de pós aumenta a possibilidade de engajamento do trabalhador com a empresa e se oferece aprimoramento nas suas habilidades e ampliação da mentalidade, o que pode, até mesmo, ser um fator de atração de talentos.

“Não temos mais cinco anos para qualificar um profissional. Precisa reduzir a duração média dos cursos para dois anos.” Ele destaca, porém, que a empresa precisa liberar certas alternativas de horário para os colaboradores que estejam fazendo pós. “Se for só colocar mais carga horária para o trabalhador, não dá.”

Publicidade

A jornalista Verônica Guimarães teve a possibilidade de fazer um mestrado logo em seu primeiro emprego, assim que deixou a faculdade. “Fui trabalhar na área de Comunicação da Prefeitura de Piracicaba e me vi diante de desafios em áreas como Relações Públicas e Comunicação Pública que não faziam parte do conteúdo da graduação.”

Verônica valoriza o mestrado, feito na Faculdade Cásper Líbero, custeado parcialmente pelo empregador, inclusive pelo fato de que permitiu um redirecionamento da carreira. “Quando saí da faculdade queria trabalhar em redação. Hoje, depois da pós-graduação, tenho convicção de que minha área de atuação é a Comunicação Pública”, afirma.

João Luis Barroso, diretor de Educação Executiva dos Núcleos da FGV, destaca os formatos disponíveis. Na modalidade online, o aluno escolhe o dia, o horário e o tempo de estudo pela sua disponibilidade. No formato live (transmissão), o estudante pode assistir a aulas 100% ao vivo de onde estiver e em horários programados.

De acordo com Daniela Tessele, diretora de Lifelong Learning da Ânima Ecossistema, hoje a maior parte dos programas de pós já conta com um porcentual de conteúdo de autoestudo elevado. Mas o importante é o aluno entender que essa jornada está ancorada em orientações de mentores e professores, que auxiliam nesse processo.

“Isso faz com que o aluno consiga concluir o seu programa onde quer que esteja, mas sempre com o apoio didático necessário para que possa haver reciclagem e não se perca também essa característica de networking (criação de rede de contatos profissionais), que marca os programas de especialização.”

Pesquisa do Semesp mostra que a maioria na pós tem entre 25 e 34 anos e renda média de até 3 salários mínimos (R$ 3.960). “A expectativa dessas pessoas é de pagar, no máximo, cerca de R$ 1 mil”, afirma Rodrigo Capelato.

Cursos de excelência crescem 37% e impulsionam carreiras

Com a exigência do mercado de profissionais cada vez mais capacitados, cursar uma pós tornou-se um dos caminhos para se adquirir mais conhecimento formal e conseguir promoções, aumento de salário ou recolocação em outra área. Para além do mercado de trabalho, a pós é caminho obrigatório para quem almeja seguir na área acadêmica como pesquisador ou professor universitário por meio do mestrado e doutorado stricto sensu.

Publicidade

Diante disso, a qualidade dos programas deve ser avaliada juntamente com possíveis ganhos profissionais e pessoais. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação (MEC), faz avaliações periódicas dos cursos stricto sensu. No fim de 2022, divulgou os resultados da mais recente avaliação quadrienal 2017-2020 e apontou o crescimento de 37% nos programas na colocação de excelência, que são aqueles que recebem as notas 6 ou 7. O sistema de pontuação vai de 1 a 7, sendo 3 o mínimo para considerá-lo apto para funcionamento.

Foram avaliados 4.512 pós-graduações (PPG) stricto sensu e também foi possível ver que 54% se mantiveram no mesmo patamar, e 4% tiveram redução de nível. Considerando o ranking, o País tem 261 pós com nota 7, a mais alta.

Marcelo Zeferino, de 39 anos, formado em Administração e Marketing, é sócio de uma empresa responsável por transporte aéreo emergencial de carga. Ele se descreve como um profissional que por muitos anos foi “entusiasta da prática”, por sempre priorizá-la, em detrimento da teoria na hora de se desenvolver.

Mas quando se mudou do Rio Grande do Sul para São Paulo, em 2016, percebeu que essa crença trazia prejuízos. “Foi quando comecei a perceber que em reuniões corporativas ficava para trás nas discussões de alguns temas por não ter estudado de forma aprofundada.”

Nesse momento, resolveu que era hora de voltar para a sala de aula. Após alguns cursos livres, fez o que os especialistas recomendam na hora de escolher uma pós: conversou com colegas e pessoas inseridas na sua área de atuação para encontrar referências.

Em 2018, se inscreveu na especialização em Gestão de Negócios da Fundação Dom Cabral porque entendeu que ali iria passar por todos os temas que buscava. “No primeiro dia de aula, fui com uma armadura, pensando que precisavam me enxergar como diferente, como um executivo. Cheguei de terno e gravata e a segunda pessoa veio com um skate.”

Por estar em um ambiente que colocou na mesma sala profissionais de diversas áreas para discutir estratégia e negócios, Zeferino diz que essa troca de experiências foi o que fez diferença para ele. “Minha ideia inicial era nivelar meu conhecimento por ter feito duas graduações de modo superficial. Deixei a vaidade e aprendi a não ter resposta para tudo, mas a saber perguntar.”

Publicidade

Esse contexto tornou o administrador um entusiasta dos estudos e, após a conclusão do curso em 2020, buscou outras voltadas para especialização de gestores e para conselheiros de administração C-level. Outra mudança foi alcançar o nível de sócio da empresa onde está, após convite do então chefe. Ele deixou o cargo de diretor e assumiu a nova função ainda na metade do curso, após reconhecimento do aprendizado de sala de aula que ele aplicava na empresa.

Gustavo Mata é relações-públicas formado pela Universidade de São Paulo (USP) e aos 26 anos já buscou uma especialização. Desde o começo de 2023, cursa Inteligência de Mercado na Saint Paul. Ele buscou uma instituição mais tradicional pela área de finanças porque queria se recolocar no mercado e agora atua como analista de marketing em uma empresa internacional.

Outro motivo para buscar um curso lato sensu é a vontade de progredir para um mestrado acadêmico. “Sentia que até então eu não tinha como encarar esse desafio de escrever uma tese de mestrado. Quis expandir os conhecimentos que tenho, para escolher uma área que me interessa mais, seja na comunicação ou fora dela”, diz.

Consciente da necessidade de continuar estudando, Gustavo pensa em alinhar os conhecimentos acadêmicos ao mercado profissional e cogita um mestrado em comunicação pública. “Pensando no mundo da comunicação, eles andam juntos e penso nessa associação, por exemplo, de estudar hábitos de consumo, comunicação pública e novas gerações. Acho que isso conversa com o mercado. As grandes e médias empresas precisam entender o consumidor de forma profunda, mas ao mesmo tempo a academia precisa olhar para as pessoas como objeto de estudos – e fazer esse diagnóstico que muitas vezes o mercado faz enviesado, enquanto a academia tem um diagnóstico mais objetivo.”

“Em algum momento, as pessoas precisam buscar mais formação”, segundo Silvio Laban, coordenador de pós-graduação do Inspe.

Para ele, recém-formados tendem a buscar pós-graduações mais técnicas, enquanto profissionais mais experientes focam em estratégia e gerência. “Estamos em um mundo cada vez mais diverso, complexo, com a tecnologia assumindo vários papéis. Nesse sentido, há busca maior pela educação de diversas formas.”

“A diversidade precisa ser refletida dentro dos próprios programas. É importante que ela saia da lousa e apareça no dia a dia. Cabe às escolas oferecerem opções que permitam atender às diversas demandas que a sociedade traz”, afirma Laban. Segundo ele, ganhos pessoal e profissional se materializam na escolha bem feita do programa e da instituição.

Publicidade

É preciso escolher entre pesquisa e mercado

O ensino da pós no Brasil foi regulamentado em 1965 e inspirado no modelo adotado dos Estados Unidos. Quem está interessado em procurar esse tipo de formação educacional encontra dois segmentos: stricto sensu e lato sensu. Os cursos stricto sensu são tradicionalmente direcionados para quem almeja seguir carreira acadêmica, ou seja, trabalhar com pesquisa ou docência. Já os lato sensu focam na qualificação direcionada ao mercado e no profissional que deseja aplicar o que vê em sala de aula na rotina de trabalho.

Os programas stricto sensu têm formato tradicional e que mudou relativamente pouco ao longo dos anos. Até hoje, se encontram majoritariamente nas universidades públicas e buscam tornar o aluno um especialista na sua área de pesquisa, por meio de estudo segmentado e aprofundado. Para isso, o aluno de mestrado ou doutorado passa a ter dedicação quase exclusiva aos estudos e cumpre etapas e carga horária definidas pelo calendário acadêmico.

“Dentro da pesquisa, existem prazos e créditos mínimos de aula para cumprir. No mestrado, são 20 horas e no doutorado, 40″, diz o especialista Fabricio Garcia, sócio fundador da Qstione, sistema de avaliação de estudantes. “Ao ser aprovado, o aluno começa assistindo disciplinas e depois desenvolve a pesquisa e faz a escrita da dissertação final.”

Nessa fase de pesquisa, o mestrando ou doutorando pode produzir diversos artigos acadêmicos para serem publicados em revistas especializadas e submetidos a congressos regionais ou nacionais, além de comparecer a eventos da sua área de atuação e adquirir certificados de participação. Todos esses registros são compilados na plataforma Lattes e contribuem para uma boa avaliação, que pode resultar em intercâmbios internacionais, assim como bolsas de estudo.

Para entrar em uma pós stricto sensu, seja em universidades públicas ou privadas, o candidato deve passar por um processo seletivo. “A instituição de ensino abre um edital onde são descritas as regras para inscrição do projeto de pesquisa”, diz ele.

Lato sensu vem do latim - sentido amplo - e quando aplicado à pós-graduação significa que todas as especializações e MBAs entram nessa categoria. Para isso, elas devem cumprir a regra de 360 horas para serem consideradas válidas pelas entidades reguladoras de ensino, como o MEC.

As pós dessa categoria são oferecidas majoritariamente por instituições privadas de ensino superior, uma vez que são completamente direcionadas para a aplicação de conhecimentos no mercado de trabalho, o que exige flexibilidade de adaptação para entender o que empresas e gestores buscam em capacitação profissional.

Publicidade

Além de se adaptar ao que os líderes responsáveis pelas contratações procuram, as especializações lato sensu costumam se adequar às agendas dos alunos, oferecendo opções presenciais, remotas, com aulas gravadas ou ao vivo, e até em fim de semana. A ideia é conciliar trabalho e estudo.

Outro motivo para a flexibilização é o foco de aprendizado direcionado majoritariamente a aulas e trabalhos das disciplinas, sem a carga horária de pesquisa. Para essa especialização costuma bastar o diploma de graduação. Em algumas instituições mais rigorosas, há prova de aptidão.

Como obter bolsas, crédito e financiamento?

Bolsas, até públicas

Se você está empregado, é possível conversar com os chefes sobre a possibilidade de a empresa arcar com parte dos custos dos estudos. Senão, é possível conseguir realizar sua pós em uma universidade pública e, assim, não pagar mensalidade. É necessário ficar de olho nos programas oferecidos pelas faculdades e em seus critérios de seleção para saber como ingressar. É comum as universidades públicas ofereceram pós-graduações stricto sensu (como mestrado e doutorado). No entanto, essa modalidade costuma demandar muito tempo de dedicação, o que dificulta ao estudante também trabalhar.

Para garantir auxílio extra

É possível recorrer a agências federais ou estaduais que apoiam a pesquisa, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) ou o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Eles oferecem diversos tipos de bolsas e auxílios de custo para quem quiser se dedicar ao trabalho de pesquisa.

Bolsas particulares

Algumas faculdades oferecem bolsas de estudo aos alunos interessados em aderir aos seus programas de pós-graduação – tanto lato sensu quanto stricto sensu. Para isso, procure o curso que deseja realizar e entre em contato com a instituição que o oferece para saber sobre a possibilidade de bolsas e de pagamento das mensalidades.

Financiamento estudantil

Se você escolher uma faculdade privada e não conseguir uma bolsa de estudo, uma opção é aderir a um financiamento. Com ele, você consegue pagar as mensalidades em um prazo maior que a duração do curso. Assim, não será necessário arcar com um custo tão alto enquanto estiver se dedicando aos estudos. Algumas instituições já oferecem o financiamento próprio. Se não for o caso, é possível recorrer a bancos que oferecem crédito para a educação, ou mesmo organizações de crédito educativo. Não esqueça, porém, que esses financiamentos normalmente vêm acompanhados de juros e de parcelas que, provavelmente, se estenderão por anos.

As linhas bancárias

Trata-se de um crédito privado destinado especificamente para estudantes, com taxas que variam de 1% a 3% ao mês. Geralmente, quem oferece linha de crédito voltada para os estudantes de pós-graduação não impõe limitação quanto à modalidade do curso. Isso significa que os programas abrangem, além de mestrado e doutorado, os demais tipos de pós-graduação, como as especializações e o MBA.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.