Fila da creche sobe em 22 distritos de SP

Gestão Haddad conseguiu reduzir déficit de crianças de 0 a 3 anos fora da escola na maioria dos bairros, mas em 23% houve expansão

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A fila da creche subiu em 22 dos 96 distritos após quatro anos de gestão Fernando Haddad (PT). Apesar de a Prefeitura ter conseguido reduzir o déficit de crianças de zero a 3 anos fora da escola na maioria dos bairros, levantamento feito pelo Estado aponta que em 23% deles a expansão não alcançou o crescimento da demanda. Há ainda na capital 133 mil crianças aguardando por uma vaga para esta fase da educação.

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O cálculo tem como base os relatórios publicados pela Secretaria Municipal de Educação em setembro de 2013, 2014, 2015 e 2016. Houve aumento nas filas dos distritos de Bela Vista, Belém, Bom Retiro, Cachoeirinha, Campo Grande, Cidade Tiradentes, Guaianases, Itaim-Bibi, Itaquera, Jaçanã, Jaguaré, Lajeado, Limão, Marsilac, Morumbi, Pedreira, Sé, Vila Andrade, Vila Guilherme, Vila Maria, Vila Mariana e Vila Medeiros.

Haddad, porém, teve desempenho melhor que o antecessor, Gilberto Kassab (PSD). Na gestão anterior, a fila da creche cresceu em 89 dos 96 distritos se comparados os números da demanda de setembro de 2009 e de 2012, primeiro e último anos do segundo governo Kassab. O ex-prefeito só conseguiu reduzir a fila nos bairros de Bela Vista, Bom Retiro, Cidade Tiradentes, Consolação, Liberdade, Perus e República. 

O aumento no déficit não significa que a Prefeitura não criou novas vagas nos bairros, mas sim que a demanda continuou maior que a oferta. O maior salto proporcional aconteceu em Marsilac, extremo sul, onde o número de crianças na fila saltou de 38, em 2013, para 124, em 2016. 

No Morumbi, zona sul, a fila praticamente dobrou: foi de 412 crianças, em 2013, para 726, neste ano. Hoje, são 314 crianças a mais na espera, a maior diferença em termos absolutos. Em parte, os números são reflexo do boom imobiliário da região. A Vila Andrade, por exemplo, é um dos bairros que mais cresceram nos últimos dez anos.

Proporcionar acesso universal à educação infantil é hoje um dos maiores desafios de prefeitos em todo o País – na capital, além das 133 mil crianças à espera de creche, há outras 2 mil de 4 e 5 anos aguardando vaga na pré-escola. Sem receber a prometida verba federal para erguer 243 unidades próprias, Haddad intensificou a contratação de creches privadas. O petista foi o que mais firmou convênios do tipo: foram ao menos 542 novas entidades cadastradas ao longo da gestão. 

Nesse modelo, as crianças são atendidas em imóveis alugados, geridos por entidades sociais com recursos públicos. Conforme o Estado mostrou em maio, parte das creches funciona em locais improvisados e inadequados, que já foram asilos e até igrejas. Na gestão Haddad foram cancelados ao menos 98 convênios por algum tipo de irregularidade no atendimento – o que reduz o saldo final de novas creches. 

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O déficit de vagas na educação infantil prejudica principalmente as mulheres mais pobres que, sem recursos para pagar uma creche particular, precisam apelar a parentes, vizinhos ou mesmo deixar o emprego para ficar com os filhos. A secretária Helena de Carvalho, de 55 anos, moradora do Jardim Guarani, zona norte, abandonou o emprego em um consultório neste ano para cuidar dos netos Maurício, de 2 anos, e Milena, de 4 meses. Foi a saída que encontrou para ajudar a filha Maria, de 32, a continuar trabalhando. “Tentamos bancar uma creche particular, mas custava R$ 520 por criança, além da perua. Era impossível.” Sem emprego, ela não consegue mais pagar a faculdade do outro filho. “Estamos há mais de um ano na fila, mas parece que ela só aumenta. Há várias crianças por aqui sem vaga.” A secretária mora na Brasilândia, zona norte, onde a fila tem hoje 3.723 crianças, segundo dados de setembro.

Prioridade. A Secretaria Municipal de Educação negou o aumento de demanda nos distritos, apesar de o site da pasta mostrá-lo em suas estatísticas. Em nota, afirmou que priorizou a construção de unidades e a formalização de convênios em locais com o maior número de crianças inscritas. “Mas esse critério não pode ser analisado de forma linear, isoladamente. Constatado o número de demanda por vaga, a Prefeitura tem de encontrar o terreno para construção da creche ou escola, ou para firmar o convênio com uma mantenedora”.

Kassab, por meio da assessoria, afirmou que bateu o recorde de novas vagas em creches em seu segundo mandato, entre 2009 e 2012, com 104,3 mil matrículas. Em nota, disse ser “equivocado medir a eficiência de uma gestão pela demanda distrital, já que esta sofre flutuações que independem das ações do poder municipal”. “Ou seja, é possível que, mesmo com criação de número expressivo de vagas, a demanda aumente na região e no período avaliado.”