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Comportamento Adolescente e Educação

Mês da dignidade menstrual: entenda por que o assunto é importante

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Por Carolina Delboni

Segundo a ONU, 550 milhões de pessoas no mundo menstruam e não têm acesso a produtos de higiene, mas, para além da distribuição gratuita de absorventes, é preciso falar sobre as condições de higiene que essas pessoas têm a disposição

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Maio é o mês da Dignidade Menstrual e a data foi escolhida pela ONU como estratégia de conscientização e combate a pobreza menstrual. Isso porque, muitas vezes, questões que violam direitos humanos precisam ganhar marcos no calendário mundial para que a sociedade volte as atenções ao tema e intensifique o debate.

E o que você entende por "dignidade menstrual"? O termo determina a condição de direito das pessoas que menstruam. Todas devem ter acesso a produtos de higiene e condições de higiene.

Quando elas não têm acesso as duas garantias mencionadas é o que a gente chama de pobreza menstrual. Importante entender que a condição de pobreza menstrual vai além do fato do não acesso a absorventes de maneira gratuita. A pessoa precisa também ter condições de higiene, tomar um banho, por exemplo.

"A pobreza menstrual é caracterizada pela falta de infraestrutura, recursos e até conhecimento por parte de pessoas que menstruam para cuidados envolvendo a própria menstruação. Ela afeta pessoas que vivem em condições de pobreza e situação de vulnerabilidade, por isso, é fundamental ações e políticas de saúde para reverter o quadro de pobreza menstrual do Brasil e garantir direitos a cada pessoa que menstrua no País", diz Rayanne França, oficial de Desenvolvimento e Participação de Adolescentes do UNICEF no Brasil.

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O problema atinge 52% da população feminina e tamanha é a expressividade do número que, em 2022, a marca de produtos de higiene sustentáveis, Pantys, lançou a campanha Pantys Protest onde dizia "não enxergar o problema não quer dizer que ele não existe", e eu achei que era bom recuperar a frase para a gente entender a importância de dar nome aos problemas, aparentemente, inexistentes.

Quando a gente se informa, quando a gente busca saber mais, temos a chance de ganhar consciência sobre uma questão que está sendo debatida. E é só a partir deste momento que somos capazes de combater qualquer tipo de injustiça ou desigualdade que esteja por trás. Deu para entender?

Vou ser mais clara: se eu não sei que pobreza menstrual existe e que ela impossibilita mais de meio milhão de mulheres pelo mundo a frequentarem suas atividades, como escola e trabalho, como eu posso me preocupar e trabalhar para reverter este cenário?

Foto Way Home Studio para Freepik  

Dar nome é um ato determinante e quando a gente o faz, a gente se apropria de determinado contexto, cultura, pessoa, objeto ou causa. E pobreza menstrual é um termo que reúne em duas palavras um fenômeno complexo, transdisciplinar e multidimensional, vivenciado por meninas e mulheres devido à falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento para que tenham plena capacidade de cuidar da sua menstruação.

Isso incluiu também a discussão da relação com o meio ambiente uma vez que a gente aqui levanta a bandeira da sustentabilidade. Uma pessoa usa, em média, 15 toneladas de absorvente ao longo da vida. O que significa um descarte na natureza de 200kg de resíduos.

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Segundo estudo encomendado pela Pantys, uma calcinha higiênica sustentável corresponde a 100 absorventes usados por uma pessoa no período de 4 anos, o que equivale, também a 15 bilhões de absorventes descartados anualmente no Brasil. E como a gente pensa essa relação de maneira mais consciente e que promova em meninas e mulheres a autonomia deste processo de higiene pessoal?

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É um desafio enorme até porque nos coloca para pensar que a pobreza menstrual é muito mais ampla e profunda do que a distribuição de absorventes gratuitos, certo? Ela se refere a inúmeros desafios de acesso a direitos e insumos de saúde. E os desafios representam, para meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias que menstruam, acesso desigual a direitos e oportunidades.

São meninas que deixam de ir à escola ou ao trabalho ou ao médico ou onde quer que seja porque não têm um absorvente higiênico para colocar na calcinha. Tão básico e simples quanto o ato cotidiano de mulheres serem seres que menstruam.

Segundo estudo da UNICEF, 28% das meninas e mulheres brasileiras são afetadas pela pobreza menstrual, cerca de 11,3 milhões de brasileiras, e 30% conhecem alguém que também sofre do problema. 40% destas mulheres têm entre 14-24 anos, o que mostra que esse é um problema que atinge, sobretudo, meninas jovens.

Na falta de um absorvente, meninas usam miolo de pão, roupa velha, pedaço de pano de chão, papel higiênico, jornal e há quem deixe escorrer pelo corpo. E sabe o que acontece com meninas quando escorrem? São, pelo menos, 5 dias sem ir à escola. Uma semana de ausência porque não tem absorvente higiênico para frequentar a escola. Será que isso é certo?

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Entre as consequências diretas da falta de acesso estão as doenças e problemas vaginais. Nos últimos 12 meses, 28% das 814 mulheres entrevistadas, tiveram infecção urinária ou cistite, 24% candidíase, 11% infecção vaginal por fungo e 7% infecção vaginal por bactéria. E como faz para tratar?

Precisa de atendimento público nos hospitais e SUS, precisa de medicamento, muitas vezes se faz uso de pomadas internas. Precisa de água potável para limpar a vagina, precisa de sabonete.

Só que, segundo estudo da UNICEF, que 713 mil meninas brasileiras não têm acesso a banheiros em suas casas e 88,7% delas, mais de 632 mil meninas vivem sem acesso a sequer um banheiro de uso comum no terreno ou propriedade. Olha o tamanho deste número. Ele representa a violação de direito ao acesso e garantia de condições de higiene.

São 632 mil meninas que não tem banheiro. Banheiro. E quem não tem banheiro, não tem água, não tem luz, não tem sabonete, não tem absorvente, não pode ir à escola ou não pode nem sair de casa. É isso que a gente chama de pobreza menstrual.

Deu para entender a importância e a necessidade de termos uma data para conscientização da população ao que se chama Dignidade Menstrual? E para além da data, pensar em ações e políticas públicas parar atuar sobre esses números tão impactantes. Distribuição gratuita de absorventes é uma ação. O que mais pode ser feito?

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Uma das propostas surge pela marca Pantys que entendeu seu papel como agente transformador social. A empresa foi estudar boas práticas ao redor do mundo e desenhou duas ações de advocacy que tem como meta combater a pobreza menstrual até 2030.

A primeira delas é a criação do Fundo pela Dignidade Menstrual que vai arrecadar dinheiro por meio da tributação de produtos menstruais previstos na categoria "Absorventes (Pensos*) e tampões higiênicos, cueiros, fraldas e artigos higiênicos semelhantes, de qualquer matéria".

O fundo vai gerar renda para a compra de produtos menstruais reutilizáveis que serão distribuídos diretamente pela rede do SUS aos governos estaduais e municipais. Além de incentivar e promover pesquisas e estudos sobre dignidade menstrual.

Uma outra ação é a educação, conscientização e capacitação da sociedade sob o tema. Essa proposta, obviamente, tem como interlocutor principal o Ministério da Educação. Lembra que lá no início desse texto eu falei da importância de dar nomes e informar as pessoas sobre o que é pobreza menstrual e o que é dignidade menstrual? É isso.

Quando a gente tem informação, conhecimento, somos capazes de pensar nas ações, nos "comos". É importante conscientizar para mobilizar e transformar. Até o dia em que não precisaremos mais marcar o calendário com este tema. Apenas celebrar.

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