Foto do(a) blog

Transtornos mentais e suas diferenças entre homens e mulheres

Opinião|Beleza na maturidade é alvo de preconceito

PUBLICIDADE

Foto do author Dr. Joel Rennó
Atualização:
 

A atriz Isabel Teixeira interpreta a personagem Maria Bruaca no remake da novela Pantanal da TV Globo. Constantemente menosprezada, humilhada, traída e desqualificada pelo marido está tendo uma metamorfose na novela e o público torce por ela. Resolveu enfrentar o marido e viver sua sexualidade bem longe do machista Tenório vivenciado por Murilo Benício. Possui um padrão de beleza adequado para a sua idade mas ainda envolto pelo estigma social e alvo até de ironias ou insultos.

PUBLICIDADE

Nessa semana, tivemos, após 35 anos, a continuidade nos cinemas do filme histórico Top Gun- asas indomáveis-, cujo astro é Tom Cruise. Ele tinha 22 anos em 1986 e hoje tem 57 anos. Ainda é considerado um galã. Seu par romântico, em 1986, era a atriz Kelly McGillis que foi ignorada nessa versão atual. Segundo a atriz, não houve convite porque está "velha e gorda"embora tenha aparência adequada para a idade dela- mas a indústria cinematográfica não valoriza a mulher idosa ou madura em sua plenitude. Ela deixa claro que está feliz com o seu corpo na atual fase de sua vida mesmo sendo ignorada por Hollywood.

Portanto, temos dois casos emblemáticos que escancaram os preconceitos ainda existentes, dentro e fora do Brasil, contra as mulheres idosas ou aquelas mulheres maduras que fogem de padrões de beleza rigidamente estipulados pelo cinema ou TV. A sexualidade de tais mulheres é ignorada também: cenas de nudez ou sexo só com corpos jovens e magros como se a sexualidade só dependesse de características físicas.

Tivemos, nos últimos anos, um empoderamento feminino construtivo. Muitas revistas, jornais e redes da internet apregoam que a beleza de cada corpo é individual e deve ser respeitada e aceita por todos.

Mas, infelizmente, a publicidade brasileira ainda é monotemática no assunto, conforme demonstra a Pesquisa TODXS de 2021, cuja 10a onda foi apresentada pela Aliança sem Estereótipos, movimento criado em 2017 e liderado pela ONU Mulheres. O padrão de beleza idealizado no Brasil para as mulheres é uma mulher branca, magra, com curvas, cabelos lisos e castanhos. Essas são 63% das mulheres que aparecem nos anúncios publicitários de TV e de Facebook. A nossa publicidade além de tudo é gordofóbica: o número de inserções de modelos e atrizes plus size não saiu de 0% em ambas as mídias.

Publicidade

É fundamental que diversos setores da sociedade se mobilizem no combate aos estereótipos femininos. O que se vê é ainda uma grande distância entre discursos teóricos e a prática de respeito às individualidades corporais. Redes Sociais vivem incentivando a diversidade mas estimulam, paradoxalmente, de forma até subliminar, o mito do corpo perfeito, independente das características inerentes de cada mulher que variam de acordo com fatores genéticos, étnicos e culturais entre outros. Para algumas empresas isso parece ser mais lucrativo mesmo que resulte em danos irreversíveis à saúde das pessoas.

A busca do corpo perfeito é ingrata, injusta, cruel e infrutífera e tem levado muitas mulheres a procedimentos cirúrgicos e estéticos  excessivos, alguns envolvendo até riscos de vida. Até mesmo alguns profissionais de saúde inescrupulosos e mercantilistas incentivam esse tipo de procura. Vejo também muitas mulheres buscando fórmulas mágicas de emagrecimento com medicamentos que prejudicam a saúde plena delas e as deixam com sequelas físicas ou mentais.

A pergunta que não quer se calar: até quando iremos conviver com tanta hipocrisia na publicidade e nas grandes mídias?

 

Opinião por Dr. Joel Rennó

Professor Colaborador da FMUSP. Diretor do Programa Saúde Mental da Mulher do IPq-HCFMUSP. Coordenador da Comissão de Saúde Mental da Mulher da ABP. Instagram @profdrjoelrennojr

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.