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Comportamento, saúde e obesidade

Opinião| A projeção como ferramenta contra a autorresponsabilidade

A terapia é um recurso poderoso para o nosso desenvolvimento emocional

Foto do author Luciana  Kotaka
 Foto: Estadão

 

Há alguns dias, eu estava em um supermercado quando ouvi uma frase que me chamou a atenção, e logo percebi o quanto pode ser desafiador para algumas pessoas assumirem as suas próprias escolhas. Muitas vezes partimos do princípio que quando ao atingirmos a vida adulta estaremos prontos para enfrentar a vida, o que não deixa de ser verdade sob muitos aspectos concorda? A maioridade abre caminhos, fomos preparados para iniciar esse novo ciclo através da escola, da vivência familiar, mas será que essa bagagem é realmente suficiente?

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O que vemos acontecendo em nossa sociedade mostra o contrário, apesar de termos capacidade de gerir a própria vida não quer dizer que temos estrutura emocional adequada. Basta olharmos as notícias todas as manhãs que já identificamos o significado da minha fala. Vemos pessoas machucadas que machucam outras, roubam, matam, agridem, essa realidade que achamos que está lá fora muitas vezes se repete perto de nós, um familiar, um vizinho, um amigo.

A falta de estrutura emocional revela o ponto frágil de tudo o que vemos acontecer, falta em nosso currículo um trabalho focado na psicologia. Adultos trabalhados emocionalmente são adultos mais equilibrados, com melhores condições de criar filhos estruturados, o que resultaria sem dúvida em uma sociedade mais equilibrada emocionalmente.

Voltando ao início do texto sobre a minha reflexão acerca do comentário no supermercado, eu vejo o quanto a falta de estrutura emocional gera pessoas que têm dificuldades em assumir as suas escolhas. Esquecem de que quando tomam uma decisão o agente que assumiu o ato é ele mesmo, mas a raiva por não terem agido com cautela é pesada demais, sendo mais fácil projetar fora, no outro, a sua dor. Esse processo de negação quando acontece pontualmente para que o indivíduo possa ter tempo de elaborar as próprias dores pode até ser compreensível, mas quando perduram e a pessoa não assume para si a responsabilidade, aí sim fica complicado.

Conheço uma pessoa que afirma até hoje que queria ter feito outra faculdade e não fez por medo de não passar e o pai a impedir de fazer o vestibular novamente. Um tempo depois me falou que comprou a casa dela rapidamente por medo de o pai desistir de dar o dinheiro para ela. Vemos aqui com clareza o quanto é mais fácil culpar o pai do que assumir a insegurança que tinha na capacidade de passar no vestibular, ou mesmo de expor com firmeza ao pai que estaria escolhendo com calma o imóvel para fazer um bom negócio. A ânsia por resolver logo um conflito, a falta de presença fez com que tomasse decisões difíceis de remediar, pois, na verdade, revela uma pessoa que não consegue ser assertiva na vida.

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Diante de tantas questões que eu poderia levantar sobre esse tema, a autorresponsabilidade é o ponto maior a ser enfatizado, pois quando conseguimos discernir o nosso papel em cada ação que tomamos, passamos a ter maior capacidade de assertividade. Assumir que escolhas têm consequências, algumas mais leves e outras gravíssimas, é um sinal de maturidade emocional. Afinal, cada um precisa ter consciência de suas ações, projetar no outro não irá ajudar a crescer emocionalmente, e sim irá manter a pessoa no papel infantil de não se olhar com verdade.

 

 

 

 

 

 

 

 

Opinião por Luciana Kotaka
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