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Tirando as medidas

Por Dado Carvalho
Atualização:

Era fim dos anos 70 em São Paulo, quando o ofício de alfaiate já tinha adquirido um certo status de coisa especial. Não fazia muito tempo, o prêt-à-porter se espalhava, fazendo com que fosse mais fácil comprar roupas. Ir ao alfaiate já era algo a ser feito apenas em grandes ocasiões.

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Roldão de Souza Filho

era um dos que mantinham a tradição. Desde bem jovem, tinha sua oficina e seus clientes cativos. Não raro, contava vantagem dizendo que conseguia costurar qualquer coisa (afinal, era um autodidata). Foi por causa dessa fama que um dos vizinhos, o músico italiano chamado Dino Pedini, que fazia parte da Orquestra Sinfônica Municipal, procurou seus serviços. O trompetista queria uma casaca. Estava chegando o dia de uma apresentação importante, e todos os músicos deveriam estar a rigor. Acontece que Filho não fazia a mínima ideia de como uma casaca era feita (e não tinha visto muitas dessas na vida). Ficou seriamente consternado com o pedido. Conversou então com o músico e conseguiu um exemplar da peça (alugado, muito provavelmente vindo da Itália). Depois de algum tempo analisando as costuras, os formatos, conseguiu fazer uma casaca nova em folha. Padini gostou tanto da roupa que exibiu para seus colegas. O sucesso fez com que boa parte dos amigos procurassem Filho para fazer casacas. E o rapaz, que até então mal sabia como era uma casaca, passou a criar vários modelos para os músicos.

O caso narrado acima é apenas uma das histórias ocorridas com o alfaiate, que morreu em 2005. Os objetos de sua oficina foram reunidos na exposição

Ofício de Alfaiate: A Bancada de Roldão de Souza Filho

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, no

Museu Paulista da USP

. São cerca de 300 objetos, entre tábuas, fitas, ferros, retalhos e moldes. Um deles é bem interessante: uma colcha de retalhos. Filho costumava juntar pedaços de pano que sobravam para fazer colchas e doar para quem precisasse. Acontece que esses retalhos, aleatórios, acabavam dando uma perspectiva de como os tecidos mudavam ao longo dos anos. A época em que Filho atuou, a partir do fim dos anos 1940, descreve o declínio da atividade de alfaiate, desde seu auge (no período que antecede o prêt-à-porter) até seu quase desaparecimento (nos anos 1970, havia cerca de 5 mil alfaiates na cidade. Hoje, há por volta de 500). A mostra vai até o mês de novembro.

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