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Futebol dentro e fora do campo

Opinião|Fernando Diniz mostra que boas ideias, convicção e coragem um dia acabam recompensadas

Técnico não é melhor nem pior do que antes de ser campeão, mas jamais abriu mão de seus princípios, para desgosto dos resultadistas

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Foto do author Almir Leite

Fernando Diniz é desde as 20 horas do domingo 9 de abril de 2023 0 mais novo queridinho do futebol brasileiro. Não é unanimidade. Mas aos corações que já havia conquistado somou milhares, talvez milhões, de outros que até duas horas antes adoravam criticá-lo. Não suportavam sua visão de futebol -e muitos vibravam a cada tropeço que tinha. Agora que ganhou, porém, todos os seus defeitos foram deixados de lado.

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Engraçado como no futebol, esporte em que ao longo de um ciclo, uma carreira do início ao fim por exemplo, não é incomum perder mais do que ganhar, títulos sirvam como um dos principais, senão o principal, fatores para balizar a competência de alguém.

O Fernando Diniz de antes do título carioca conquistado no comando do Fluminense não é melhor nem pior que o de antes de o jogo com o Flamengo começar.

Fernando Diniz levanta a taça de campeão carioca; técnico não abre mão de suas convicções  

Claro, é melhor do que aquele Diniz que ficou conhecido a partir do trabalho no Audax, é melhor do que aquele que fez bom trabalho no São Paulo, e que foi mal no Santos e no Vasco.  Mas não por causa do resultado, e sim porque evoluiu, algo natural a todas as pessoas inteligentes, trabalhadoras e competentes.

Essa evolução, claro, se reflete no que seu time apresenta. O que não quer dizer que tenha atingido a perfeição. As questões defensivas, na minha modesta opinião, ainda não estão resolvidas de maneira satisfatória, embora já tenham melhorado.

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Mas o principal em Diniz é que ele jamais abriu mão de suas boas ideias, de suas convicções.  Acredita no futebol bem jogado a partir da troca de passes curtos, movimentação constante, da liberdade concedida aos jogadores para que explorem suas virtudes, na perseguição incessante na melhora técnica de seus atletas.... e, talvez mais importante, no bem-estar deles como seres humanos.

Fernando Diniz não quer saber de resultado apenas dentro de campo. Aliás, é isso que incomoda muita gente. Ter alguém no futebol que vá além dos sagrados limites da bola, que pense fora da caixinha, como se diz.

Para ele, o ser humano é importante. E o resultado é consequência de trabalho árduo, bem-feito e feito com convicção. Natural que os resultadistas, aqueles que acham que o que importa é ganhar sempre, não importando como, não gostem.

Principalmente aqueles que acham que o time para o qual torcem, e por consequências os jogadores e treinadores, têm de lhe dar as vitórias que eles não conseguem na própria vida.

Resultadistas que não querem se dar conta de que num campeonato com 20 técnicos que jogam pelo resultado (ou que não deixam seus times jogarem por acharem que essa é a melhor maneira de chegar ao resultado), ao final 19 serão perdedores, derrotados.

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Fernando Diniz não inventou a roda do futebol brasileiro. Mas recorre a recursos técnicos, táticos e filosóficos dos tempos em que o Brasil efetivamente tinha o melhor futebol do mundo. Faz isso sem resgatar o passado, mas conhecendo-o e respeitando-o.

Treinadores como ele fazem bem ao futebol.  Cedo ou tarde acabam sendo recompensados (os mais velhos lembram bem o que falavam de Telê Santana, e o que por fim aconteceu).

Mas Diniz que não se iluda. Bastam alguns tropeços e voltarão a dizer que ele não presta como treinador. É difícil para os resultadistas enxergarem além do óbvio.

Opinião por Almir Leite

Editor assistente de Esportes, cobriu 4 Copas do Mundo e a seleção brasileira por 10 anos

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