SÃO PAULO - A imagem que se tem de Hélio Rubens Garcia está tão ligada a Franca como seu basto bigode. Afinal, foram 24 anos como jogador e quase duas décadas como treinador. Quando a diretoria do clube da chamada capital do basquete finalmente tomou a decisão de ter outro comandante, em maio do ano passado, Hélio, aos 72 anos, recusou-se a viver de lembranças e viu-se obrigado a considerar alternativas ao ócio: recebeu proposta para ser comentarista do SporTV e se preparava para a função de palestrante em empresas.
Uberlândia, então, ofereceu um contrato ao filho de Hélio, o armador Helinho. No decorrer das conversas, o clube resolveu ampliar seus laços com a família Garcia. "Nossa intenção inicial era contratar só o Helinho. Mas aí fizemos as contas e resolvemos fazer uma proposta também ao Hélio. Nunca teríamos condições de concorrer com Franca, economicamente ou afetivamente, pela sua contratação. Mas quando Franca o dispensou, surgiu a chance. E foi ótimo, porque é com Hélio que Uberlândia foi campeã do Nacional (em 2004) e do Sul-Americano (em 2005)", conta o uruguaio Fernando Larralde, supervisor da equipe mineira.
Uberlândia, que parou nas quartas de final do NBB nos dois últimos anos, teve poucas alterações no elenco para esta temporada: saíram Soró e Henrique; chegaram Helinho e Audrei. Mas dentro de quadra, o time mudou bastante. Na semifinal, "varreu" Bauru por 3 a 0. "Montamos uma estrutura tática que levou em conta as características dos jogadores. E criamos clima de seriedade, com avaliação periódica e motivação constante", diz Hélio.
Com mais um ano de contrato com Uberlândia, Hélio, que é espírita, não faz planos mais além. "Por convicção religiosa, abracei o conceito de que o tempo não existe. Trato de viver intensamente o momento", diz o septuagenário, que persegue seu décimo título nacional como treinador no sábado, contra o Flamengo, no Rio de Janeiro.
As filhas de Hélio Rubens permaneceram em Uberlândia em 2005, quando o treinador e seu filho voltaram a Franca. A cidade se viu sem time profissional de basquete por três anos, por decisão do grupo de ensino Universo, e foi remontada para o primeiro NBB, em 2008.
"A estrutura é a mesma da minha primeira passagem por aqui. A cidade gosta muito de basquete, há um clima de respeito. Agora minha família está toda reunida aqui."
Com a ambição de somar mais um título antes de encerrar a carreira, Hélio não se intimida com o favoritismo do Flamengo, que terá um ginásio com quase 18 mil torcedores a seu favor. Ele teve essa experiência em 99, quando Franca derrotou o endinheirado Vasco de Eurico Miranda em pleno Maracanãzinho lotado. "O Flamengo liderou o campeonato inteiro, mas ainda não perdemos nenhum jogo fora de casa nos playoffs", recorda Hélio.