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Como a camisa da seleção brasileira se tornou item de moda para estrangeiros

Uniforme de equipe do Brasil tem crescido em conjunto com a estética ‘brazilcore’, na qual estrangeiros se vestem com roupas em verde e amarelo

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Foto do author Murillo César Alves
Foto do author Ingrid Gonzaga

Mesmo que a seleção brasileira esteja em baixa, a amarelinha, um dos uniformes mais tradicionais do futebol, continua em alta ao redor do mundo. Entre estrangeiros, a camisa do Brasil se popularizou, ganhou as ruas, as redes sociais e se tornou um item de moda.

A camisa da seleção brasileira é um dos elementos da estética brazilcore, adotada por grandes figuras estrangeiras e que se popularizou na internet. A ideia é recriar a forma como brasileiros se vestiriam, a partir da adoção de elementos que estariam relacionados ao Brasil — principalmente o verde e o amarelo, presente na bandeira. Em shows, eventos, entre outros espetáculos, é possível observar uma massa de presentes com as camisas da equipe de futebol do País.

É o que confirma João Victor Jannetta, membro do Movimento Verde Amarelo — grupo que vai a megaeventos esportivos para torcer pelas equipes brasileiras. Ele conta que tem visto mais estrangeiros usando a camisa da seleção brasileira no exterior: “Cada vez mais. E onde passamos tem sempre alguém que vê nossa camisa e vem nos abordar para falar do Brasil”.

Jogadores da NFL receberam camisas da seleção brasileira na passagem pelo Brasil. Foto: Andre Penner/AP

“Marcas de fast fashion estrangeiras como Zara e H&M realmente apostaram na tendência brazilcore, não apenas nas cores, mas na estamparia. Tinham camisetas com escritas ‘São Paulo’, ‘Brasil’, ‘Belo Horizonte’, muito tropicalismo. Na verdade, hoje o movimento da moda começa na internet e aí que vai para a produção”, explica Márcia Jorge, editora de moda, stylist e palestrante.

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Dentre tantos países e seleções famosas no mundo do futebol, um dos grandes questionamentos que ficam é o porquê do Brasil e a seleção brasileira terem caído no gosto das pessoas de outras nacionalidades. Márcia Jorge e Jannetta acreditam que isso se deve a múltiplos fatores.

“A riqueza de ícones, símbolos e signos da cultura brasileira é um universo muito interessante para ser explorado na moda, juntamente com fato de o Brasil atualmente ter chamado bastante a atenção, seja por meio de personalidades nossas que possuem projeção internacional ou por outros acontecimentos nas mais variadas esferas”, reflete a editora de moda.

A visibilidade crescente de artistas como Anitta, que tem ganhado cada vez mais visibilidade em países como os Estados Unidos — a cantora carioca foi convidada pela NFL para se apresentar no intervalo do primeiro jogo de futebol americano em solo brasileiro, que teve transmissão no exterior —, e de figuras que, apesar de não terem nascido no País, são filhas e netas de brasileiros — caso de Hailey Bieber, esposa de Justin Bieber, que é referência da estética brazilcore — podem ter ajudado a popularizar as vestimentas em verde e amarelo.

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Jannetta também credita o sucesso à própria história do futebol brasileiro. “Ainda somos a única seleção pentacampeã mundial. Só isso já gera um desejo enorme em vestir a camisa da seleção. Além de grandes ídolos do passado como Pelé, Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho, ainda temos hoje muitos jogadores atuando com destaque nos principais times da Europa e do mundo, como Vini Jr., Neymar, Rodrygo, isso só para citar alguns mais populares”, pontua.

Não à toa o Movimento costuma ser celebrado pelos estrangeiros, pontua o torcedor. “Muitos ficam espantados com a mobilização e festa que fazemos nos esquentas antes dos jogos e também dentro do estádio. A grande maioria quer estar junto, tirar fotos ou simplesmente participar de alguma forma conosco”, conta. “É ótimo que eles simpatizem com a nossa seleção e vistam a nossa camisa. Todo reforço é bem-vindo”.

Sucesso de vendas

Dessa explosão da camisa da seleção brasileira, a Nike, patrocinadora esportiva desde a década de 1990, observou um sucesso de vendas do uniforme antes da Copa do Mundo de 2022. Com o maior índice de vendas, mais uniformes circulam pelo mundo.

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“Em 2022, tivemos o maior lançamento da Confederação Brasileira de Futebol da história do País. Percebemos que os torcedores realmente se conectaram com a história da camisa, pois tivemos sucesso absoluto de vendas e produtos esgotados rapidamente no site”, afirma Gustavo Viana, diretor de marketing da Fisia, distribuidora oficial da Nike no Brasil.

O sucesso foi tanto que levou a marca a relançar uma das mais famosas camisas amarelinhas: a da seleção de 1998, que apesar de não ter conquistado a Copa do Mundo, ficou marcada no imaginário popular. “Um remake fiel que homenageou a camisa icônica que a Nike desenvolveu para a seleção brasileira em 1998 e também celebrava Ronaldo Nazário, um dos maiores jogadores de todos os tempos”, relembra Viana. “Esta foi uma coleção de edição limitada e um sucesso de vendas, com os produtos esgotados em tempo recorde no Nike App. A camisa, além de celebrar o futebol jogado em 1998, também se tornou um ícone de estilo”.

O aumento nas vendas das camisas, para além do crescimento da estética brazilcore nas redes sociais, está ligado ao surgimento da chamada jersey culture, movimento que vem ditando tendências na moda streetwear. A cultura envolve o uso de camisas de times e seleções fora do ambiente dos estádios e já tinha precedentes nas periferias do País.

“As coleções de clubes e seleções de futebol já são realidade para o uso fora do ambiente dos estádios”, explica o diretor de marketing. “Por isso, nos propusemos a fazer as melhores camisas possíveis e incentivamos os consumidores a ousar e criar diversas possibilidades de integrar esses looks em seu dia a dia”, diz.

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Segundo a stylist Márcia Jorge, muito dessa expansão dos locais de uso de itens esportivos está relacionada a forma como eles são enxergados: como modernos e práticos. Ela explica que, a partir da pandemia, o conforto dita a maneira como as pessoas se vestem.

“As camisas de time eram vistas como um uniforme de jogador, torcedor ou de algum cara com a mangueira despretensiosamente lavando o carro no quintal de casa, brincando com as crianças no parque ou num churrasco no final de semana. Era uma roupa para relaxar, uma roupa quando não se queria pensar em roupa, em nada. Especialmente para os homens”, descreve. “Isso já mudou totalmente, inclusive porque tem muita camisa de time que é item de moda, de colecionador”.

E apesar do mau momento que a seleção enfrenta — com maus resultados em grandes competições, como a Copa América, em que caiu frente ao Uruguai em uma disputa de pênaltis nas quartas de final; e a Copa do Mundo, da qual não sai campeã há mais de 20 anos —, a tendência é que as compras das camisas não diminuam.

“Antigamente, as camisas da seleção eram mais procuradas pelos torcedores fiéis e em grandes momentos esportivos. Porém, com o passar dos anos, isso foi mudando”, relata Gustavo Viana. Mesmo assim, fica a ideia de que, caso estivesse em um cenário melhor, as vendas seriam ainda maiores. “Sabemos que sempre a performance dentro de campo irá ditar o clima em torno da seleção. Se estivermos ganhando e jogando bem, todos saem ganhando. Torcedores e jogadores ficam felizes, o interesse aumenta e por aí vai. Se estivermos em uma situação mais delicada, não é tão fácil aproveitar esse momento”, opina Jannetta.

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