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André Rizek: Marrocos põe abaixo estigmas ao chegar na semifinal da Copa do Mundo

Seleção marroquina tem ótimos jogadores espalhados em importantes torneios do futebol europeu

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Por André Rizek

Na medida em que o futebol de clubes se torna cada vez mais rico, diminuem as distâncias no mundo das seleções. O time do Marrocos não representa, literalmente, o futebol marroquino. É uma seleção internacional de futebol! Que representa, bravamente, uma nação.

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Da formação que começou jogando contra Portugal nas quartas de final, apenas o lateral-esquerdo Attiat-Allah atua no futebol marroquino. Ele é reserva. O titular da posição, Mazraoui, pertence ao Bayern de Munique, que comprou o jogador do Ajax. Dos 26 convocados, vinte jogam em clubes europeus.

Marrocos tem uma estrela como o lateral Hakimi, do PSG, melhor que qualquer brasileiro na posição. O goleiro Bono, que pegou até pensamento contra os portugueses, e o centroavante En-Nesyri, autor do belo gol da vitória, jogam no Sevilla. O volante Amrabat, o dono do meio-campo, é da Fiorentina. Zieych, o grande destaque na primeira fase, defende o Chelsea.

Hakim Ziyech e Achraf Hakimi são os principais jogadores da seleção marroquina. Foto: Kirill Kudryavtsev/ AFP

Nem todos são astros, é claro. Fosse assim, Marrocos não seria uma surpresa na Copa. Há quem jogue na Bélgica e no lanterna do campeonato francês, como o camisa 7, Boufal, incansável, e a formiguinha Ounahi. O meia fez o derrotado técnico espanhol Luis Enrique perguntar: “De onde saiu esse camisa 8?”. O treinador não conhecia o marroquino antes de enfrentá-lo. Nem eu. O clube dele, Angers, é pequeno da França. Mas joga o mesmo campeonato do Messi, do Neymar e do Mbappé, ou seja, eles estão habituados a competir contra gente desse nível.

É impossível conhecer os 26 jogadores das 32 seleções e a Copa pode ser a porta do sucesso para muitos deles. A obrigação, em um torneio cada vez mais imprevisível, é respeitar todas as camisas. Inclusive aquela que pela primeira vez representa o continente africano em uma semifinal.

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Sempre se dizia dos africanos que tinham jogadores talentosos, mas eram desorganizados. Fracos para defender. Se tem uma coisa da qual Marrocos não pode ser acusado é de desorganização. O time tem um padrão tão claro que teve, contra Portugal e Espanha, posse de bola praticamente idênticas: 26% e 23%, respectivamente. Defende com a própria vida – só levou um gol em toda a Copa! E os jogadores atacam ligeiros como uma flecha, em movimentos muito coordenados. Azar deles que, agora, vão enfrentar uma França com poder de fogo bem superior aos adversários que tiveram até este momento.

Marrocos vai para este jogo com o sentimento nacional aflorado. Há quem tente diminuir a autenticidade deste bravo time lembrando que 13 dos 26 jogadores, a metade, nasceu fora do país. Hakimi é um deles. Nasceu na Espanha, começou no Real Madrid, mas escolheu Marrocos em homenagem a seus pais, árabes. O goleiro Bono, nascido no Canadá, irritado com esse tipo de comentário preconceituoso, optou por dar uma entrevista inteira em árabe, para o desespero da imprensa internacional. Ele é fluente em inglês, mas avisou que falaria o idioma do seu país - e que os jornalistas se virassem para traduzir.

Lembrei da minha avó, Dona Missade, árabe e orgulhosa como eles. Ela nasceu no Brasil, mas era libanesa. “Porque se um gato nascer dentro de um forno, ele não será biscoito nem forno. Vai continuar sendo gato”. Que a paz esteja sobre vós, Marrocos.

Essa coluna foi enviada na íntegra primeiramente aos leitores inscritos na newsletter “Craques da Copa”. Cadastre-se gratuitamente aqui e receba em primeira mão. “Craques da Copa” são enviados diariamente, às 19 horas. Nesta terça-feira, quem escreve para a coluna é o youtuber Fred, do Desimpedidos.

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