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Conheça Léo Neiva, treinador com passagens por Mianmar e Tanzânia que assume São Cristóvão e Névis

Fã da escola do argentino Bielsa, Renato Gaúcho e Cuca, técnico de 43 anos sonha em voltar ao Brasil para comandar a base de um time grande

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Por Raul Vitor
Atualização:

Leonardo Martins Neiva tinha 23 anos quando decidiu trocar o futebol pelos estudos. Ele até tentou conciliar os dois, mas não conseguiu. Optou pelo caminho considerado menos arriscado e seguro na vida. Naquela época, Neiva não imaginava que se tornaria treinador de futebol. Muito menos que, aos 43 anos, assumiria o comando da seleção de uma ilha caribenha: São Cristóvão e Névis, que muitos nem ouviram falar.

O país insular é o menor da América Central, possui cerca de 52 mil habitantes e é formado por duas ilhas, a de São Cristóvão, de maior extensão territorial e sede da capital Basseterre, onde Léo Neiva vive, e a de Névis. "Recebi o convite para assumir a seleção são-cristovense no meio do ano passado, mas a pandemia acabou atrasando minha chegada ao país", conta o treinador ao Estadão.

Léo Neiva foi treinador do Young Africans SC entre 2014 e 2015 Foto: Arquivo Pessoal

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Antes de assumir o cargo, Léo Neiva percorreu o mundo por causa de uma bola. África, América do Sul, América Central e Ásia foram palcos de seu trabalho. Sua carreira foi iniciada no Brasil mesmo, apesar de sua relação profissional com a terra natal ser distante. Ele se reconectou ao futebol em 2006, alguns anos após o término de sua graduação. Começou como preparador físico, mas exerceu a profissão por pouco tempo.

"Sempre me interessei muito por essa área, mas sentia que aquilo não me satisfazia profissionalmente. Ao fim do dia eu me questionava: 'é só isso?' Sentia que podia fazer mais", disse o treinador. Foi então que Léo deu um passo adiante. Em 2007, ele aceitou convite para ser auxiliar técnico de Carlos Roberto, no América-RJ, que, na época, disputava a Série C do Brasileirão. O time foi razoavelmente bem naquela temporada. Não caiu nem subiu de divisão. Ao fim do ano, recebeu uma proposta para treinar um time sul-africano. Sem nada a perder, foi.

Léo Neiva foi contratado para treinar o Royal Bafokeng, time de base do Platinum Stars FC, pertencente à cidade de Rustenburg, que foi uma das sedes da Copa do Mundo de 2010. A equipe venceu a Nelson Mandela Cup, uma espécie de Copa São Paulo de Juniores da África do Sul. Ao término de seu contrato, em 2009, ele voltou ao Brasil para comandar o Bonsucesso no Campeonato Carioca. Já no ano seguinte, foi surpreendido por outra proposta. Dessa vez, para assumir o Yadanaborn FC, de Mianmar.

"O futebol é muito popular por lá. Na década de 1960, a seleção era uma das melhores da Ásia. Mas a ditadura ofuscou o esporte", conta o técnico. Em 1962, Mianmar sofreu o primeiro golpe militar. Na época, o país se chamava Birmânia. O território passou a ter a atual nomenclatura em 1989. Léo Neiva presenciou uma guinada rumo à democratização. Ele dirigiu o Yadanaborn FC entre 2010 e 2011.

Léo Neiva comandou o Yadanaborn FC, de Mianmar, entre 2010 e 2011 e, depois, entre 2016 e 2017 Foto: Arquivo Pessoal

"Pegamos ali a abertura no país ou tentativa de abertura para o mundo com a criação da Nova Liga Nacional Profissional". Em seu último ano de clube, o país pôs fim à ditadura. Em fevereiro deste ano, contudo, um novo golpe militar aconteceu. "Hoje o país vive, infelizmente, quase que numa guerra civi", lamenta. Ele perdeu contato com as pessoas de Mianmar.

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Em 2011, aos 33 anos, Neiva recebeu convite para treinar o Rakhine United. A proposta chegou após o Yadanaborn vencer uma série de jogos amistosos na Tailândia. Por lá, ele ficou cerca de um ano e sagrou-se o mais jovem técnico a assumir um time profissional de Mianmar. Tinha uma vida confortável. Mas volta ao Brasil em 2013 para assumir o comando técnico do Francana. No ano seguinte, faz as malas para a Tanzânia, também na África, para comandar o Young Africans SC.

"É um povo muito apaixonado pelo esporte. Um lugar de praias lindas. Uma atmosfera semelhante à nossa aqui no Brasil. A vida pessoal também era ótimo. Um país agradável, muito bonito e com muitas opções de restaurantes e lazer, pois residia na capital em Dar es Salaam. Além da ótima recepção por parte deles, claro", conta. Antes da Copa da África do Sul, o Brasil, de Dunga, fez um amistoso preparatório na cidade.

Neiva nunca foi de esquentar lugar. Em 2015, foi chamado para treinar o Montego Bay, da Jamaica. Passou uma temporada no país caribenho e voltou ao Yadanaborn. Dois anos mais tarde, se mudou para a vizinha Tailândia, sempre atrás de futebol. Foi comandar o Thai Honda. O último clube que dirigiu antes de assumir a seleção de São Cristóvão e Névis foi o capixaba Atlético Itapemirim entre 2019 e 2020, já em meio à pandemia.

Lé Neiva assumiuo comando da seleção de São Cristóvão e Névis em 2021 Foto: Arquivo Pessoal

Léo diz que sua escola favorita é a de Marcelo Bielsa. Segundo o técnico, seus times são ofensivos e de transição rápida, iguais ao do argentino. "Admiro o trabalho de Cuca, Renato Gaúcho, Sampaoli e Osório. Todos possuem essa mesma mentalidade", disse. Ao Estadão, Léo afirma que sonha em voltar ao Brasil. "Se eu fosse voltar, aceitaria trabalhar na base de um clube grande sem problemas. No contexto atual, voltaria até mesmo para treinar um time que disputa a Série B. Uma situação inferior, não. Não faz sentido para mim. A estrutura da primeira divisão de Mianmar ou Tanzânia me oferecem condições muito melhores", explica.

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Léo Neiva assume a seleção de São Cristóvão e Névis com o intuito de deixar um legado. "Preciso fazer com que os craques estejam aqui no país. As crianças são-cristovenses precisam de ídolos nacionais no futebol. Portanto, tenho a missão de desenvolver os jogadores locais", defende. O primeiro desafio do brasileiro será nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022 da Concacaf. São Cristóvão e Névis tem compromisso com a seleção de Porto Rico, dia 24 de março. Bahamas, Guiana e Trinidad e Tobago também estão no torneio.

Léo, no entanto, terá um grande problema. As barreiras sanitárias contra a covid-19 impostas pelo governo da ilha são bastante severas. Seleções estrangeiras não podem jogar no país e atletas que vivem no exterior devem ficar em quarentena por 14 dias quando retornam. Não há exceção. Ao voltar de Porto Rico, toda a seleção de São Cristóvão terá de cumprir quarentena, adiando as sessões de treinamento. Ele já foi avisado disso.  

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