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'O torcedor do Palmeiras agora não sofre mais bullying', diz Nobre

Em entrevista exclusiva, presidente do clube destaca a recuperação da confiança do público

Por Ciro Campos e Daniel Batista
Atualização:

Paulo Nobre vive os últimos dias como presidente do Palmeiras. Talvez o período de agora até dezembro, quando assumirá o sucessor, Maurício Galiotte, seja o mais tranquilo dos quatro anos de gestão. Em entrevista exclusiva ao Estado na última semana, o dirigente contou quais as dificuldades enfrentadas e disse que como principal legado deixa a recuperação da alegria da torcida, que no domingo comemorou o título brasileiro após 22 anos de jejum.

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Qual o seu balanço desses quatro anos no comando do Palmeiras?

Foram os quatro anos mais intensos e mais 'verdes' na minha vida. Ser o presidente, nossa senhora, é uma responsabilidade gigantesca e só sendo presidente você tem a dimensão do tamanho real do Palmeiras. O Prass tinha razão quando disse que o Palmeiras não é grande, é gigante e tem milhões de pessoas que acompanham o Palmeiras, um clube que influencia a vida delas. Você é cobrado até de uma maneira cruel. Mas torcedores não têm compromisso com a administração, nem têm que ter. Foram dois mandatos. O primeiro foi mais uma lição de casa, de tirar o Palmieras da UTI. Se o Palmeiras fosse ume empresa, estaria falida em 2013 e não teria dinheiro para administrar o dia a dia. Tínhamos 25% da receita de um ano. Foram dois anos de remédio amargo, pegar um terreno onde eu imaginava que estava infértil, mas não, aquilo tinha entulho, cimento e asfalto. Conseguimos tirar tudo isso, até chegar à terra, para adubar e semear tudo. Muitos criticaram que colocaram tanto dinheiro no clube e não formei um bom time, mas esquecem que o Palmeiras tem um custo fixo para rodar e o dinheiro foi para a roda não parar. Tudo o que fizemos foi pensando em um projeto a médio prazo. Mas o que houve surpreendeu. Esses frutos começaram a ser colhidos no primeiro ano do segundo mandato, com a final do Paulista e o título da Copa do Brasil. E também Em 2016, como protagonista do Brasil no futebol. Existe uma máxima no futebol que se a bola não entra, a gestão não é boa. O mesmo chute, se entra, você é um gênio. Se bate na trave e vai para fora, você é um desgraçado.

Nobre assumiu presidência em 2012 e sairá em dezembro Foto: Nilton Fukuda/Estadão

E quem tirou o Palmeiras desse momento ruim?

Foi o próprio Palmeiras. A grandeza do clube que fez essa mudança. Eu na presidência conduzi o processo, mas de nada adiantaria se não fosse o Palmeiras. Qualquer outro que trabalhasse com seriedade, sem populismo e sem querer se vangloriar e se dedicar ao clube, conseguiria também. Talvez eu tenha encurtado um pouco, mas qualquer um que assumisse o clube e levasse o trabalho com seriedade, faria o mesmo.

Qual o legado da sua gestão para o próximo presidente, o Maurício Galiotte?

Pegar o Palmeiras com autoestima lá em cima. Quando o Palmeiras está de humor e confiando na gestão, eles realmente abraçam. O que eles fizeram com o Avanti, foi uma brincadeira. Hoje nós temos dois patrocínio master, que é o programa de sócio torcedor. E para deixar claro: por favor não ache que o Palmeiras está nadando em dinehrio. Apenas equacionamos as nossas dívidas de curto e médio para longo prazo. Assim, a gente pode planejar melhor o futuro e tem mais condições de melhorar o clube administrativamente e financeiramente. Mas as dívidas continuam existindo. Queria pedir um presente de Natal para o torcedor, que todo palmeirense vire Avanti. Vocês não têm ideia de como ajuda, porque somos milhões. E quem já é Avanti, que traga um amigo. Vamos tentar fazer isso e fazer com que em janeiro a gente tenha 200 mil Avanti, para o Galiotte ter mais poder de fogo e manter o nível. Como é gostoso chegar ao trabalho na segunda-feira e não ser gozado pelos amigos. Como é gostoso o filho não sofrer bullying. Todos os clubes recebem cotas de TV, mas só nós temos Avanti.

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Ficou alguma frustração?

Não fiz tudo o que gostaria. Sempre jogo a régua lá para cima pra buscar algo mais, mas isso não pode virar fonte de decepção, porque assim parece que você nunca está conseguindo os objetivos. Tinham algumas lições de casa que eu deveria ter feito e não consegui. 

Quais?

A gente pegou o Palmeiras na UTI, sobrevivendo por aparelhos. Hoje, o clube saiu do hospital, mas ainda está doente e tem um câncer que precisa ser expurgado. Não dá para ser tratado. Tem um câncer que eu comecei a tratar, mas futuramente mais coisa precisa ser feita para o futuro das próximas décadas do clube. Qual é o câncer eu deixo nas entrelinhas. Tem situações que são difíceis de conviver. Talvez fique frustrado por não conseguir operar esse cãncer, mas o Palmeiras é gigante e tem que saber lidar com essas situações. Sou otimista e acredito que a gente consiga se livrar dos males.

Sucessor de Nobre no Palmeiras será Maurício Galiotte Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O que foi feito para ter a virada administrativa?

Foi feito o simples, o arroz com feijão. Ninguém aqui é gênio. Apenas pegamos a roda e colocamos para rodar. O que foi feito é o que todo brasileiro deveria fazer em casa. Não gastar mais do que arrecada. Não tem mágica. Tivemos muita vontade política de colocar a casa em ordem, falar mais "não" do que "sim". Não adianta vc ser populista e não colocar a casa em ordem. 

Qual será a sua função na nova diretoria do Maurício Galiotte?

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Estarei à disposição durante todo o mandato. Ele foi um primeiro vice legal, esteve ao meu lado mesmo nos momentos mais difíceis. E ele pode ter certeza que do precisar, pode contar comigo. Mas da mesma maneira que não aceitei lotear a diretoria, é um princípio meu, ele não foi escolhido em troca de alguma contrapartida. Eu o escolhi por entender que no atual momento ele é a pessoa indicada para assumir. As pessoas precisam entender que ele esteve comigo há quatro anos, temos a mesma fiosofia. Mas a condução do Palmeiras é do Galiotte, não mais minha. Ele tem a maneira dele de conduzir e peço a todos os palmeirenses que apoiem o Maurício. Espero que uma oposição construtiva surja no clube.

É a favor do fechamento das ruas nos arredores do estádio?

Sou a favor de tudo que venha a coibir a violência e limitar os piratas, que ficam vendendo coisas do clube na porta do estádio, usando a grade do clube. Sou contra cambistas. Tudo o que possa coibir os cambistas tem o meu apoio. Virou brincadeira o furto de carteira e celulares. Sou contra esses ambulantes que vendem cervejas, não pagam impostos e ferem a lei, pois não podem vender bebida alcóolia a 300 metros do estádio. O que sempre pedi para a Polícia Militar é que colocasse ordem na Rua Palestra Itália e não deixasse a bandidagem tomar conta. A rua é um shopping a céu aberto. Claro que não sou contra a festa popular. Essa medida tem efeitos muito positivos, porque acabaram os furtos, o cambismo diminuiu absurdamente e os piratas não podem atuar lá dentro. Dou os parabéns para quem tomou essa medida.

Mas você não apoia a manifestação popular pelo Palmeiras?

Apoio que essa operação venha se lapidar jogo a jogo e que tenha em todos os jogos do Palmeiras. Espero que essa ação possa melhorar e incomodar menos o torcedor de bem, porque sei que muitas pessoas que queriam fazer festa têm problemas. Apoio tudo o que gera menos furto e prejuízo ao clube. Eu tenho que defender o torcedor de bem eo clube. Tomara que essa decisão separe o joio do trigo.

O que mudou no ambiente do Palmeiras para ter só um candidato à presidência? Está mais pacificado politicamente?

Não vejo o Palmeiras mais pacificado. Fiquei quatro anos sem oposição e é complicado você não ter um contraponto para ver o que está errando e acertando. Oposição construtiva é aquela que acompanha, critica de forma construtiva e que saiba elogiar quando a coisa é bem feita. O Galiotte tem um mérito por transitar bem em todos os subgrupos do Palmeiras da situação e oposição. O nome dele tem muito peso em não ter se conseguido fazer uma chapa de oposição. O fato da gestão ter um sucesso esportivo fez com que muitos falassem que não faria sentido lançar um outro candidato. Mas estamos longe de ter pacificação do clube.

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Pensa na possibilidade de emprestar dinheiro ao Palmeiras novamente?

Não é o objetivo. Quando coloquei dinheiro no clube não me orgulho disso. Não tinha outra solução. Mas se ele (Galiotte) precisar, não vou abandoná-lo. Acredito que não vai precisar, mas não vou deixar de apoiar o clube só porque não sou mais presidente.

Durante a sua gestão, você teve entreveros com a WTorre, com a Crefisa e com as organizadas. Você se considera uma pessoa difícil de lidar?

Eu me considero com uma personalidade muito forte e firme. Quem não gosta, diz que sou teimoso, ditador. Quem gosta, diz que sou firme. Pelo momento que atravessávamos, eu não faria uma presidência diferente. Eu não sou política. Eu tinha que decidir e falar "não". Agora é o Galiotte quem vai decidir e começar a dizer "não". Que ele não se decepcione se as pessoas que o adoram ficarem bravas assim que ele começar a recusar. Ele é bem mais político do que eu, por isso acho que nos completamos tão bem nos últimos meses. Quando cortam relação comigo, cortam com ele juntos. Tenho certeza que ele vai se dar bem com todos esses com quem tive problemas, ainda porque porque talvez o problema do patrocinador era eu não aceitava certas oposições leoninas que eles faziam. Mas acho que entre tapas e beijos a relação deu certo. Eles entraram em 2015, conseguimos duas finais no mesmo ano. A marca deles está extremamente difundida. Foi uma boa parceria, independente de qualquer rusga.

Qual será a sua rotina depois de sair do cargo?

Não faço ideia e só quero focar no que posso fazer. O futuro a Deus pertence. Só sei que estou tão acostumado a essa rotina, que vou ficar meio perdido no começo. Vou sentir muitas saudades do convívio de todas as pessoas. É natural que agente perca o contato. Minha vida vai mudar muito. Ainda não sei se voltar a correr de rally, viajar, operar na bola. Só sei que vou continuar torcendo pelo Palmeiras.

Antes de sair do cargo, vem algum reforço de peso? Isso é com o Mauricio, agora. 

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