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Taunsa quer avançar parceria com Corinthians e estuda arcar com os custos de Vitor Pereira

Só com a visibilidade do acordo com o clube paulista, empresa do agronegócio recuperou investimento na contratação de Paulinho, segundo afirmou o CEO da companhia ao "Estadão": empresa quer expandir seus investimentos de R$ 5,7 bi até 2028

Por Eugenio Goussinsky
Atualização:

A primeira ação da parceria entre Corinthians e o Grupo Taunsa, de agronegócio, foi o investimento total na contratação do meia Paulinho, em dezembro de 2021, cujos valores não foram relevados. Três meses depois, o CEO Cleidson Augusto Cruz afirmou ao Estadão que a empresa já recuperou o investimento, somente em função do aumento da visibilidade. Ele disseque, no período, houve um crescimento de 30% na demanda pela marca.

"Nosso objetivo com a parceria foi fazer algo além de um patrocínio convencional. Nesta relação, iremos abraçar o que estiver ao nosso alcance. O que não estiver, com meus relacionamentos, trabalharei para buscar parceiros e alternativas para a realização dos projetos. Nossa primeira ação foi a vinda do Paulinho e só com isso já incrementamos em 30% nossa demanda, em termos de procura, exposição e solicitação. Não significa que o aumento dos negócios chegou a esse patamar, mas já deu para praticamente equacionarmos o primeiro investimento", afirma.

A Taunsa analisa arcar com todos os custos da contratação do técnico Vitor Pereira e de sua comissão Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians

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O contato de Cruz com o presidente Duilio Monteiro Alves foi feito por meio de um amigo em comum de ambos, segundo informou o empresário. O objetivo da parceria, para a empresa, é o de expandir seus negócios, dentro de um investimento total da ordem de R$ 5,7 bilhões até 2028. A companhia, que iniciou com produção leiteira em 2008, em Araçatuba, ampliou suas atividades e, nestes pouco mais de 13 anos de atividade, passou a ter sede em Campinas (SP) e a realizar o plantio e produção de grãos, fornecer insumos, armazenar e exportar produtos como soja e milho. 

Agora, a Taunsa busca se aproximar dos maiores conglomerados do setor, como a JBS, Raízen Energia, Cosan, Ambev e Margrig Global Foods, integrando o futebol ao agronegócio, o setor cujo PIB (Produto Interno Bruto) mais cresceu no Brasil durante a pandemia. 

Cruz acredita que futebol e agronegócio têm muita coisa em comum, tanto no sentido de representarem muitas cadeias produtivas quanto para a própria identidade do Brasil. "São dois setores que têm muita sinergia. O Brasil ficou conhecido como o País do Futebol. Outros esportes também funcionaram para elevar a imagem de nossa nação. E o agronegócio brasileiro, nesta lista de pontos positivos, também é uma marca do País. Lá fora, transmite uma imagem longe desta que liga o agro ao desmatamento. Pelo contrário, trata-se de um setor que preserva o meio ambiente, a ponto de o Brasil ser um dos países com maior quantidade de terras cultiváveis, capazes de abastecer os mercados interno e externo com produtos diversificados e de qualidade".

CLUBE POPULAR

Nos últimos anos, os investimentos no futebol, de empresas do agronegócio, têm crescido e muito em função dos bons resultados do setor, em um momento no qual o abastecimento se tornou primordial, em meio à pandemia, e o preço das commodities (produto em estado bruto, como café, milho, soja) aumentou. Segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) o PIB do agronegócio teve um crescimento de 24,31% em 2020, representando 26,6% no PIB brasileiro (cerca de R$ 2 trilhões), contra 20,5% em 2019. 

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Tal crescimento foi determinante para que, neste momento, seis clubes da Série A e 12 da Série B do Campeonato Brasileiro tenham vínculos com empresas de agronegócio. A relação entre a Taunsa e o Corinthians, no entanto, se diferencia por ter trazido o agronegócio para um dos dois mais populares clubes do País. "Um time da grandeza do Corinthians tem um enorme poder de visibilidade, não só nos fortalecendo, como fazendo bem para o agronegócio de uma maneira geral", observa Cruz.

Para o Corinthians, que tem uma dívida próxima de R$ 1 bilhão, a parceria com a Taunsa é uma das maneiras de trazer receitas e de dar fôlego para o clube manter a competitividade, pelas palavras do presidente do clube, Duilio Monteiro Alves. "O agro é um dos setores mais robustos do Brasil. E esse é só começo, já que se trata de uma grande parceria, que estará presente em diversas ações e a partir da qual construiremos juntos o futuro do nosso clube", afirmou Duílio, na nota oficial que apresentou a parceria.

A Taunsa tem ampliado mercados, sendo uma subsidiária da ARJ Rolding, multinacional sediada em Dubai, nos Emirados Árabes, e atuando para a ARJ como exportadora de produtos agrícolas. 

O presidente do Corinthians, Duilio Monteiro Alves, comCleidson Augusto Cruz, CEO do Grupo Taunsa Foto: Felipe Szpak / Agência Corinthians

No início do mês, Cruz esteve no Oriente Médio, segundo ele, para visitar clientes e realizar novos negócios. Aproveitou para fazer mais contatos por meio do Corinthians e do futebol brasileiro. "A imagem do Corinthians ajuda a abrir portas. Inclusive, convidei um xeque para vir ao Brasil e conhecer a infraestrutura do clube para, quem sabe, também ser um investidor. Essa chance sempre existe", revela.

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Sociedade Anônima

Nem por isso, Cruz afirma haver, da parte dele, algum tipo de interesse em transformar o Corinthians em uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol), após a legislação que permite a mudança ter entrado em vigor no fim de 2021. "Na minha visão, não vejo a SAF como única solução. É uma ferramenta. O proprietário muitas vezes assume o clube, que vira empresa, e entrega a administração a gestores que podem não ter a capacidade e o conhecimento para tocar o negócio. Desta forma, tende a falir. O necessário é investir em gestão e em capacitação, independentemente de ser ou não uma SAF", diz.

Torcedor e empresário

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A relação de Cleidson Cruz com o Corinthians, no entanto, vem muito antes da atual parceria. O empresário afirma que, desde a infância, é um apaixonado torcedor do time. O Corinthians lhe remete a momentos inesquecíveis vividos com o pai, João Augusto Cruz, que morreu em 1999. Ele conta que a única vez que assistiu com o pai a um jogo no Pacaembu foi em 1990, nas semifinais do Brasileirão, quando o Corinthians venceu o Bahia por 2 a 1, de virada, com um gol de Neto, de falta.

"Estava com meu pai na frente do portão de entrada do Pacaembu quando houve uma confusão, a PM veio com a cavalaria e dispersou os torcedores. Olhei para o lado e não vi meu pai. Na correria, ele correu e subiu em uma árvore lá perto. Encontrei-o em cima do galho", lembra. Cruz ainda completa. "Sou mil por cento corintiano. Meu sonho era fazer algo pelo Corinthians. Agora, essa parceria é para mim uma união da paixão com a razão" afirma.

Cruz abriu a Taunsa em um momento no qual o Corinthians disputava a Série B do Brasileiro. A empresa foi criada em 5 de novembro de 2008 e, três dias depois, o Corinthians garantia o título da competição, ao vencer o Criciúma por 2 a 0, em Santa Catarina. O empresário atuava junto ao ministério de Angola e, para realizar aportes do país africano para o Brasil, inaugurou a empresa em solo brasileiro. 

O nome veio de uma busca na Internet, quando ele encontrou, no Paquistão, uma barragem na cidade de Taunsa, a Taunsa Barrage. O local é uma ferramenta para a agricultura da região, ao controlar o fluxo de água no rio Indo, com o objetivo de irrigação e de controlar as enchentes.

Nova comissão técnica

O contrato de parceria da Taunsa com o Corinthians vai até dezembro de 2023. Neste período, Cruz diz que várias iniciativas podem ser implementadas, dependendo de cada momento, sem necessariamente haver patrocínio na camisa. Apenas nos primeiros quatro jogos do Paulistão, até agora, a marca da empresa apareceu no uniforme do clube.

O empresário admite que a empresa analisa a viabilidade de arcar com todos os custos da contratação do técnico Vitor Pereira e de sua comissão. "É uma possibilidade, estamos estudando arcar com os custos envolvidos na contratação do Vitor Pereira. Em breve, novas ações serão implementadas. Vai haver novidades, não posso adiantar por questão de confidencialidade contratual", ressalta.

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Para Cristhian Lohbauer, presidente da CLB (CropLife Brasil), associação que reúne especialistas, instituições e empresas das áres germoplasma (mudas e sementes), biotecnologia, defensivos químicos e produtos biológicos, a parceria entre Corinthians e Taunsa tem tudo para desmistificar alguns preconceitos ligados ao agronegócio.

"É preciso acabar com esse ideia errada que diminui o agronegócio em relação à indústria. O agronegócio não são somente as commodities, que já são importantes. Incorpora uma cadeia logística que engloba tecnologia, insumos, ciência, máquinas, entre outros. Um grão de soja tem muitas implicações, não somente na agricultura. Envolve também áreas como genética e logística, está tudo embutido", diz.

Entre outras áreas ligadas ao agronegócio está a agroindústria, cadeia que transforma a matéria-prima originária da pecuária, da agricultura, das florestas (silvicultura) e da piscicultura, para a produção, por exemplo, de alimentos enlatados. O agronegócio também engloba os setores de biocombustíveis e financeiro, com bancos especializados em créditos para a atividade.

"Patrocina quem tem dinheiro e quem tem dinheiro neste momento é a indústria do agronegócio. Em vários setores, como na exportação de soja, milho, café, suco de laranja, o Brasil é o primeiro do mundo. É um equívoco dizer que o agronegócio concentra renda e empregos. Pelo contrário, há milhares de empresas brasileiras, não que as estrangeiras não possam contribuir também, investindo, diversificando, criando riquezas no setor. O Brasil só não afundou na pandemia porque o agro cresce e paga a conta", ressalta Lohbauer.

Na opinião do dirigente, o vínculo entre Taunsa e Corinthians ajuda a esclarecer o papel do agronegócio para a população das grandes cidades. "Esse preconceito em dizer que o agro não gera empregos, que o Brasil é um fazendão, tem de acabar. É ótimo que clubes populares como o Corinthians divulguem o agronegócio, o ambiente urbano ainda não entende completamente a importância deste setor, ficou em parte preso a estigmas e preconceitos que não contribuem com o desenvolvimento", diz.

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