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Saiba como o tênis entrou na vida de Tiafoe, cujos pais fugiram da guerra civil em Serra Leoa

Filho de dois imigrantes, americano de 24 anos enfrenta o espanhol Carlos Alcaraz nesta sexta-feira na semifinal do US Open e desperta interesse da modalidade no país africano

Por David Waldstein
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - Nos estádios e clubes de Freetown, Serra Leoa, o futebol é o esporte preferido. Mas na terça-feira, várias horas depois de Frances Tiafoe, filho de dois imigrantes da Serra Leoa, derrotar Rafael Nadal para chegar às quartas de final do US Open, o tênis entrou na conversa. “Ah, sim, agora se fala muito do Tiafoe”, disse Abdulai Kamara, um blogueiro de esportes e dono do Hereford Sierra Leone Football Academy, em entrevista por telefone. “Nós não acompanhamos o tênis de perto aqui, mas agora há algum interesse. Algumas pessoas estão curiosas sobre Frances e querem saber mais.”

Enquanto os fãs de tênis nos Estados Unidos estão empolgados que Tiafoe, que nasceu em Hyattsville, Maryland, se tornou o homem americano mais jovem a chegar às quartas de final do torneio em 16 anos, alguns em Serra Leoa estão orgulhosamente reivindicando a jovem estrela do tênis como seus também. O talentoso Tiafoe, de 24 anos, tem magnetismo e habilidades suficientes para dois países.

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Frances Tiafoe comemora vitória sobre Andrey Rublev no US Open. Foto: USA TODAY Sports / USA TODAY Sports

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A história inspiradora de Tiafoe começou quando seus pais – que ainda não haviam se conhecido – deixaram Serra Leoa rumo aos Estados Unidos na década de 1990 para escapar de uma guerra civil. Cada um deles se mudou para os Estados Unidos e, depois que se conheceram, se estabeleceram em Maryland e tiveram gêmeos, Franklin e Frances. O pai dos meninos, Constant Tiafoe, encontrou trabalho no canteiro de obras do Junior Tennis Champions Center em College Park, Maryland.

Constant Tiafoe trabalhava duro e lhe ofereceram o cargo de diretor de manutenção da instalação. Ele recebeu um escritório, onde às vezes os gêmeos dormiam. Ambos jogavam, mas Frances demonstrava uma paixão única, observando as aulas dadas aos meninos mais velhos no centro e imitando todos os seus movimentos, depois jogando bolas nas paredes e praticando com “fantasmas” nas quadras até escurecer. “Todas as histórias são verdadeiras”, disse Mark Ein, empresário e presidente do Citi Open em Washington.

Frances era obcecado por tênis

Mark Ein

Não demorou muito para que Frances começasse a exibir uma agilidade atlética única – velocidade e habilidade em quadra – combinada com uma sede quase insaciável pelo jogo. A princípio, os Tiafoes viam o tênis como um meio de os meninos garantirem uma vaga na universidade, que só parecia alcançável com uma bolsa de estudos. Constant Tiafoe deixou seu emprego no centro de treinamento para iniciar seu próprio negócio, mas acabou trabalhando com lavagem de carros enquanto a mãe dos meninos, Alphina, atuava como enfermeira. O dinheiro era escasso. “Não era para ser assim”, disse Frances Tiafoe na segunda-feira depois de derrotar Nadal.

Torcedores acompanham a partida entre Frances Tiafoe e Andrey Rublev no US Open no JTCC Junior Tennis Champions Center, em Maryland, onde Tiafoe começou sua carreira.  Foto: Erin Schaff/The New York Times

“Quando começamos no tênis, foi como se meu pai dissesse: ‘Seria incrível se vocês pudessem usar o esporte como uma bolsa de estudos integral para a universidade.’ Não podíamos pagar uma universidade. Então, use o tênis.” Mas Tiafoe brilhou tanto, em uma idade tão jovem, que a faculdade foi relegada a uma reflexão tardia quando uma lucrativa carreira profissional surgiu. Quando tinha 14 anos, em 2012, Tiafoe venceu o prestigioso torneio Petits As na França, na mesma época em que as publicações esportivas ficaram sabendo de sua educação humilde e fortuita no JTCC. No ano seguinte, Tiafoe venceu o Orange Bowl, um torneio importante perto de Miami para os melhores juniores do mundo.

Técnicos, empresários e torcedores mais experientes começaram a ver que Tiafoe poderia ser o próximo grande jogador americano, que por tanto tempo ficou sem um nome. Mas o desenvolvimento de atletas no jogo de hoje costuma ser lento, e Tiafoe, às vezes, teve dificuldades. Ele se tornou profissional em 2015 e, nos quatro anos seguintes, chegou à terceira rodada de um grande torneio apenas uma vez, em Wimbledon em 2018.

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Ele terminou o ano passado em 38º lugar no ranking da ATP e atualmente é o 26º. Agora, a popularidade de Tiafoe está aumentando rapidamente, não apenas entre as estrelas do futebol de Serra Leoa, mas também entre as do basquete, incluindo LeBron James, que parabenizou Tiafoe no Twitter. “Esse é o meu cara”, disse Tiafoe sobre Lebron James, um de seus ídolos. “Para vê-lo postar isso, eu fiquei tipo, ‘Eu retuito assim que ele postou?’ Eu fiquei tipo, ‘Quer saber? Vou agir como se não tivesse visto e retuitar três horas depois.’” A carreira de Tiafoe foi definida por altas expectativas, platôs, autoanálise e evolução.

Após a temporada de 2018, Tiafoe começou a ouvir das pessoas ao seu redor que precisava treinar mais, comer melhor e melhorar sua preparação – qualquer coisa que pudesse colocá-lo no top 5 do mundo. Durante um almoço, Tiafoe explicou ao seu empresário o que estava ouvindo e revelou sua resposta à pressão bem-intencionada dos outros.

“Ele disse a eles: ‘Não se preocupem’”, disse Ein. “‘Deixa comigo.’ Poucos dias depois, ele estava a caminho da Austrália, onde chegaria às quartas de final de um Slam pela primeira vez. Essa é a história de Frances Tiafoe.”

Muitas pessoas no mundo do tênis também conhecem a história do início da vida de Tiafoe em Maryland. Parte está sendo escrita no US Open, e outra em Serra Leoa, onde a lenda de Frances Tiafoe está apenas começando.

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