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Bianca Andreescu se beneficia de pausa prolongada após desgaste mental e volta focada ao tênis

Apesar de perder para Iga Swiatek, a melhor jogadora do ranking feminino, no Aberto da Itália, Andreescu está indo para o Aberto da França com mais saúde física e mental

Por Christopher Clarey
Atualização:

O primeiro Aberto da Itália de Bianca Andreescu tinha acabado de se interromper nas quartas-de-final contra Iga Swiatek, um rolo compressor disfarçado de estrela do tênis. Mas, mesmo depois de não conseguir evitar que Swiatek, líder do ranking, estendesse sua série de vitórias para 26 partidas, Andreescu ainda se sentou ao sol romano com um largo sorriso no rosto. A derrota nesta fase não tem a mesma dureza que teve em outras fases de sua carreira. “Honestamente, estou animada para voltar e jogar com ela de novo”, disse Andreescu em entrevista após sua derrota por 7-6 (2), 6-0, na sexta-feira. “Se eu olhar para mim mesma um ano atrás, houve muito progresso na maneira como estou lidando com a volta ao tour e minhas vitórias e derrotas. Estou super motivada. Quero voltar às quadras e trabalhar para ser mais agressiva e tudo mais”.

Canadense Bianca Andreescu tem conquistado mais espaço no mundo do tênis Foto: REUTERS/Alberto Lingria

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Andreescu, canadense de 21 anos dos subúrbios de Toronto, continua sendo um dos grandes talentos do tênis, o que ela deixou bem claro em 2019 ao conquistar o título de simples feminino do US Open em sua primeira tentativa, derrotando Serena Williams em dois sets.

Classificada em 4º lugar no ranking logo no mês seguinte, ela será a 72ª na segunda-feira, mas ainda tem aquela mistura de finesse e força e uma rara capacidade de mudar de ritmo e de efeitos. Ela também tem pernas poderosas que lembram Kim Clijsters e que a ajudam a cobrir a quadra de forma explosiva, apesar de não ter a alavancagem de jogadoras mais altas (ela tem 1,67m). “Não há golpe que ela não consiga acertar”, disse Daniela Hantuchová, comentarista e ex-jogadora do top cinco que estava comentando o jogo na sexta-feira, quando Andreescu e Swiatek se enfrentaram pela primeira vez no tour.

“Naquele primeiro set, Bianca não estava longe de seu nível mais alto”, disse Hantuchová. “Para mim, foi o melhor set do torneio feminino até agora. De certa forma, quase parece um espelho contra outro. Elas têm uma técnica diferente, mas têm a mesma disposição mental e sabem exatamente o que estão tentando fazer em termos táticos. São duas grandes atletas, e durante a partida eu só conseguia dizer que espero ver esse confronto mais vezes. Vai ser uma rivalidade maravilhosa”.

Mas, até agora, Andreescu, ao contrário de Swiatek, que tem 20 anos, foi apenas uma ameaça passageira. Ela sofreu uma série de lesões e, mais recentemente, o mal-estar que a levou a fazer sua mais recente pausa prolongada após o BNP Paribas Open em Indian Wells, Califórnia, em outubro de 2021, antes de retornar para um torneio em Stuttgart no mês passado.

Ela usou seu tempo de folga para fazer serviços comunitários, trabalhando em um hospital infantil e um abrigo para vítimas de violência doméstica. Ela foi a um retiro de bem-estar na Costa Rica e se concentrou no desenvolvimento de mais ferramentas mentais para complementar o trabalho de visualização e meditação que ela, assim como Swiatek, iniciou durante sua carreira júnior e citou como uma das chaves para seu sucesso precoce, embora intermitente.

“Depois de Indian Wells, eu legitimamente, tipo, não queria mais jogar”, disse ela. “Não sei se estava sendo dramática, mas era assim que eu estava me sentindo naquele momento. Mas agora estou super feliz por não ter parado, porque ter esse tempo de folga realmente me fez curtir mais meu tempo na quadra agora, porque foi uma decisão que veio de mim. Não foi nada externo, como lesões ou uma doença ou qualquer outra coisa. Foi decisão minha, então me senti muito empoderada, e foi um grande passo para eu ter mais controle sobre minha vida e não colocar pressão em mim mesma e simplesmente me divertir.

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“Durante essa folga, fiz basicamente tudo o que amo fazer e disse a mim mesma que, se voltasse, queria ter essa mesma mentalidade. Obviamente, quero ser competitiva e vou ficar chateada se perder, por exemplo, mas também quero sentir que estou me divertindo na quadra e que estou mais motivada depois de uma derrota, em vez de só rastejar para a cama e chorar a noite toda, que era o que eu estava fazendo no ano passado”.

Andreescu, assim como sua colega Naomi Osaka e alguns outros atletas proeminentes de sua geração, tem falado francamente sobre os desafios de saúde mental que ela enfrenta. Com três torneios desde seu último retorno, Andreescu está claramente em um lugar melhor e irá para o Aberto da França com o impulso no saibro vermelho que combina com seu jogo variado.

Ela chegou à entrevista de sexta-feira sem fita adesiva no corpo nem bolsas de gelo a tiracolo. “Nada”, disse ela. “Estou super grata pelo meu corpo, especialmente, porque as lesões têm sido um grande problema. Mas me vejo como uma grande jogadora de saibro se continuar indo bem e trabalhando duro nos treinos e acreditando em mim mesma”.

O desafio do tour – um teste de resistência e resiliência de dez meses – é manter a saúde e o entusiasmo. Sua equipe, comandada pelo técnico veterano Sven Groeneveld, está focada em mantê-la motivada e, de acordo com Andreescu, também cobrar mais. “Eles conseguem me cobrar sem que eu fique na defensiva, e acho que isso realmente ajuda”, disse ela.

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Groeneveld, cuja pupila de maior destaque nos últimos anos foi a agora aposentada Maria Sharapova, se recusou a comentar sobre Andreescu porque eles “ainda estão no começo” do relacionamento. Mas ele tem uma abordagem sistemática de seu trabalho: fica na quadra durante as partidas, anotando a pontuação ponto a ponto, juntamente com os principais padrões de jogo e outros detalhes, como os lapsos de concentração. “Daria para escrever uns dez livros com todas as anotações que ele fica fazendo. É hilário”, disse Andreescu.

Andreescu, como a primeira e única campeã canadense de singles em Grand Slam, já teve um livro escrito sobre ela chamado Bianca Andreescu: She the North, publicado em 2019, e ela mesma publicou um livro ilustrado no ano passado: Bibi’s Got Game: A Story about Tennis, Meditation and a Dog Named Coco.

Mas com a aposentadoria surpresa da atual campeã de Wimbledon e do Aberto da Austrália, Ashleigh Barty, no início desta temporada, as líderes do tour feminino só podem esperar que a história do tênis de Andreescu esteja apenas começando.

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Ela tem um jogo incandescente, como ficou claro para Hantuchová e qualquer outra pessoa que assistiu ao set de abertura na sexta-feira, antes de Swiatek entrar em uma marcha que Andreescu não estava pronta para enfrentar, pelo menos por enquanto. “Ela claramente ganhou alguma confiança naquele primeiro set”, disse Andreescu. “Eu estava tentando ser mais agressiva, mas pelo menos no segundo set estava errando por centímetros. Não é à toa que ela está numa sequência de 25 vitórias, 26 agora”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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