PUBLICIDADE

Publicidade

Ferrari se esforça para evitar a continuação do vexame na Fórmula 1 em 2020

Resultados ruins e crise internam pressionam dirigentes a pensar em soluções para temporada conturbada

Por Ian Parkes
Atualização:

Como muitas montadoras de automóveis, a Ferrari foi atingida pela pandemia. No mês passado, a empresa, que também inclui a equipe de Fórmula 1, anunciou uma receita de US$ 675 milhões no segundo trimestre, ante cerca de US$ 1,2 bilhão no mesmo trimestre do ano passado, depois que o lockdown forçou a Ferrari a produzir 2.000 carros a menos.

Os problemas são igualmente graves na Fórmula 1. A equipe conquistou 61 pontos nas primeiras sete corridas da temporada, a menor pontuação desde 2009. Em uma entrevista, Camilleri disse: "Não há como negar que estamos tendo uma temporada muito difícil".

Mecânicos da Ferrari treinam pitstop na pré-temporada, na Espanha Foto: Albert Gea/Reuters

PUBLICIDADE

Seria fácil para Camilleri fazer mudanças, principalmente no topo, algo que a empresa tem feito com frequência ao longo dos anos. Mattia Binotto foi nomeado chefe da equipe em janeiro de 2019 e é o quarto da Ferrari desde que Jean Todt deixou o cargo no fim de 2007. Em comparação, Christian Horner é o chefe da equipe da Red Bull desde 2005 e Toto Wolff dirige a Mercedes desde 2013.

"Devo dizer que tenho toda a confiança em Mattia Binotto e em sua equipe", disse Camilleri. "Os resultados não estão aí para provar o que estou dizendo, mas essas coisas levam tempo. Infelizmente, no passado, houve muita pressão e um histórico de pessoas sendo dispensadas. Havia uma sensação de que todos poderiam ser demitidos após um curto período de trabalho e estou colocando um fim nisso".

"O que precisamos é de estabilidade e foco. Se você olhar para o período de vitórias de campeonatos da Red Bull, da Mercedes hoje, além do talento, uma das principais coisas que eles tinham era estabilidade, e isso é algo que francamente tem faltado em nossa equipe."

O que precisamos é de estabilidade e foco. Se você olhar para o período de vitórias de campeonatos da Red Bull, da Mercedes hoje, além do talento, uma das principais coisas que eles tinham era estabilidade, e isso é algo que francamente tem faltado em nossa equipe

Louis Camilleri, CEO da Ferrari

Ele elogiou a era Todt, durante a qual a equipe conquistou seu primeiro título de construtores em 16 anos, em 1999. De 2000 a 2004, a Ferrari ganhou mais cinco campeonatos por equipes e Michael Schumacher cinco títulos de pilotos.

"Se eu olhar para trás, para o calibre de Jean Todt, Michael Schumacher, Ross Brawn", disse ele, nomeando o diretor técnico na época, "e todos esses caras, foram necessários seis anos para chegar ao que finalmente se tornaram - esta fenomenal equipe vencedora."

Publicidade

"Por isso, quero garantir que a estabilidade permaneça, apesar da pressão inacreditável que existe sobre a equipe, principalmente da mídia italiana, que às vezes é bastante brutal, pedindo para que rolem cabeças, mas essa não é a solução. Isso não significa, no entanto, que não consideraremos injetar habilidades e recursos adicionais na equipe existente."

Já se passaram 12 anos desde que a Ferrari ganhou um título de equipe e 13 desde que um piloto foi campeão. Para ajudar a resolver esse problema, em 2015, Sebastian Vettel foi trazido da Red Bull, onde ganhou quatro títulos como piloto.

Matia Binotto é o atual chefe da Ferrari na Fórmula 1 Foto: Reuters

Mas sua jogada coincidiu com o domínio da Mercedes e de seu piloto Lewis Hamilton, e nem Vettel nem a Ferrari conquistaram outro título desde então. Em maio, a Ferrari anunciou que Vettel seria substituído pelo piloto da McLaren Carlos Sainz Jr. para a próxima temporada.

PUBLICIDADE

"Não foi uma decisão fácil, mas pensamos muito, como você pode imaginar", disse Camilleri. "Sebastian agregou muito valor à Ferrari, mas, em última análise, tivemos que decidir em termos de um futuro a longo prazo." Ele acrescentou que ter Sainz junto com Charles Leclerc "era um ajuste melhor no que diz respeito aos planos futuros".

Então Binotto, que trabalhou para Todt, está fazendo mudanças. Ele disse que era grato pelo apoio de Camilleri e do presidente John Elkann. "Não é a primeira vez que tivemos temporadas difíceis na Ferrari", disse Binotto. "Lembro-me muito bem de como é difícil, por isso, quando vim para este emprego, estava certamente à espera de tempos difíceis".

E quando você está nesses tempos, é importante manter a estabilidade, permanecer focado e realmente ter certeza, como uma equipe, se há algo que precisa ser resolvido ou melhorado, você toma as decisões certas e segue em frente para algo melhor.

Matia Binotto, Chefe da Ferrari

 "E quando você está nesses tempos, é importante manter a estabilidade, permanecer focado e realmente ter certeza, como uma equipe, se há algo que precisa ser resolvido ou melhorado, você toma as decisões certas e segue em frente para algo melhor."

Camilleri, que também é presidente da Philip Morris International, disse que a Ferrari vinha operando com "uma visão relativamente de curto prazo das coisas", com seus funcionários trabalhando de forma independente e não em equipe. "Eu trouxe uma estratégia focada mais no longo prazo, principalmente em termos de investimentos, dobrando nosso dispêndio de capital", disse ele, que aumentou o capital investido de US$ 887 milhões para US$ 946 milhões, de US$ 414 milhões para US$ 437 milhões.

Publicidade

"Fazer as pessoas trabalharem mais em equipe, isso sempre leva um pouco de tempo”, disse ele. “Você não muda de comportamento da noite para o dia."

Os planos de Camilleri também incluem a avaliação de outros programas de corrida. A Ferrari está considerando a IndyCar e, pela primeira vez, correr em Le Mans na categoria de protótipos. Tradicionalmente, ela tem competido apenas nas categorias GT.

"Estamos estudando a Indy" disse ele. "Depende um pouco da flexibilidade em termos de seus regulamentos futuros", acrescentou ele, observando que o chassi e a aerodinâmica são bastante padrão, "o que entendemos que eles fizeram como um exercício de contenção de custos".

Mas a empresa não está considerando entrar na Fórmula E, apesar das equipes de outras montadoras de automóveis na série de corridas de carros elétricos. "Não achamos que seja necessariamente relevante para nosso percurso, embora muito da Fórmula E seja muito padronizado", disse ele. "Gostamos de ir a lugares onde possamos nos diferenciar. É difícil ver onde você pode obter uma vantagem competitiva."

Um retorno aos primeiros lugares na Fórmula 1 é o objetivo principal da Ferrari./TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.