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Vídeo mostra assessor de Bolsonaro, e não agente da PF, justificando saques feitos por Mauro Cid

Defesa do ex-presidente disse não haver irregularidades em pagamentos em dinheiro vivo feitos por ajudante de ordem; Polícia Federal não afirmou que Bolsonaro é o ‘mais humilde de todos os presidentes’

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Foto do author Clarissa Pacheco

O que estão compartilhando: vídeo de entrevista coletiva com dois homens; um deles afirma não haver irregularidades em saques e pagamentos feitos com dinheiro vivo por Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), preso em operação da Polícia Federal (PF). Sobre as imagens, um texto afirma que a PF confirmou que Bolsonaro é o “mais humilde de todos os presidentes”.

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O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O vídeo mostra o trecho de uma entrevista coletiva conduzida pelo assessor de imprensa de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, com a presença de três advogados do ex-presidente: Marcelo Bessa, Paulo Amador da Cunha Bueno e Daniel Tesser. Não há ninguém da Polícia Federal nas imagens, nem qualquer declaração da PF atestando que Bolsonaro seja o “mais humilde de todos os presidentes”. As investigações sobre o caso ainda estão em andamento.

Leitores do Verifica pediram a checagem deste conteúdo por WhatsApp, no número (11) 97683-7490.

À esquerda, Fabio Wajgarten, assessor de Bolsonaro; à direita, Paulo Amador da Cunha Bueno, advogado criminalista Foto: Reprodução

Saiba mais: o vídeo investigado mostra duas pessoas em uma mesa. À esquerda da imagem aparece Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) e atual assessor de imprensa de Bolsonaro. É ele quem fala no vídeo, e não um representante da Polícia Federal. À direta está o advogado criminalista Paulo Amador da Cunha Bueno, da defesa de Bolsonaro, que não chega a falar no trecho recortado.

A entrevista coletiva aconteceu na noite de 15 de maio de 2023 na sede do Partido Liberal (PL), em Brasília, quando Wajngarten e os advogados falaram sobre saques e depósitos em dinheiro vivo feitos pelo coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro nos quatro anos de governo, de 2019 a 2022. A PF afirmou em um relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que por meio desses depósitos Cid “desviou e concorreu para desviar dinheiro público”.

Na entrevista coletiva, a defesa de Bolsonaro alegou que os saques foram feitos da conta pessoal de Bolsonaro para pagamento de despesas que não eram vinculadas a um CNPJ, como serviços de autônomos, por exemplo. Wajngarten negou, também, que tenha sido usado cartão corporativo para pagamento de despesas pessoais da família do ex-presidente. Segundo ele, nunca foi criada uma senha para o cartão corporativo de Bolsonaro.

É de Wajngarten a fala que aparece no vídeo: “Repito e quero frisar aqui: não há confusão de saques. Não há cruzamento de saques. Cem por cento do custo de vida da família do presidente Bolsonaro saiu exclusivamente da conta pessoal do presidente”.

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Procurada pelo Estadão Verifica, a PF se limitou a enviar um link para as últimas notícias publicadas no site oficial da instituição. Não há qualquer referência ao caso em questão, nem manifestação em defesa de Jair Bolsonaro.

Saques em espécie

A entrevista coletiva ocorreu na segunda-feira seguinte à notícia que a PF havia interceptado uma conversa entre o coronel Mauro Cid e uma assessora de Michelle Bolsonaro, que sugere uma orientação para o pagamento de despesas da ex-primeira-dama. Na conversa, Mauro Cid demonstra preocupação que o pagamento fosse interpretado como o esquema de rachadinha.

Durante a coletiva do dia 15 de maio, Wajngarten e os advogados afirmaram que os pagamentos em feitos em dinheiro vivo por segurança e que representavam gastos “pequenos”, como compra de uma pizza ou manicure para Michelle. Os saques variavam de R$ 5,6 mil a R$ 25,3 mil por mês.

Ajudante de ordens de Bolsonaro durante os quatro anos de mandato, o coronel Mauro Cid foi preso em 3 de maio em operação da PF sobre fraude em certificados de vacinação contra a covid-19. REUTERS/Adriano Machado Foto: Adriano Machado/Reuters

Cartão corporativo

A defesa de Bolsonaro ainda afirmou na ocasião que ele nunca usou cartão corporativo e que não havia sequer criado uma senha para o uso do cartão. Apesar disso, dados obtidos em janeiro deste ano pela agência Fiquem Sabendo e analisados pelo Estadão mostram despesas expressivas em hotéis de luxo, sorvetes e cosméticos, além de gastos em motociatas e viagens para parentes do ex-presidente.

Foram 59 tipos de despesas feitas no cartão, sendo R$ 13,6 milhões em hospedagens. Também há despesas em restaurantes, como o Sabor de Casa, em Roraima, que vende quentinhas a R$ 20 e onde o cartão foi usado no dia 26 de outubro de 2021 para o pagamento de uma nota de R$ 109 mil. A padaria Santa Marta, no Rio de Janeiro, tem 20 notas que variam de R$ 880 a R$ 55 mil.

Há ainda gastos com hospedagem para seguranças que acompanharam Michelle Bolsonaro em viagens de lazer aos estados de Alagoas, São Paulo e Goiás, e também para os custos de segurança de viagens dos filhos Jair Renan e Carlos Bolsonaro ao Rio de Janeiro e a Brasília, respectivamente.

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