Postagem usa vídeo de 2016 para alegar que governo tirou verba da saúde para bancar evento LGBT

Conferência ocorreu em Brasília e foi promovida pela Secretaria de Direitos Humanos em conjunto com outros cinco eventos

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Por Clarissa Pacheco
Atualização:

O que estão compartilhando: que o governo federal está cortando dinheiro da saúde, da segurança e do Auxílio Brasil (atual Bolsa Família) para poder bancar viagens e hospedagens de LGBTs para uma conferência.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O vídeo foi gravado em 2016, e não em 2023, por um homem que entrevistou pessoas que teriam participado da 3ª Conferência Nacional de Políticas Públicas de Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. A conferência ocorreu em Brasília (DF), entre os dias 24 e 27 de abril de 2016, e foi promovida pela então Secretaria Especial de Direitos Humanos (SDH) do governo federal.

 Foto: Arte/Estadão

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Saiba mais: O vídeo engana ao alegar que o PT deixou de investir em saúde para “patrocinar luxo e passagem aérea para inúmeros LGBTs”, e ainda adota discurso preconceituoso ao abordar mulheres trans e afirmar que elas são homens. A legenda inserida em postagens compartilhadas no Facebook também desinforma ao afirmar que o governo fez cortes na saúde, segurança e Auxílio Brasil para custear o evento, que foi organizado, na verdade, há sete anos.

O vídeo acumula mais de 9 mil visualizações no TikTok e também foi compartilhado no Facebook. Leitores do Estadão Verifica pediram a checagem do conteúdo por meio do WhatsApp, no número (11) 97683-7490.

O primeiro indício de que o vídeo não é recente é a camisa usada por uma das pessoas entrevistadas. É uma mulher chamada Carla, que afirma ter saído de Rondônia para participar do evento. A camisa tem a logomarca da 3ª Conferência Nacional de Políticas Públicas de Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais de 2016.

Na parte inferior, é possível identificar, também, o logotipo do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT): o nome do Brasil em letras verdes com fundo amarelo, seguido do slogan “Pátria Educadora”.

Camisa usada por pessoa que aparece no vídeo é da 3ª Conferência Nacional de Políticas Públicas de Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, ocorrida em 2016 Foto: Reprodução

Uma busca pelo nome do evento no Google leva a uma publicação no site do governo federal em 25 de abril de 2016, segundo dia do evento e também ao relatório final da Conferência.

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Conferência fez parte de conjunto de cinco eventos

Em 2016, a 3ª Conferência Nacional de Políticas Públicas de Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais foi organizada pela Secretaria de Direitos Humanos, vinculada ao Ministério das Mulheres, Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos.

Atualmente, os Direitos Humanos têm um ministério próprio – o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) –, e a pasta respondeu ao Estadão Verifica que o vídeo investigado trata de uma conferência realizada em 2016 em conjunto com outros cinco eventos: a 2ª Conferência Nacional de Direitos Humanos; 10ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente; 4ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa; e 4ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

“O custeio de passagens e diárias dos delegados para eventos dessa natureza faz parte dos trâmites regulares e se constitui como essencial para assegurar que o aspecto econômico não exclua a participação de todos os atores que integram esse processo”, disse o MDHC, em nota. Segundo o relatório final da conferência, o evento contou com 919 pessoas credenciadas, sendo 845 delegados.

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Não é correto afirmar, como diz o narrador do vídeo e as legendas compartilhadas junto com ele, que o governo cortou verba da saúde, da segurança pública ou do Auxílio Brasil para “custear luxos para LGBTs”, já que os orçamentos são distintos e, portanto, vinculados a ministérios diferentes. O MDHC não conseguiu informar até a publicação desta verificação qual o valor pago nas passagens há sete anos.

Além disso, na época do evento, não havia um programa chamado Auxílio Brasil – este foi criado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para substituir o Bolsa Família, que foi rebatizado com o nome de origem em 2023, no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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