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Não, governo federal não vai importar arroz ‘falso’ da China

Postagens alegam que União comprará alimento de ‘plástico’ e ‘papel’; na verdade, Conab definiu que grão importado deve ser natural e do tipo 1, o que exclui produtos sintéticos

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O que estão compartilhando: que o governo Lula está importando arroz de plástico e papel da China.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o aviso do leilão que prevê a compra de arroz define que o produto deve ser natural e do tipo 1 – isto é, da melhor qualidade. Isso descarta a possibilidade da compra de arroz sintético. Conforme o governo federal, apesar da maior parte das importações de arroz no Brasil serem do Mercosul, há possibilidade de compra de outras origens, como Tailândia. As postagens analisadas aqui usam o vídeo da fabricação de um tipo de arroz chinês que usa farinhas de diferentes grãos. Ou seja, o produto não é de plástico ou de papel.

Não, governo federal não irá importar arroz ‘falso’ da China Foto: Reprodução/Instagram

Saiba mais: diferentes postagens virais nas redes sociais alegam que o governo federal irá importar arroz “falso” da China. Como prova disso, as publicações anexam vídeos variados que demonstrariam o processo de produção do grão no país asiático. Usuários afirmam que o alimento seria feito de plástico ou papel, mas essa afirmação não tem base factual.

Arroz importado será do tipo 1

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No dia 7 de maio, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o governo federal poderá importar até um milhão de toneladas de arroz. O anúncio ocorreu no contexto do desastre ambiental no Rio Grande do Sul, Estado responsável por cerca de 70% da safra nacional. O ministro explicou que a medida é uma forma de evitar um possível aumento no preço do grão.

Em 15 de maio, a Conab publicou os parâmetros para importação de arroz. De acordo com o documento, o “produto deverá ter aspecto, cor, odor e sabor característico de arroz beneficiado polido longo fino tipo 1, sendo vedada a aquisição de arroz aromático”. Isso significa que o arroz adquirido deverá ser natural e da melhor qualidade, o que descarta a compra de produtos sintéticos.

Ao Verifica, a Conab informou que o edital da companhia prevê que a “compra do arroz poderá ter origem em todos os países produtores e exportadores de arroz e que as variedades sejam compatíveis ao consumo brasileiro, conforme Instrução Normativa do Ministério da Agricultura e Pecuária n.º 06/2009″. O regulamento especifica que o arroz é proveniente da espécie Oryza sativa L. Ou seja: não deve ser de plástico ou de papel, ao contrário do que afirmam as postagens.

Nesta segunda-feira, 20, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) confirmou que o governo zerou a tarifa de importação de três tipos de arroz: dois tipos de arroz não parboilizados (descascado e com casca) e um tipo de arroz beneficiado, polido ou brunido. A pasta informou que a medida foi aprovada em reunião extraordinária do Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) para “garantir o abastecimento” do produto. O leilão de compra de 104 mil toneladas de arroz estava previsto para ocorrer nesta terça-feira, 21, mas foi suspenso.

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Como explicou o Estadão, a maior parte do arroz importado no País provém do Mercosul, que já era livre do imposto de importação. Para cereal de outros países, contudo, era aplicada a Tarifa Externa Comum de 9% para o arroz não parboilizado com casca ou descascado e de 10,8% sobre o arroz beneficiado polido ou brunido. O MDIC considera que há potencial para importação de arroz de outras origens, como a Tailândia.

Vídeos compartilhados nas redes sociais

Diversas publicações nas redes sociais utilizam um vídeo da fabricação de arroz pela empresa chinesa Sunpring. Com base no processo de produção, as postagens afirmam que o cereal seria feito de plástico – o que não é verdade. Na realidade, a própria empresa explica que o arroz é feito por meio de uma mistura de farinhas de diversos grãos.

De acordo com a Sunpring, o arroz artificial pode conter milho, trigo, aveia, soja, vitamina de amido e nutrientes como cálcio, zinco e ferro. Além disso, a empresa indica que o próprio arroz quebrado pode ser utilizado como matéria-prima. Veja abaixo o processo.

Críticas à medida de importação

Desde que o governo anunciou a importação de arroz em razão das enchentes no Sul, diversas postagens opinativas nas redes sociais criticam a ação. Como mostrou o Estadão Verifica, os produtores afirmam que não há desabastecimento e especialistas divergem sobre a medida.

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O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, afirmou não existir qualquer problema com relação ao abastecimento de arroz, sem necessidade urgente de importação. O governo argumenta que o intuito não é competir com produtores de arroz, e sim evitar especulação financeira e estabilizar o preço do produto.

De acordo com o governo, a primeira remessa de arroz será destinada à venda para pequenos varejistas e equipamentos públicos de segurança alimentar e nutricional das regiões metropolitanas dos estados de São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Pará e Ceará. O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, disse que o arroz importado custará R$ 4 o quilo.

Como lidar com postagens do tipo: as consequências do desastre ambiental no Rio Grande do Sul são alvo de desinformação nas redes sociais. Antes de compartilhar um conteúdo, busque se informar em fontes seguras e confiáveis. Essas postagens também foram desmentidas pelo Boatos.org e Aos Fatos.

Se receber algum conteúdo suspeito, envie para o WhatsApp do Estadão Verifica pelo número (11) 97683-7490.

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Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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