44º dia de guerra: Ataque a estação de trem deixa ao menos 50 mortos e UE anuncia novas sanções

Tropas russas continuam avançando para o Leste; países anunciam doação de equipamento militar à Ucrânia

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Por Redação
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KIEV — Ao menos 50 pessoas morreram e outras 98 ficaram feridas em Kramatorsk, no leste da Ucrânia, após mísseis russos atingirem uma estação de trem da cidade nesta sexta-feira, 8. O ataque gerou ira da comunidade internacional, que já se mobilizava para endurecer medidas contra Moscou.

Nesta sexta-feira, a União Europeia aprovou formalmente o quinto pacote de sanções contra a Rússia desde que o país invadiu a Ucrânia, no dia 24 de fevereiro. Pela primeira vez, as sanções atingem o setor energético russo, com proibições à importação de carvão, madeira, produtos químicos e outros. As medidas também impedem que um terço dos navios e parte dos caminhões que operam na Rússia acessem a UE, prejudicando ainda mais o comércio, e proíbem todas as transações com quatro bancos russos, incluindo o VTB.

Países europeus manifestaram apoio à Ucrânia anunciando o envio de novos equipamentos militares. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, informou nesta sexta-feira que o país irá doar mais mísseis antitanques e antiaéreos à Ucrânia, após o ataque que qualificou, ao lado de seu colega alemão, Olaf Scholz, como “atroz”. O premiê eslovaco, Eduard Heger, anunciou o envio de um sistema de defesa aérea S-300 para a Ucrânia.

Ataque russo deixou ao menos 50 mortos e 98 feridos Foto: Andriy Andriyenko / AP

Enquanto isso, tropas russas continuam sua marcha para o leste. A estratégia – anunciada pelo próprio país e observada pela inteligência ucraniana e internacional – é focar os ataques na região de Donbas. Autoridades ucranianas da região pedem que civis se retirem das cidades próximas o quanto antes.

‘Por nossos filhos’

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Um míssil com a inscrição “por nossos filhos” caiu na manhã desta terça-feira em uma estação de trem em Kramatorsk, no leste da Ucrânia, onde centenas de pessoas se aglomeram todos os dias na esperança de deixar a cidade. O ataque deixou ao menos 50 pessoas mortas e feriu outras 98.

O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, afirmou que o ataque foi deliberado contra os civis, com o uso de um míssil balístico de curto alcance (Tochka U). Em uma videochamada com parlamentares da Finlândia, Zelenski disse que não havia tropas ucranianas no local na hora do ataque.

“Sem força e coragem para nos enfrentar no campo de batalha, as tropas russas estão destruindo cinicamente a população civil”, disse Zelenski em um comunicado. “Este é um mal que não tem limites. E se não for punido, nunca vai parar.”

Foguete russo tinha inscrição "para nossos filhos" pintada em letras brancas Foto: Anatolii STEPANOV / AFP

O slogan “por nossos filhos”, pintado em letras brancas e russo, costuma ser usado pelos separatistas pró-Rússia para se referir a seus filhos mortos na guerra do Donbass, que começou em 2014.

Avanço para o leste

Kramatorsk fica na região de Donetsk, onde há separatistas russos que apoiam a invasão militar iniciada em 24 de fevereiro.

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A caminho de Donbas, Moscou vem intensificando os ataques no leste. Nesta semana, tanques de combustível ucranianos que serviam para abastecer as forças armadas do país foram alvos de bombardeios russos nas cidades de de Mikolaiv, Dnipropetrovsk e Luhansk, no sul e no leste ucraniano. O exército ucraniano se prepara para a ofensiva.

Em sua primeira estratégia de guerra, cuja intenção era tomar o poder em Kiev, o desempenho das forças russas foi considerado ruim por analistas. A Ucrânia conseguiu resistir durante 30 dias e enfraqueceu os invasores. As perdas russas foram reconhecidas pelo próprio porta-voz de Moscou, Dmitri Peskov, nesta quinta-feira, 7. “Temos perdas significativas de tropas e é uma grande tragédia para nós”, disse Peskov ao canal britânico Sky News.

Segundo Moscou, o foco agora é “libertar” das mãos da Ucrânia a região de Donbas, formada por duas províncias do sudeste parcialmente controladas por separatistas apoiados pela Rússia desde 2014. A situação seria semelhante à anexação da Crimeia.

Ataques contra unidades de saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que ao menos 103 postos de saúde e ambulâncias ucranianas foram atacadas desde que as forças russas invadiram o país em 24 de fevereiro. A OMS escreveu que o contexto da guerra representa um “marco sombrio”. Segundo a organização, os ataques resultaram em 73 mortes e 51 feridos. Destes, a maioria ocorreu em unidades de saúde, enquanto 13 afetaram o transporte de doentes e feridos, incluindo ambulâncias.

O diretor geral da OMS,Tedros Adhanom Ghebreyesus,informou que a Rússia atacou centenas de unidades de saúde na Ucrânia  Foto: EFE / EFE

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Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, disse que a organização estava “indignada com o fato de os ataques à saúde continuarem” e que atacar os serviços de saúde era uma violação do direito internacional humanitário. “A paz é o único caminho a seguir”, disse ele. “Peço novamente à Federação Russa que pare a guerra.”

Novas sanções

A União Europeia aprovou formalmente o quinto pacote de sanções contra a Rússia. As medidas afetam principalmente o setor energético, o comércio e o sistema bancário.

A proibição das importações de carvão entrará em vigor totalmente a partir da segunda semana de agosto. Nenhum novo contrato para adquirir carvão pode ser assinado a partir desta sexta-feira, quando as sanções serão publicadas no jornal oficial da UE.

Os contratos existentes terão que ser rescindidos até o limite da segunda semana de agosto, o que significa que a Rússia pode continuar a receber pagamentos da UE pelas exportações de carvão até lá.

UE anunciou quinto pacote de sanções à Rússia; pela primeira vez, setor energético será atingido 

Além do carvão, as novas sanções da UE proíbem as importações da Rússia de outras commodities e produtos, incluindo madeira, borracha, cimento, fertilizantes, frutos do mar de alta qualidade, como caviar, e bebidas como vodka. Isso deve atingir a Rússia com a perda de mais 5,5 bilhões de euros por ano com receitas.

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Outros produtos incluídos nas proibições de importação são combustível de aviação, computadores quânticos, semicondutores avançados, eletrônicos de ponta, software, máquinas sensíveis e equipamentos de transporte, o que equivale a 10 bilhões de euros por ano como receitas para a Rússia.

As sanções também proíbem empresas russas de participar de compras públicas na UE e estendem as proibições no uso de criptomoedas, que são consideradas um meio potencial para contornar as medidas.

Ajuda militar

Londres vai enviar à Ucrânia equipamentos militares com valor estimado de US$ 130 milhões, anunciou o premiê Boris Johnson nesta sexta-feira. No pacote, estão mísseis antiaéreos Starstreak e outros 800 mísseis antitanques.

O ataque à estação de Kramatorsk “mostra a escuridão em que o outrora renomado exército de Putin está mergulhado”, declarou Johnson em uma coletiva de imprensa conjunta com o chanceler alemão Olaf Scholz.

O primeiro-ministro eslovaco, Eduard Heger, anunciou a doação de um sistema de defesa aérea S-300 à Ucrânia. Ele destacou, no entanto, que a entrega não significa que seu país “faça parte do conflito armado na Ucrânia” e que a doação é uma resposta ao pedido de assistência feito por Kiev para sua “legítima defesa”, de acordo com o artigo 51 da Carta da ONU.