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África do Sul inicia semana de homenagens a Desmond Tutu

Funeral de um dos últimos líderes da luta contra o apartheid ocorrerá no dia 1º de janeiro

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Por Redação
Atualização:

CIDADE DO CABO - A África do Sul iniciou nesta segunda-feira, 27 uma semana de luto pela morte do arcebispo Desmond Tutu, grande símbolo da luta contra o apartheid e um carismático comunicador, que deixa o país órfão. Diversas homenagens serão realizadas.

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O funeral ocorrerá em 1º de janeiro na catedral de São Jorge da Cidade do Cabo, sua antiga paróquia, onde os sul-africanos depositam flores em homenagem a um dos grandes nomes da história do país. O corpo de Tutu será levado na sexta-feira para uma capela da catedral, antes da cerimônia cremação.

Devido à covid-19, a participação será limitada a 100 pessoas, informou a Igreja Anglicana, que pediu aos fiéis que acompanham a missa de casa.

Arcebispo emérito Desmond Tutu (E) e o líder espiritual dalai lama interagem com crianças em uma escola tibetana emDharmsala, Índia, em imagem de 23 de abril de 2015 Foto: AP Photo/Ashwini Bhatia

A Igreja Anglicana anunciou uma semana de homenagens. Desta segunda até sexta-feira, os sinos da catedral de São Jorge tocarão por 10 minutos a partir do meio-dia para recordar o símbolo da luta contra o apartheid. O arcebispo da Cidade do Cabo pediu que, aqueles que desejarem, "façam uma pausa em suas tarefas" para pensar em Tutu.

Na quarta-feira, a diocese de Pretória e o Conselho de Igrejas da África do Sul organizarão uma cerimônia na capital. Na quinta-feira à noite, está programada uma cerimônia íntima para a viúva de Tutu, Nomalizo Leah Shenxane, conhecida como "Mama Leah", a família e os amigos.

O ganhador do Nobel da Paz em 1984, que morreu no domingo aos 90 anos, estava afastado da vida pública. Mas todos lembram de sua figura, tenacidade e sinceridade ao denunciar as injustiças. 

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, visitou a família nesta segunda-feira. "Era corajoso, sincero e gostávamos dele por isso: porque dava voz àqueles que não têm", declarou o chefe de Estado à imprensa ao deixar a casa de Tutu na Cidade do Cabo.

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Lembranças

"Quando éramos jovens militantes, se o arcebispo Tutu estava presente, a polícia e o exército nunca atiravam. Por quê? Realmente não sabemos. Mas ele servia de escudo", tuitou Panyaza Lesufi, uma das líderes do Congresso Nacional Africano (ANC), partido que atuou para acabar com o apartheid e governa a África do Sul desde 1994.

O "Arch", diminutivo de arcebispo em inglês, como ele era chamado de maneira carinhosa no país, "é o último de uma geração extraordinariamente notável de líderes africanos", escreveu nesta segunda-feira a viúva de Nelson Mandela, Graça Machel, ao lamentar "a perda de um irmão".

"Do alto de seu púlpito, utilizando com habilidade sua autoridade moral, Arch condenou com paixão o apartheid e exigiu com eloquência sanções contra o regime racista", recordou a militante moçambicana. Com a "coragem indescritível" que tinha para lutar, "permanecia decidido e sem medo, liderando as manifestações, com sua roupa clerical e seu crucifixo como escudo", descreveu, antes de revelar que Tutu estimulou "Madiba (Mandela) e ela" a oficializar sua união com o casamento.

As homenagens continuam chegando de todo mundo: de chefes de Estado a líderes religiosos.

O papa Francisco destacou o papel do sul-africano na "promoção da igualdade racial e da reconciliação". O Dalai Lama, velho amigo de Tutu, elogiou "um grande homem, totalmente dedicado ao serviço de seus irmãos e irmãs".

Liderança

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Desmond Tutu ganhou notoriedade nos momentos mais obscuros do apartheid, quando liderou passeatas pacíficas contra a segregação e para defender sanções contra o regime de supremacia branca de Pretória. 

Ao contrário de outros ativistas da época, a posição de líder religioso o salvou de ser preso e sua luta pacífica foi reconhecida com o Prêmio Nobel da Paz em 1984.

Após a chegada da democracia em 1994 e da eleição de seu amigo Nelson Mandela como presidente, Desmond Tutu, que criou o termo "Nação Arco-Íris" para a África do Sul, presidiu a Comissão da Verdade e da Reconciliação, criada com a esperança de virar a página do ódio racial. / AFP

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