Biden abre 'Cúpula da Democracia' com crítica a autocratas e 'convite à ação' a líderes democráticos

Presidente americano discursou por cerca de 10 minutos na manhã desta quinta-feira, 9, quando culpou a ação de líderes autoritários e a falta de resposta a problemas sociais em regimes democráticos pela erosão democrática no mundo

PUBLICIDADE

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla e correspondente em Washington
Atualização:

Ao abrir o evento com líderes mundiais que convocou para defender a democracia, o presidente americano, Joe Biden, criticou líderes autocratas e fez alertas sobre a diminuição da satisfação de povos com a democracia em todo o mundo. "A democracia não acontece por acidente. Temos que renová-la a cada geração. E este é um assunto urgente, em todas as partes, na minha opinião, porque os dados que estamos vendo apontam em grande parte na direção errada", afirmou Biden.

PUBLICIDADE

Acompanhado pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken, Biden discursou por pouco mais de 10 minutos na abertura da cúpula, que reúne líderes mundiais de 110 países. O presidente mencionou uma série de indicadores que apontam o recuo democrático nos últimos anos e convocou  os países a procurarem soluções para renovar as democracias.

"Vamos permitir que o retrocesso da democracia continue sem controle ou vamos juntos ter visão e coragem para liderar mais uma vez a marcha do progresso humano e da liberdade humana?", afirmou. Segundo o americano, o fato de as pessoas sentirem que governos democráticos não atendem às suas necessidades é o mais preocupante no cenário atual. "Na minha opinião, este é o desafio definidor do nosso tempo".

O presidenteJoe Bidenabriu a 'Cúpula pela Democracia' com críticas a autocratas e pedido resposta aos problemas sociais do nosso tempo. Foto: EFE/EPA/TASOS KATOPODIS / POOL

O presidente americano também apontou uma correlação entre o crescimento da insatisfação com o modelo democrático e ação de líderes autocráticos - sem mencionar nenhum nome em particular. "Eles buscam aumentar seu próprio poder, exploram e expandem sua influência ao redor do mundo e justificam as políticas e práticas repressivas como uma forma mais eficiente de enfrentar os desafios da atualidade. É assim que é mostrado por vozes que pregam a divisão social e da polarização política".

Apesar de não fazer nenhuma menção direta a nenhum líder que considera autoritário, o discurso de Biden ocorre em um momento de acirramento das relações dos EUA com seus dois principais rivais estratégicos, China e Rússia, que não foram convidados para o debate sobre a democracia. Também estiveram ausentes países como Turquia (membro da Otan), Egito e Emirados Árabes Unidos (tradicionais aliados árabes dos americanos).

Ao lado dos líderes mundiais, Biden tenta se mostrar protagonista na defesa da democracia, dos direitos humanos e no combate à corrupção. "Na minha opinião, estamos em um ponto de inflexão em nossa história, as escolhas que fizermos irão determinar fundamentalmente a direção que nosso mundo tomará nas próximas décadas", afirmou.

Acompanhado pelo secretário de Estado Antony Blinken, Joe Biden abre a Cúpula virtual pela Democracia. Foto: EFE/EPA/TASOS KATOPODIS / POOL

Mas o americano tem sido alvo de críticas por preferir seguir interesses estratégicos a valores democráticos ao convidar governos de viés autoritários, como Polônia, Iraque e Paquistão. O auge da deterioração da democracia americana ocorreu no dia 6 de janeiro, quando extremistas atacaram o Capitólio para tentar impedir a certificação da eleição presidencial de 2020.

Publicidade

Um dos principais fatores de ameaça à democracia americana, segundo analistas, é a investida para limitar o direito a voto em alguns Estados. Em seu discurso, Biden disse que seu governo "continuará lutando para aprovar duas peças legislativas críticas que irão sustentar os próprios alicerces da democracia americana, o direito sagrado de cada pessoa de fazer sua voz ser ouvida por meio de eleições livres, justas e seguras''. 

"Devíamos tornar mais fácil para as pessoas votarem, não mais difícil. Isso continuará sendo uma prioridade para meu governo até que o façamos. E a ação não é uma opção", disse. Ele também afirmou que irá investir US$ 224 milhões no próximo ano para medidas de transparência e controle do governo, incluindo apoio financeiro à imprensa independente.

A cúpula acontece virtualmente - hoje e amanhã. Após a abertura, feita por Biden, os líderes participam de duas horas de reunião fechada, sem transmissão. Os vídeos dos líderes internacionais serão exibidos ao longo dos dois dias. O nome de Bolsonaro não está na lista divulgada pelo Departamento de Estado dos que serão apresentados hoje, na abertura da cúpula, e deve ser transmitido apenas amanhã. 

Pela segunda vez no ano, o Brasil participa de uma cúpula convocada por Joe Biden. Hoje, no entanto, o presidente Jair Bolsonaro não espera estar no foco das críticas - diferentemente do que aconteceu em abril, no encontro sobre o clima. A mudança é reflexo da deterioração da democracia nos Estados Unidos e da lista de convidados para o evento. O constrangimento reduz a pressão sobre Bolsonaro, visto como um líder de aspirações autoritárias, em razão da defesa da ditadura, dos ataques ao Congresso, ao Supremo Tribunal Federal, ao sistema eleitoral e à mídia. No Itamaraty, o convite para o evento foi comemorado como um alívio e apontado como um sinal de que, independentemente do presidente, o Brasil ainda é visto como uma democracia sólida na região.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.