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Biden quer proibir fuzis nos EUA após 18 mortos em dois ataques em três dias na Califórnia

Ataques cometidos por homens asiáticos idosos chocam Estado na Costa Leste e democratas voltam a defender banimento que, de 1994 a 2004, reduziu esse tipo de episódio

Por J. David Goodman , Amy Harmon e Adeel Hassan
Atualização:

Em resposta a um ataque a tiros no sábado que deixou 11 mortos em Monterey Park, no sul da Califórnia, a Casa Branca afirmou em um comunicado que, mais uma vez, apresentou ao Senado propostas de medidas amplas para controle de armas, em uma nova tentativa, após várias outras fracassadas, de renovar uma proibição à venda comercial de fuzis que expirou em 2004.

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“Comunidades em toda a América foram atingidas por tragédia após tragédia, incluindo ataques a tiros em massa de Colorado Springs a Monterey Park”, disse o presidente americano, Joe Biden, na declaração divulgada na noite de segunda-feira, em Washington.

Momentos depois da publicação do texto, autoridades locais divulgaram que um atirador matou sete pessoas em Half Moon Bay, na Califórnia, elevando o total de vítimas de ataques no Estado em três dias para 18.

Presidente americano, Joe Biden, chega à Casa Branca; democrata quer medidas mais restritivas para posse de armas nos EUA  Foto: Evan Vucci/AP - 23/01/2023

O novo ataque na Califórnia aconteceu por volta das 14h20 locais (19h20 em Brasília) em duas fazendas agrícolas separadas perto da Highway 92. A cidade praiana de Half Moon Bay fica a cerca de 50 quilômetros ao sul de São Francisco. Uma oitava pessoa foi transportada para o Stanford Medical Center com ferimentos graves.

Um réu confesso, Zhao Chunli, de 67 anos, foi encontrado em seu carro no estacionamento de uma subestação policial. A xerife Christina Corpus disse em entrevista coletiva na noite de segunda-feira que o suspeito foi preso “sem incidentes” e que uma arma semiautomática foi encontrada em seu veículo.

As autoridades disseram que ele estava “cooperando totalmente” e que acreditam que ele agiu sozinho. A xerife Corpus disse que o atirador trabalhava em uma fazenda agrícola. Vários trabalhadores rurais e crianças estavam presentes no momento do ataque, disse a xerife, acrescentando que era “indescritível” que as crianças tenham testemunhado a violência.

“Não há nenhuma ameaça pendente atual para a comunidade”, afirmou o escritório da xerife, em um comunicado, acrescentando que nenhum motivo era conhecido.

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Similaridades

As similaridades entre os dois incidentes são notáveis. Os responsáveis por ambos os ataques foram homens asiáticos mais velhos. É raro que idosos e asiáticos cometam esse tipo de ataque — a idade média dos atiradores em ataques em massa nos Estados Unidos nas últimas seis décadas é de 32 anos, de acordo com o Violence Project, uma organização sem fins lucrativos

As vítimas nos dois casos eram asiáticas e asiático-americanas, muitas ainda comemorando o ano-novo Lunar. O primeiro ataque causou a morte de 11 pessoas e feriu pelo menos 9 em um animado salão de dança. O suspeito, um homem de 72 anos chamado Huu Can Tran, já havia trabalhado como instrutor de dança voluntário lá. Ele cometeu suicídio.

Os investigadores ainda estão apurando a suposta motivação do primeiro ataque, mas seguem uma teoria de que ele foi motivado por queixas pessoais e estava “procurando pessoas específicas por um motivo específico”.

Os dois ataques não foram os únicos que a Califórnia sofreu recentemente. Pouco mais de uma semana antes, seis pessoas foram mortas a tiros no Condado de Tulare, na Califórnia central. As vítimas incluíam uma adolescente de 16 anos e seu bebê de 10 meses.

Oficial do Condado de San Mateo, na Califórnia, restringe cena onde ocorreu um ataque a tiros, em Half Moon Bay  Foto: Samantha Laurey/AFP - 24/01/2023

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

As mortes por ataques a tiros tinham uma probabilidade drasticamente menor de ocorrer nos Estados Unidos de 1994 a 2004, quando vigorou uma proibição da venda comercial de fuzis como a que Biden gostaria de reintroduzir, mostrou um estudo de 2019 realizado por pesquisadores da Escola de Medicina Grossman da Universidade de Nova York.

A proibição de 1994, aprovada como parte de um projeto de lei criminal mais amplo defendido por Biden, então senador, proibiu a venda de 19 armas específicas que têm características de armas usadas pelos militares, incluindo fuzis semiautomáticos e alguns tipos de espingardas e revólveres. Também proibiu pentes capazes de conter mais de 10 cartuchos de munição. As pessoas que já possuíam tais armas foram autorizadas a mantê-las.

Mas a proibição dessas armas específicas gerava controvérsia. A Associação Nacional de Rifles (NRA, por sua sigla em inglês) e os republicanos se opunham vigorosamente a ela, sob o argumento de que era ineficaz e infringia a Segunda Emenda, que versa sobre o direito à posse de armas.

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Em 2004, o Congresso permitiu que a lei expirasse em meio ao lobby da NRA e de outros ativistas pelos direitos das armas. Após quase todos os grandes ataques desde então, houve esforços no Congresso para trazer de volta a proibição. Mas todos falharam diante da oposição republicana.

Em julho, a Câmara, então controlada pelos democratas, aprovou um projeto de lei que visava renovar a proibição de armas. A lei não teve como passar no Senado dividido. Com a Câmara dominada pelos republicanos e o Senado ainda dividido, também é improvável que a lei passe desta vez.

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