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Brasileiros em Gaza devem sair do enclave nos próximos dias, diz embaixador israelense no Brasil

Daniel Zonshine afirma que Israel não controla a lista de palestinos que vão sair de Gaza na fronteira com o Egito e não acredita na possibilidade de o governo brasileiro chamar o embaixador em Israel para consultas, como foi feito por países da América do Sul

Foto do author Daniel Gateno
Por Daniel Gateno


Foto: Embaixada de Israel
Entrevista comDaniel Zonshine Embaixador de Israel no Brasil

Os brasileiros que residem na Faixa de Gaza seguem no enclave palestino após quase um mês do inicio da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que começou depois de um ataque da organização terrorista que matou 1.400 pessoas no sul de Israel.

Segundo o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, não existe nenhum tipo de represália por parte do governo israelense aos brasileiros que estão em Gaza. Desde o inicio do conflito, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, tem criticado a ofensiva israelense na Faixa de Gaza, que já deixou mais de 8 mil pessoas mortas, segundo dados do ministério da Saúde de Gaza, que é controlado pelo Hamas.

“Israel não decide quem entra na lista e não cria obstáculos para isso”, aponta Zonshine. “Autoridades americanas afirmaram que o Hamas estava colocando seus combatentes feridos nas listas de pessoas que precisariam de atendimento médico fora da Faixa de Gaza. O Hamas está impondo diversas condições para liberar a saída dos palestinos com dupla nacionalidade e isso está prejudicando a saída das pessoas”, completa o embaixador.

A passagem de Rafah, por onde estrangeiros em Gaza estavam deixando o enclave palestino, foi reaberta nesta segunda-feira, 6, após dois dias fechada. O embaixador do Brasil em Ramallah, Alessandro Candeas, confirmou a informação e disse que o grupo de 34 brasileiros e familiares continua aguardando autorização para cruzar a fronteira.

O embaixador israelense no Brasil afirmou que os brasileiros no enclave palestino devem deixar a Faixa de Gaza nos próximos dias.

Confira trechos da entrevista

Palestinos com dupla nacionalidade esperam a abertura da fronteira de Rafah, que separa a Faixa de Gaza do Egito  Foto: Samar Abu Elou/ NYT

Diversos países da América do Sul chamaram seus embaixadores de volta para consultas e a Bolívia cortou relações diplomáticas com Israel. Voces esperam alguma reação deste tipo no Brasil? Receberam algum tipo de aviso das autoridades brasileiras de que algo neste sentido está próximo?

Eu não acredito que isso aconteça aqui no Brasil em algum momento. Estamos em constante contato com o governo brasileiro e não avalio que o Brasil queira colocar as relações com Israel neste nível.

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Temos um dialogo aberto em diversos setores com as autoridades brasileiras e podemos ter opiniões diferentes sobre alguns assuntos, mas não acredito que isso seja uma opção agora.

As Forças de Defesa de Israel afirmaram que estão realizando diversas operações na Faixa de Gaza e que existe uma completa divisão entre o sul e o norte do enclave palestino. Quando as operações acabarem no norte de Gaza, qual será a próxima fase da operação?

Eu não posso compartilhar muito sobre as próximas fases, até porque eu não tenho conhecimento sobre as decisões operacionais das Forças de Defesa de Israel neste momento, mas o que posso falar é que o nosso objetivo e eliminar a capacidade militar do Hamas.

Se o exército israelense acreditar que Israel realizou os progressos necessários no norte da Faixa de Gaza, então veremos qual será a próxima fase da operação militar, mas destruir a capacidade militar do Hamas é o nosso objetivo e vamos fazer o que for preciso para garantir isso.

Tanques israelenses estacionam no norte da Faixa de Gaza  Foto: IDF / AFP

Quando os israelenses que moram no sul de Israel e que tiveram que ser retirados por conta do ataque terrorista do Hamas devem voltar para suas casas?

Neste momento, há entre 250 mil israelenses que foram retirados de suas casas no sul e também no norte de Israel porque temos um confronto com o Hezbollah, no Líbano.

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Um dos problemas no sul de Israel é que em alguns kibutzim e na cidade de Sderot, muitas casas foram queimadas ou destruídas, então as pessoas que saíram de lá não tem para onde voltar e é muito cedo para que elas voltem.

Essas pessoas estão em hotéis, casas de parentes ou outros kibutzim em Israel e vão voltar para casa o mais rápido possível, mas sem uma definição clara de tempo.

Estamos em uma guerra e não sabemos quando ela vai acabar. Precisaremos construir novas casas e um sentimento de confiança da população do sul de Israel, para que as pessoas saibam que um novo ataque do Hamas não vai acontecer.

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Chefes do Hamas já declararam que eles tem a intenção de atacar novamente, então é difícil que um morador do sul de Israel tenha confiança de que é seguro voltar para casa. O processo de reabilitação será longo.

Soldado israelense observa uma casa no Kibutz Kfar Aza, um dos locais atacados pelo grupo terrorista Hamas no dia 7 de outubro  Foto: Manuel Bruque / EFE

É possível que Israel concorde com um cessar-fogo após esta fase da operação no norte do país?

Um possível acordo de cessar-fogo não depende muito de nós, mas do Hamas. Eles não respeitaram diversos acordos de cessar-fogo que fizemos com eles no passado.

Ainda está cedo para falarmos neste assunto, principalmente com o Hamas lançando foguetes contra o território israelense e o possuindo o poder militar para continuar lutando contra as Forças de Defesa de Israel.

Como estão as negociações para a saída dos reféns? É possível conciliar a ofensiva terrestre com essas negociações?

Temos encarregados que estão participando de negociações para a libertação de reféns na Faixa de Gaza. Libertar os reféns é uma das prioridades para os israelenses neste momento.

O Hamas é um grupo terrorista que não libertará reféns como um gesto de boa vontade, isso não está no dicionário deles.

Por esse motivo, a ofensiva terrestre é uma forma de colocar pressão no Hamas, enfraquecer o grupo e com isso libertar os reféns.

Mas, além disso, estamos em contato com diversos países e organizações que estão ajudando na negociação para que possamos agilizar a saída dos reféns da Faixa de Gaza.

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Como está sendo a escolha da lista dos palestinos com dupla nacionalidade que estão saindo de Gaza? Os cidadãos brasileiros estão sofrendo algum tipo de represália por conta de declarações do presidente Lula, que disse que está acontecendo um genocídio na Faixa de Gaza?

A saída de palestinos com dupla nacionalidade demanda uma coordenação com o Hamas, Egito e os Estados Unidos.

Autoridades americanas afirmaram que o Hamas estava colocando seus combatentes feridos nas listas de pessoas que precisariam de atendimento médico fora da Faixa de Gaza. O Hamas está impondo diversas condições para liberar a saída dos palestinos com dupla nacionalidade e isso está prejudicando a saída das pessoas.

Então a situação em Gaza e as condições que o Hamas está impondo para a saída dessas pessoas é o que está atrasando a saída delas. Israel não está bloqueando ou colocando obstáculos para a saída de nenhum palestino.

Estamos envolvidos nas tratativas, mas não está no nosso controle. Existem problemas logísticos, cerca de 500 pessoas estão saindo por dia, não mais que isso. Nem todos os palestinos que querem sair estão no mesmo lugar e prontos para saírem, é preciso ter condições logísticas e militares para que eles possam sair.

Mas Israel não está decidindo quem será incluso na lista, também não estamos impedindo ninguém de sair. Acredito que os palestinos com nacionalidade brasileira na Faixa de Gaza devem sair do enclave palestino nos próximos dias.

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