EUA recuperam restos de balão chinês derrubado no mar; veja imagens

Balão foi derrubado na costa do estado da Carolina do Sul; EUA suspeitam de espionagem, mas a China diz que se tratava de um instrumento meteorológico

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Por Redação

WASHINGTON - WASHINGTON - Os Estados Unidos recuperaram os primeiros restos do balão chinês acusado por Washington de realizar atividades de espionagem. O governo dos Estados Unidos descartou devolvê-los à China.

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O episódio se dá em meio à controvérsia ligada a um suposto balão espião da China que o Pentágono detectou sobrevoando o território americano dois dias atrás.

As equipes mobilizadas na costa da Carolina do Sul “resgataram alguns detritos da superfície do mar”, informou John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, acrescentando que as condições meteorológicas não permitiram realizar operações submarinas para um resgate maior. Segundo Kirby, os Estados Unidos “não têm intenção ou planos de devolver” os restos às autoridades chinesas.

Marinheiros do Grupo 2 de Eliminação de Munições Explosivas recuperam destroços do balão chinês que foi derrubado pelos Estados Unidos na costa de Myrtle Beach, Carolina do Sul  Foto: U.S. Navy/Reuters

Uma embarcação da Marinha americana inspeciona a área onde caíram os restos do balão, que tinha cerca de 60 metros de altura e transportava uma espécie de cesta de mais de uma tonelada, disse o general Glen VanHerck, chefe do Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (Norad).

Republicanos criticam o democrata Joe Biden por ter, segundo eles, demorado para derrubar o dispositivo. John Kirby explicou que o atraso se deveu ao fato de que era uma ocasião para examinar o balão, e que espera que os restos tragam mais informações.

Kirby afirmou que os Estados Unidos tomaram “medidas para minimizar a capacidade de coletar (dados) sobre nossos sítios militares sensíveis que o balão teria tido”.

Marinheiros americanos retiram os destroços do balão chinês dos mares da Carolina do Sul; governo americano não vai devolvê-los para a China Foto: Officer Tyler Thompson/AFP

Segundo o porta-voz, o governo “entrou em contato com funcionários importantes da administração anterior” para obter informações sobre os sobrevoos de balões chineses que aconteceram durante o governo de Donald Trump.

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O ocorrido não parece ter surpreendido Joe Biden. “A questão do balão e a tentativa de espionagem dos Estados Unidos é algo que se espera da China”, declarou, especificando que “não se trata de confiar na China, e sim de decidir em que podemos trabalhar juntos e em que divergimos”.

Balões chineses sobrevoaram o território americano em três ocasiões, por breves períodos, durante a presidência de Trump, e uma vez, também brevemente, no começo do mandato de Joe Biden, afirma o Pentágono.

Desde que o balão foi derrubado, os Estados Unidos estiveram em contato com autoridades chinesas, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, mas não falou-se em remarcar a viagem à China do chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, adiada devido ao incidente.

O governo Biden também está em contato com aliados para atualizá-los sobre o que sabe em relação ao balão.

Balão da China, derrubado no sábado pelos EUA e acusado de espionar território americano, é retirado do mar por marinheiros americanos  Foto: Officer Tyler Thompson / via AFP

Derrubada do balão da China

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No sábado, 4, autoridades militares dos Estados Unidos confirmaram na tarde deste sábado, 4, que abateram um balão chinês acusado por Washington de realizar atividades de espionagem. O episódio se dá em meio à controvérsia ligada a um suposto balão espião da China que o Pentágono detectou sobrevoando o território americano dois dias atrás.

O Ministério das Relações Exteriores da China declarou seu “forte descontentamento e protesto” após a derrubada de seu balão pelos Estados Unidos. Em um comunicado, o ministério disse que a China disse repetidamente a Washington que o balão era uma aeronave civil que inadvertidamente sobrevoou os Estados Unidos e sua presença foi “totalmente acidental”.

Cancelamento de viagem

Na sexta, 3, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, adiou uma viagem diplomática planejada para a China no domingo, enquanto o governo dos EUA avalia uma resposta mais ampla à descoberta de um balão chinês de alta altitude sobrevoando o Estado de Montana, em locais que abrigam cerca de 150 silos de mísseis balísticos intercontinentais.

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A decisão abrupta ocorreu apesar da alegação da China de que o balão era um satélite de pesquisa meteorológica que havia saído do curso por causa de fortes ventos. Os EUA descreveram o balão como um satélite de vigilância.

A decisão veio poucas horas antes de Blinken partir de Washington para Pequim e marcou um novo golpe nas já tensas relações EUA-China. Blinken e o presidente Joe Biden determinaram que era melhor não prosseguir com a viagem neste momento - muito em função das pressões políticas de republicanos e democratas após a descoberta do suposto balão espião.

O balão de alta altitude chinês fotografado nos céus da Carolina do Norte, momentos antes de ser derrubado  Foto: Nell Redmond/EFE

Balão espião existe?

O outrora humilde balão é uma das muitas tecnologias que as forças militares da China aproveitaram como uma ferramenta potencial em sua rivalidade com os Estados Unidos e outras potências. Outras máquinas avançadas incluem drones e veículos hipersônicos que podem manobrar em altas velocidades na atmosfera.

Em estudos e artigos de jornais, os especialistas do Exército Popular de Libertação da China acompanharam os esforços dos EUA, França e outros países para usar balões avançados de alta altitude para coleta de informações e para coordenar operações no campo de batalha. Segundo eles, novos materiais e tecnologias tornaram os balões mais resistentes, manobráveis e de maior alcance do que as gerações anteriores de balões.

Desde 2001 a China usa balões para investigações e finalidades de espionagem. O Ministério da Defesa de Taiwan disse que no início de 2022, a China lançou balões sobre a ilha. “Os avanços tecnológicos abriram uma nova porta para o uso de balões”, afirmou um artigo do Liberation Army Daily – o principal jornal militar da China – no ano passado. Outro artigo no mesmo jornal observou que os dirigíveis nas camadas superiores da atmosfera também podem se tornar como “mil olhos” ajudando a monitorar o espaço sideral.

O balão supostamente enviado para os EUA pode ser usado para coletar informações sobre sistemas de defesa aérea ou condições atmosféricas, disse Su Tzu-yun, analista do Instituto de Defesa Nacional e Pesquisa de Segurança em Taipei.

As forças americanas teriam poucos problemas para seguir o balão agora, mesmo em altitudes muito mais altas do que as vistas sobre Taiwan, disse ele. “Basicamente, eles são muito óbvios e, devido ao seu grande volume, são facilmente rastreados pelo radar”, disse Su.

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O que é o balão e como ele é operado?

Um balão espião é apenas isso - um balão usado para fins de vigilância. “Claramente, eles estão tentando voar com isso – este balão sobre locais sensíveis - para coletar informações”, disse o oficial de defesa dos EUA na quinta-feira.

Um balão espião pode ter uma ou várias câmeras suspensas sob um balão que flutua acima de uma determinada área, carregado por correntes de vento. O equipamento acoplado aos balões pode incluir radar e ser movido a energia solar.

Os balões normalmente operam a 24 mil metros - 37 mil metros (80.000-120.000 pés), bem acima de onde voa o tráfego aéreo comercial - os aviões quase nunca voam acima de 12 mil metros.

E os balões espiões não são novidade: durante a Guerra Civil Americana, a União até usou balões de ar quente para rastrear os movimentos das tropas confederadas. Durante a 1ª Guerra, a seção fotográfica do Serviço Aéreo do Exército dos EUA usou balões para realizar vigilância e fornecer imagens aéreas.

O porta-voz do Pentágono, Patrick Ryder, fala com a imprensa, em imagem de arquivo Foto: Alex Brandon/AP - 24/01/2023

E na década de 50, a Força Aérea dos EUA lançou o Projeto Genetrix, que descreveu como sua primeira “operação de inteligência de balão de grande escala, não tripulada e de alta altitude”, projetada para tirar fotos sobre “a massa terrestre do bloco soviético”.

A atividade de vigilância de balões continuou nos últimos anos, de acordo com autoridades dos EUA. “Instâncias desse tipo de atividade de balão foram observadas anteriormente nos últimos anos”, disse o secretário de imprensa do Pentágono, general de brigada Patrick Ryder, sem dar mais detalhes.

Por que um balão e não um satélite?

“Nas últimas décadas, os satélites eram o protocolo, o estado da arte da espionagem”, disse ao jornal britânico The Guardian John Blaxland, professor de segurança internacional e estudos de inteligência na Australian National University e autor do livro Revealing Secrets. “Mas agora que lasers ou armas cinéticas estão sendo inventados para atingir satélites, há um ressurgimento do interesse por balões”.

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Eles não oferecem o mesmo nível de vigilância persistente que os satélites, mas são mais fáceis de recuperar e muito mais baratos de lançar. Para enviar um satélite ao espaço, você precisa de um lançador espacial – um equipamento que normalmente custa centenas de milhões de dólares.

Os balões também podem varrer mais território de uma altitude mais baixa e passar mais tempo sobre uma determinada área porque se movem mais lentamente do que os satélites, de acordo com um relatório de 2009 do Air Command and Staff College da Força Aérea dos EUA.

Craig Singleton, especialista em China da Fundação para Defesa das Democracias, disse à agência Reuters que esses balões foram amplamente usados pelos EUA e pela União Soviética durante a Guerra Fria e eram um método de coleta de inteligência de baixo custo.

Por que a China está fazendo isso?

O professor Steve Tsang, diretor do Instituto da China na Universidade SOAS de Londres, disse que, dado o acesso da China a tecnologia avançada, qualquer balão espião provavelmente teria mais “valor simbólico, mostrando que os chineses são capazes de enviar algo para o ar para inspecionar as instalações militares dos EUA.”

“E eles estão fazendo isso porque, por décadas, os EUA enviaram aviões espiões ao longo da costa chinesa e, às vezes, sobre o espaço aéreo chinês para monitorar os chineses de maneiras que eles não podiam fazer muito”, disse ele. “Agora eles podem, então eles fazem.”

Ao jornal britânico The Guardian, John Blaxland, professor de segurança internacional e estudos de inteligência na Australian National University, disse achar improvável que os chineses não esperassem ser pegos. “Ser pego provavelmente era o objetivo, com dois resultados em mente. A primeira razão pela qual o balão foi lançado foi para constranger os EUA. Ainda melhor se capturasse alguma inteligência ao longo do caminho”, disse Blaxland.

Em imagem de arquivo, a sede do Pentágono, em Washington Foto: Eva Hambach/AFP - 12/03/2022

“É difícil imaginar como eles poderiam ter pensado que não seria detectado. O espaço aéreo americano é estudado de perto pelas autoridades da aviação civil dos EUA, pela Força Aérea dos EUA, pela Força Espacial dos EUA, pelas redes meteorológicas – é um espaço aéreo extremamente escrutinado”, diz ele.

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A segunda razão é tornar os EUA cientes do fato de que a China tem mantido secretamente sua tecnologia e a replicado. “As agências de segurança chinesas são mestres no comportamento de imitação. Eles são muito, muito bons em estabelecer o que é tecnologia e depois tentar replicá-la”, disse Blaxland ao Guardian.

É algo como “qualquer coisa que você pode fazer, podemos fazer melhor” e é “apenas a ponta do iceberg”, diz Blaxland. A espionagem da China acontece “em escala industrial”, com pequenos pedaços de inteligência reunidos e transmitidos de inúmeras maneiras. Juntos, eles formam imagens detalhadas.

O analista de segurança com base em Cingapura, Alexander Neill, disse à Reuters que, embora o balão provavelmente forneça um novo ponto de tensão para os laços China-EUA, provavelmente teve um valor de inteligência limitado em comparação com outros elementos que as forças militares modernizadoras da China têm à sua disposição.

“A China tem sua própria constelação de satélites espiões e militares que são muito mais importantes e eficazes em termos de observação dos EUA, é justo supor que o ganho de inteligência não é enorme”, diz Neill, que é um membro adjunto no grupo Pacific Forum do Havaí. /Com AP e AFP

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