Daqui a dois meses, em dezembro, se realizará em Paris a Conferencia Mundial sobre o Clima - COP 21, para a preparação da qual o governo trabalha a todo vapor. François Hollande jurou que este encontro será um sucesso planetário e dará um pouco mais de brilho aos dourados um tanto esmaecidos do seu governo.
Desde já, a França, principalmente Paris, fervilha de conferências, mesas redondas, debates sobre o clima. Todos os jornais estão repletos de previsões apocalípticas, de últimos avisos, para que os governos recuperem um pouco do tempo perdido antes que o planeta expluda ou que morra de sede ou de calor.
Hoje, os mais pobres do mundo se reúnem em Paris para debater sobre o clima. Sua presença atesta que os problemas do céu constituem um perigo terrível para a humanidade. Eles trabalham sobre este tema: a mudança climática e a guerra.
Há muito tempo, sabemos que o gelo, as tempestades ou as secas são alguns dos grandes atores da história. Um único exemplo: a Grande Revolução francesa de 1789, eclodiu porque as safras de cereais haviam sido tão medíocres, anos seguidos, que os camponeses morriam.
E por que o trigo não crescia? Algumas estações anteriores, uma formidável erupção vulcânica cobriu a Irlanda de névoa (e portanto o círculo polar ártico) e obscureceu o céu de fumaça tão negra e tão persistente que um inverno perpétuo se abateu sobre toda a Europa, e principalmente a França. Os campos foram devastados. Seguiram-se pilhagens, revoltas, e, por fim, a Revolução de 1789.
Mas voltemos aos nossos soldados do ano de 2013. Eles perscrutam os céus, os oceanos, as calotas glaciais para determinar as zonas ameaçadas por “guerras climáticas”. A África está muito exposta. O Sahel, a vasta zona de areia e de pedras que se estende até o sul da Argélia, até o Chade, etc., está ameaçado. O lago Chade, no coração do continente, era há uns 50 anos um dos maiores lagos do mundo. Hoje, está praticamente seco.
O Sahel está vazio. Nada de água, as chuvas são raras, os rebanhos estão famintos, os nômades abandonam seu inferno e convergem para a costa, para o mar. Em torno das terras aráveis e de fontes de água trava-se uma batalha. Os antigos ocupantes repelem estes “migrantes climáticos”. Perigo.
O movimento jihadista Boko Haram nasceu provavelmente do desaparecimento deste lago. Enormes populações esfomeadas migraram. E “ideólogos” delirantes as catequizaram e arregimentaram para uma “guerra santa” que se dedica principalmente a aniquilar cidades e a capturar centenas de meninas para casá-las á força.
O perigo climático atinge o ápice na Ásia. O Bangladesh é um dos países mais pobres do mundo. Sessenta por cento do seu território está apenas a cinco metros acima do nível do mar. Os habitantes das zonas inundáveis , ao longo dos rios, entram em pânico. A cada ano, 80 mil camponeses veem suas terras desaparecerem no mar, tragadas pelas ondas. Eles correm então para as cidades. A cada dia, 2 mil habitantes do Bangladesh chegam à capital, Dacca, onde vão se amontoando nas favelas.
A horrível guerra da Síria é talvez devida às perturbações climáticas. De 2006 a 2011, o país sofreu uma seca jamais vista. Toda a região chamada antigamente o “crescente fértil”, a nordeste do país, mergulhou na miséria. Oitenta e cinco por cento da pecuária morreu. A agricultura foi devastada. Hordas de camponeses rumaram para as cidades, ou para as sinistras periferias das cidades. Mesmo que a guerra da Síria tenha também causas políticas, a prolongada estiagem atiçou o fogo. Não por acaso as primeiras revoltas contra o tirano Bashar Assad eclodiram precisamente em março de 2011.
Os exemplos se multiplicam. Todos os continentes foram afetados. E quase todos os países. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) adotou uma resolução pedindo aos países membros que considerem a mudança climática “um multiplicador das ameaças”. A cada ano, os caprichos do clima criam entre 20 e 30 milhões de refugiados, de nômades, de pobres e de mendigos.
O almirante David Titley, conselheiro das agências de segurança americanas sobre o clima declarou recentemente a um dos mais destacados ecologistas franceses, Nicolas Hulot: “A ameaça climática é tão grave, senão mais grave, para a segurança dos Estados Unidos, quanto a ameaça terrorista”. /TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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