Homem foge da China viajando 320 quilômetros de jet ski pelo mar em busca de asilo político

Kwon Pyong é considerado dissidente político que já foi preso uma vez em território chinês, segundo ativista sul-coreano

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Por Andrew Jeong e Lyric Li
Atualização:

Um homem da China apareceu na costa oeste da Coreia do Sul na semana passada depois de atravessar o Mar Amarelo em um jet ski. Ele é considerado um dissidente político que já foi preso uma vez em território chinês, disse um ativista sul-coreano dos direitos humanos nesta quarta-feira, 23.

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Kwon Pyong, 35 anos, chegou à cidade portuária de Incheon na semana passada, disse Lee Daeseon, um ativista de direitos humanos baseado na Coreia, em entrevista por telefone. A cidade, que fica a uma hora de carro da capital Seul, abriga o principal aeroporto do país.

Lee disse que Kwon viajou mais de 300 quilômetros, em seu jet ski pessoal, da província de Shandong, na China, até chegar na Coreia do Sul, onde alguns de seus parentes vivem. Lee, que conhece Kwon desde 2019, afirmou que ele confirmou a identidade do homem depois de ser autorizado a visitar na terça-feira, 22, uma instalação da guarda costeira onde Kwon estava detido. Um parente próximo na Coreia do Sul também confirmou que o indivíduo é Kwon, segundo Lee, que disse ter conversado com esse parente.

Kwon viajou mais de 300 quilômetros, em seu jet, da província de Shandong, na China, até chegar na Coreia do Sul. Na foto, trecho do Mar Amarelo em Shandong. Foto: CARLOS GARCIA RAWLINS / REUTERS

Kwon está buscando asilo político fora da China, preferencialmente nos Estados Unidos, no Reino Unido ou no Canadá, disse Lee. “Kwon está em bom estado de saúde e de bom humor” ele disse.

A guarda costeira sul-coreana disse em um comunicado no domingo, 20, que um indivíduo em um jet ski vermelho carregando mais de 200 litros ou mais de 50 galões de combustível, encalhou nas zonas úmidas de Incheon e foi detido por cruzar a fronteira ilegalmente. A guarda costeira disse que a pessoa já havia visitado a Coreia anteriormente, mas não revelou o nome do indivíduo e se recusou a comentar mais, citando questões de privacidade.

Os detalhes fornecidos pela guarda costeira sobre como o homem foi encontrado sugeriram que ele havia se preparado cuidadosamente para a viagem: ele usava um colete salva-vidas e um capacete, além de binóculos e uma bússola. Ele jogou galões de combustível vazios no mar depois de reabastecer no caminho.

Em 2017, Kwon foi preso durante 18 meses na China por “incitar a subversão do poder estatal” depois de publicar discursos, imagens e vídeos nas redes sociais criticando o governo chinês. Em uma foto, Kwon usava uma camiseta branca que comparava o principal líder da China, Xi Jinping, a Hitler.

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Um tribunal chinês disse que Kwon insultou “a autoridade estatal e o sistema socialista”, de acordo com o Front Line Defenders, um grupo de defesa que acompanhou o seu caso. Desde que foi libertado da prisão, Kwon foi sujeito a uma proibição de saída que o impediu de deixar legalmente a China, disse Lee. Ele tentou sair do país e entrar na Coreia apresentando um pedido de asilo político em 2019, mas o processo acabou sendo cancelado por causa dessa proibição de viajar.

Foto disponibilizada pela Guarda Costeira da Coreia jet ski que chinês usou para ir da China até a Coreia do Sul. Foto: Divulgação Guarda Costeira da Coreia do Sul/AFP

Sob a liderança de Xi Jinpin, a China utiliza cada vez mais proibições de saída para manter os críticos do regime – cidadãos e estrangeiros – no país, onde podem ser mais facilmente vigiados e silenciados.

A Embaixada da China em Seul não quis comentar o caso, afirmando não ter informações relevantes. Kwon estudou anteriormente em Iowa, disse Lee. Depois de retornar de Iowa, ele trabalhou para uma empresa familiar em sua cidade natal, Yanbian, um centro comercial na fronteira entre a China e a Coreia do Norte.

Em plataformas de mídia social, que agora estão proibidas na China, ele postou críticas à censura e aos controles políticos do governo e apoio a dissidentes e protestos, disseram seus ex-advogados e à mídia em 2019. Todas as suas postagens no Facebook e no Twitter foram apagadas desde então./Washington Post.

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