Líder supremo do Irã diz que envenenamentos em escolas femininas são ‘crime imperdoável’

Aiatolá Ali Khamenei disse que os responsáveis serão condenados a penas severas; centenas de escolas foram envenenadas no país nos últimos três meses

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Por Redação
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O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, disse nesta segunda-feira, 6, que os envenenamentos em escolas femininas do país são um “crime imperdoável” e que os culpados devem ser “condenados a penas severas”. Centenas de envenenamentos foram registrados nos últimos três meses em mais de 52 escolas, segundo informações oficiais.

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“Os responsáveis por estes atos devem ser condenados a penas severas e não haverá anistia para eles”, advertiu Ali Khamenei, a principal autoridade do Irã, pela primeira vez desde que os crimes começaram. “Este assunto deve ser levado a sério (...) Se os envenenamentos forem comprovados este é um crime imperdoável”.

O ministro da Autoridade Judicial, Gholamhossein Mohseni Ejei, também falou sobre o assunto nesta segunda-feira. De acordo com ele, os autores serão julgados por “corrução na Terra”, uma acusação que pode resultar na pena de morte.

Estudante iraniana caminha diante de um mural em Teerã, em imagem de 9 de dezembro de 1997. República islâmica nunca proibiu mulheres de estudar, mas ataques atuais contra escolas mostram radicalização Foto: Yannis Behrakis/Reuters

Entretanto, nenhuma prisão foi efetuada até o momento. As autoridades investigam os casos e as substâncias usadas, que provocam dificuldades respiratórias e mal-estar, que levaram muitas estudantes ao hospital. Em várias cidades, os pais das alunas se mobilizaram para exigir uma ação rápida das autoridades.

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, denunciou o caso como “um novo complô dos inimigos” do Irã para “infundir medo no coração das alunas, das meninas e de seus pais”.

A suspeita é de que os ataques são para forçar o fechamento de escolas femininas – em uma radicalização muçulmana semelhante a do Taleban, no Afeganistão, e do Boko Haram, na África Ocidental.

Os envenenamentos foram registrados inicialmente na cidade de Qom, mas se espalharam por outras seis cidades, incluindo Pardis, localizada na província de Teerã. Um levantamento feito pela BBC indica que ao menos 650 estudantes foram envenenadas em mais de 30 escolas diferentes.

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Os primeiros relatos de envenenamento entre estudantes mulheres começaram em novembro do ano passado, em meio aos protestos pela morte de Mahsa Amini, presa pela polícia moral iraniana por não usar o hijab de maneira correta. As manifestações causaram uma das maiores mobilizações sociais do Irã na última década e teve participação fundamental das mulheres, que queimaram os véus em oposição à obrigatoriedade da veste.

O vice-ministro da Saúde do Irã, Younes Panahi, afirmou no dia 26 de feveiro que as investigações descobriram que o envenenamento em Qom foi motivado pela tentativa de fechar as escolas. “Após o envenenamento de vários estudantes na [cidade de] Qom, descobriu-se que algumas pessoas queriam que todas as escolas, especialmente as escolas para meninas, fossem fechadas”, declarou.

O jornal britânico The Guardian aponta que os ataques também podem ser “vingança” pelo papel exercido pelas mulheres nos protestos que eclodiram após a morte de Mahsa.

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Autoridades do Irã inicialmente descartaram os incidentes, mas passaram a descrevê-los como ataques intencionais, que levantam temores de que outras meninas sejam envenenadas apenas pelo direito de estudar. Essa ameaça é inédita no país porque, ao contrário do Afeganistão, onde o direito à educação das mulheres foi retirado nas duas vezes que o Taleban ocupou o poder, o Irã nunca adotou essa prática em mais de 40 anos desde a Revolução Islâmica de 1979.

Apesar de não haver suspeitos identificados pelas autoridades, jornalistas e organizações independentes alertam que os ataques podem ser feitos por grupos de oposição ao governo ou “extremistas domésticos” que querem transformar o Irã em um califado. “Não temos ideia de quão difundido esse grupo é, mas o fato de eles terem sido capazes de realizá-lo com tanta impunidade é tão preocupante”, disse Hadi Ghaemi, diretor executivo do Centro de Direitos Humanos do Irã, com sede em Nova York, no fim de fevereiro. /Com informações da AFP

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