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Obrador obtém maioria no Congresso e propõe a Trump criação de empregos contra imigração ilegal

Presidente eleito do México recebeu telefonema do presidente americano e ressaltou necessidade da manutenção das negociações do Nafta

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Foto do author Cristiano  Dias
Por Cristiano Dias e CIDADE DO MÉXICO

Andrés Manuel López Obrador teve uma noite de domingo triunfante: foi eleito presidente do México, seu partido venceu quatro das oito eleições para governador, fez a prefeita da capital e obteve maioria no Congresso. Nesta segunda-feira, adotou um tom conciliador em duas frentes importantes: tranquilizou os mercados e quebrou o gelo com o presidente dos EUA, Donald Trump. Em conversa por telefone, eles discutiram segurança e redução da imigração.

Candidato eleito, López Obrador acena para seus apoiadores na Cidade do México. Foto: REUTERS/Goran Tomasevic

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Trump e Obrador conversaram sobre imigração, comércio e questões de segurança. “Recebi um telefonema de Trump e conversamos durante meia hora. Eu lhe pedi que discutíssemos um acordo integral e projetos de desenvolvimento que criem empregos no México. Com isso, podemos reduzir a imigração e melhorar a segurança”, escreveu Obrador no Twitter.

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O presidente americano também comentou o diálogo. “Acho que o nosso relacionamento será muito bom e acredito que isso vai nos ajudar na fronteira”, disse Trump, em declarações à imprensa na Casa Branca. “Tivemos uma grande conversa, de cerca de meia hora, e falamos sobre a segurança das fronteiras, comércio e Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte), com a possibilidade de um acordo em separado, apenas entre México e EUA.”

Foi a primeira de muitas conversas. O mandato de Obrador é de seis anos. Trump buscará a reeleição em 2020, o que lhe permitiria ocupar a Casa Branca até 2024. O México tem uma grande dependência comercial dos EUA – 80% de suas exportações cruzam a fronteira americana. Mas Obrador tem algumas armas, principalmente a imigração e o narcotráfico, problemas que exigem cooperação bilateral.

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Outra força de Obrador nas negociações com os EUA está na China. Segundo Luis Oganes, chefe de pesquisa econômica do JP Morgan para a América Latina, o México investe 2,6% do PIB em infraestrutura, mas Obrador prometeu aumentar para 5%. “A China está muito interessada em investir em projetos mexicanos”, disse Oganes, que acredita no incremento comercial entre os dois países. Por isso, se Trump pretende conter o avanço chinês na América Latina, segundo analistas, não pode se afastar do novo presidente do México.

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Em sua primeira fala pública após a vitória, López Obrador destacou que seu governo vai representar todas as pessoas, tanto ricos como pobres, mas que vai dar preferência aos "mais humildes e esquecidos, especialmente os povos indígenas" do país. Tanto no discurso como em entrevistas para as redes de TV locais, ele tentou assegurar aos investidores seu compromisso com políticas econômicas prudentes e com a independência do Banco Central.

O novo presidente, cujo mandato começa em 1º de dezembro, passou grande parte do discurso tentando tranquilizar aqueles que temiam sua candidatura, principalmente os empresários. "Esse novo projeto nacional buscará estabelecer uma democracia autêntica e não pretendemos estabelecer uma ditadura", ressaltou. "As mudanças serão profundas, mas de acordo com a ordem estabelecida."

López Obrador reiterou seu compromisso com as negociações do Nafta em entrevista ao canal Milenio TV. "Nós vamos acompanhar o atual governo nessa negociação, vamos ser muito respeitosos e vamos apoiar a assinatura do acordo", disse o presidente eleito, acrescentando que o objetivo é que o tratado seja bom para o México.

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Ele sublinhou que buscará um diálogo franco e relações amigáveis com os EUA. Trump tem sido abertamente contrário ao México em questões comerciais e de imigração desde sua própria campanha presidencial, em 2016. As atuais negociações do Nafta começaram no ano passado, depois que Trump pediu que o acordo fosse revisado para beneficiar mais os interesses de Washington.

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Embora os dois líderes tenham se comunicado, a assessora da Casa Branca, Kellyanne Conway, reiterou a promessa de campanha de Trump para a construção de um muro entre os dois países. "No caso do México, obviamente nós compartilhamos uma fronteira com eles e esse presidente (Trump) tem sido muito claro sobre construir um muro e fazer o México pagar por ele", disse Kellyanne.

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Políticos mexicanos têm dito que seu país não irá pagar pelo muro proposto por Trump. O presidente americano diz que a separação é necessária para impedir a entrada de imigrantes ilegais e drogas. López Obrador disse, anteriormente, que quer tornar o México mais independente economicamente dos EUA. Ao mesmo tempo, ele espera convencer Trump a ajudar a desenvolver o México e América Central para diminuir a imigração ilegal.

O presidente, Enrique Peña Nieto, também colocou à disposição de Obrador sua equipe ministerial para realizar uma transição “ordenada e eficiente”. Os dois se reunirão hoje no Palácio Nacional e discutirão um dos temas mais controvertidos da campanha: a suspensão da construção do aeroporto internacional da Cidade do México, obra que custará US$ 13 bilhões. 

Obrador assume a presidência apenas em 1.º de dezembro. Até lá, ele anunciou que fará um giro por municípios, que ajudará sua equipe na elaboração do que ele chamou de “projeto de nação” – espécie de refundação do país. 

Segundo os primeiros resultados divulgados pelo Instituto Nacional Eleitoral, ele deve obter 53% dos votos – votação que os mexicanos não viam desde os tempos em que o PRI fraudava as eleições. As projeções também indicam que ele terá maioria no Congresso. Sua coligação fará 65 dos 128 senadores e 255 dos 500 deputados. Das oito eleições estaduais, seu partido, o Movimento da Regeneração Nacional (Morena), venceu em quatro – Veracruz, Morelos, Tabasco e Chiapas – e ainda elegeu Claudia Sheinbaum, a primeira mulher para comandar a Cidade do México.

O presidente russo, Vladimir Putin, parabenizou Obrador e destacou que a Rússia "tem elevada estima por suas relações amigáveis com o México" e manifestou sua esperança de que durante seu mandato Obrador dedique à cooperação entre os dois países a atenção merecida". Pelo Twitter, o presidente Michel Temer destacou que a amizade entre o Brasil é forte e antiga e refirmou a plena disposição do País de trabalhar em favor de uma maior aproximação entre os dois países. 

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