Manifestantes voltam às ruas mesmo com o aumento da repressão em Mianmar

Principais cidades do país tiveram atos nesta sexta-feira,12; mais de 20 mil presos foram liberados pela junta militar que tomou o poder

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Por Redação
Atualização:

YANGONG - A mobilização contra o golpe militar não diminui em Mianmar. Uma multidão voltou às ruas para protestar contra a junta militar nesta sexta-feira, 12, apesar do aumento da repressão nos atos nos últimos dias. Os principais pedidos dos manifestantes são a libertação dos líderes civis presos desde 1º de fevereiro - quando houve o golpe - e a retomada do regime democrático.

Mais de 250 pessoas foram detidas desde o golpe de Estado contra o governo civil da prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, segundo uma ONG de ajuda aos prisioneiros políticos. As detenções atingiram autoridades locais, deputados, membros da Comissão Eleitoral e ativistas.

Cartazes em apoio à líder civil deposta de Mianmar, Aung San Suu Kyi, são erguidos por manifestantes em Yangon. Foto: Sai Aung Main/ AFP

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O medo de represálias é muito presente no país. Na terça-feira, a polícia abriu fogo contra os manifestantes e deixou vários feridos. Uma mulher, atingida por um tiro na cabeça, está em condição crítica.

Nesta sexta-feira, as forças de segurança usaram balas de borracha para dispersar brutalmente um protesto no sul do país. Ao menos cinco pessoas foram detidas.

Apesar da repressão, milhares de pessoas voltaram às ruas para exigir a libertação dos detidos, o fim da ditadura e a abolição da Constituição de 2008, considerada muito favorável ao exército.

Em Yangon, a capital econômica do país, jogadores profissionais de futebol e torcedores se uniram aos protestos, com camisas vermelhas, a cor da Liga Nacional para a Democracia (LND), o partido de Suu Kyi.

'Eu odeio o golpe militar mais do que eu odeio o Manchester United', diz cartaz carregado por torcedor do Liverpool durante protesto em Yangon. Foto: AFP

"Não compareçam ao trabalho", "Nossa revolta tem que vencer", gritaram os professores na cidade de Miek, no sul do país. Em Naypyidaw, a capital administrativa, os manifestantes tocaram as buzinas de suas motos e fizeram a saudação com três dedos um gesto de resistência.

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Dezenas de milhares de pessoas participaram nos protestos na última semana, uma mobilização inédita desde a "Revolução do Açafrão" de 2007.

Policiais, controladores aéreos, professores, profissionais da saúde e muitos funcionários públicos estão em greve.

O comandante da junta militar, Min Aung Hlaing, fez uma advertência contra os funcionários em greve. Ele anunciou "ações eficazes pelo não cumprimento de suas obrigações (...) incitados por pessoas sem escrúpulos".

Monge carrega placa contra o general Min Aung Hlaing durante protesto em Mandalay: 'você deveria se envergonhar, ditador. Nós nunca perdoaremos você'. Foto: AP

De modo paralelo, 23.314 prisioneiros, incluindo 55 estrangeiros, serão libertados e outros devem ter a pena reduzida, informou o jornal estatal Global New Light Of Myanmar. Os detalhes da medida não foram divulgados.

As grandes anistias de prisioneiros para liberar espaço em estabelecimentos superlotados são frequentes e anunciadas em datas importantes do calendário de Mianmar. Esta sexta-feira é feriado no país.

Ming Yu Hah, da Anistia Internacional, chamou a iniciativa de "espetáculo paralelo para desviar a atenção dos abusos diários cometidos pelas autoridades militares contra os direitos humanos".

Manifestante faz 'saudação dos três dedos', gesto pró-democracia em Mianmar Foto: REUTERS

A situação no país continua no alvo da comunidade internacional.

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Os Estados Unidos anunciaram que bloquearão os ativos e as transações comerciais de 10 comandantes militares ou militares da reserva, considerados responsáveis pelo golpe de Estado, entre eles Min Aung Hlaing.

Mas os generais birmaneses não possuem grandes ativos nos Estados Unidos, ou ao menos não como em Cingapura, e este tipo de medida não evitou que junta permanecesse no comando do país por muitos anos, afirmam analistas.

Reino Unido e União Europeia também ameaçaram adotar sanções.

Nesta sexta-feira, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU celebrará uma sessão extraordinária sobre a situação do país. A posição da China e da Rússia, apoios tradicionais do Exército de Mianmar na ONU, estará no centro da reunião.

Falsas informações

Ao mesmo tempo, gigantes da internet - como Facebook, Google e Twitter - criticaram um projeto de lei sobre a segurança virtual que permitirá à junta militar proibir sites e obrigar as redes sociais a transmitir dados dos usuários.

O Facebook anunciou que reduziria a visibilidade do conteúdo procedente do Exército, por "continuar divulgando falsas informações" após a tomada de poder.

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A plataforma, principal meio de comunicação para milhões de pessoas no país, afirmou as autoridades não poderão solicitar a retirada de publicações.

O Exército questiona as legislativas de novembro, vencidas por ampla maioria pela LND. Os observadores internacionais não constataram problemas.

Os generais temiam a redução de sua influência após a vitória de Aung San Suu Kyi, caso ela decidisse modificar a Constituição.

A vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 1991, que segundo seu partido está bem e em prisão domiciliar em Naypyidaw, continua sendo venerada em seu país, apesar das críticas internacionais por sua passividade diante dos abusos contra a minoria muçulmana dos rohingyas./ AFP

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