Massacre no Texas expõe escalada de ataque a tiros em escolas dos Estados Unidos

Média de incidentes com armas de fogo em escolas americanas se aproxima de um por dia em 2022, segundo dados de instituto

PUBLICIDADE

Por Redação
Atualização:
5 min de leitura

No mesmo dia em que Salvador Ramos entrou em uma escola e matou 19 crianças e 2 adultos em Uvalde, no Texas, três estudantes foram baleados e feridos do lado de fora de uma escola infantil em Washington, capital dos Estados Unidos. Um dia antes, na segunda, 23, três adolescentes da Filadélfia foram atingidos por tiros na saída da aula. E, na semana passada, os estados de Michigan, Louisiana e Tennessee também tiveram episódios semelhantes.

Apesar de menos letais do que o massacre do Texas, todos estes casos representam a escalada de tiroteios em escolas americanas este ano. Desde o início de 2022, a média de incidentes com armas de fogo em escolas chega perto de um por dia, de acordo com David Riedman, pesquisador-chefe do K-12 School Shooting Database, que os acompanha e registra. Até esta quarta-feira, 25, o instituto contabilizou 137 casos.

O instituto registra todos os incidentes em que uma arma é sacada ou um tiro é disparado em propriedades escolares. No ano passado, foram 249 casos registrados. Para Riedman, trata-se de uma epidemia que passa despercebida por ter incidentes menores e sem mortes envolvidas. “O que está se tornando mais prevalente é a violência sistemática com armas na escola, que aumenta dramaticamente”, declarou.

Moradores de Uvalde lamentam massacre ocorrido na cidade nesta terça-feira, 24, que deixou 19 crianças e 2 adultos mortos. Ataque é face mais mortal de escalada de violência armada no país Foto: Tannen Maury / EFE

A maioria dos casos acontecem em escolas de ensino médio, acrescentou o pesquisador. “Isso se deve ao fato dos alunos portarem armas e se envolverem em conflitos que chegam ao ponto da violência armada”, afirmou à Reuters.

O massacre do Texas nesta terça-feira é a face mais violenta e mortal desta violência, mas, segundo Riedman, os incidentes com armas de fogo nas dependências das escolas já haviam matado 27 pessoas, incluindo sete estudantes, e ferido outras 77.

James Densley, co-fundador do The Violence Project, que rastreia eventos de tiroteios que matam quatro ou mais pessoas, avalia que os ataques a tiros contra escolas americanas se tornaram mais mortais nos últimos anos. Prova disso é o fato dos três mais violentos da história dos EUA terem acontecido na última década.

Continua após a publicidade

O maior deles foi o ataque contra a escola primária de Sandy Hook, em Connecticut, no qual um atirador matou 20 crianças e 6 adultos em 2012; em seguida, aparece o ataque desta terça-feira no Texas, com 19 crianças mortas e 2 adultos. Por último, está o tiroteio de 2018 na Marjory Stoneman Douglas High School, na Flórida, onde 17 pessoas morreram.

Imagem do dia 14 de dezembro de 2012 mostra parentes de criança morta no massacre de Sandy Hook Elementary, em Connecticut. Ataque deixou 20 crianças e 6 adultos mortos e é o mais letal da história dos EUA a acontecer em uma escola primária Foto: Adrees Latif / REUTERS

Os especialistas avaliam que a ameaça de violência mortal paira sobre as crianças americanas em idade escolar de uma forma que não acontece na maioria dos outros países. Desde pequenos, os alunos praticam regularmente exercícios para aprender a se esconder nas salas de aula com luzes apagadas e portas servindo de barricadas.

Como precaução diária, algumas escolas trancam as portas da frente e das salas de aula na intenção de bloquear potenciais atiradores que possam invadir o prédio. No Texas, existe até um programa onde professores treinados podem portar revólveres - uma questão que voltou a ser debatida após o massacre desta terça-feira.

O aumento dos tiroteios acabou por gerar uma indústria de segurança nas escolas. Muitas instalam janelas e portas à prova de balas, fechaduras especiais e detectores de metal. Outras contratam guardas armados. No entanto, muitas vezes essas medidas não são suficientes, já que as armas continuam a chegar nas salas de aula com resultados mortais, avaliou Densley.

O massacre do Texas não apenas é o segundo mais mortal da história dos Estados Unidos a acontecer em uma escola primária, como também passou a ser o mais mortal do ano. Dez dias antes, um atirador havia matado dez pessoas negras em Buffalo, em Nova York, em um crime racista.

Continua após a publicidade

Nesta quarta-feira, dia seguinte ao ataque, os moradores de Uvalde esperavam que a atenção das autoridades ao problema das armas e da escalada de violência nos Estados Unidos seja mais duradouro. Somente este ano, os EUA registraram 212 ataques com armas de fogo, segundo a Gun Violence Archive, uma organização independente que documenta casos de violência armada. A média é superior a um por dia.

A última estatística de homicídio nos Estados Unidos, relativa ao ano de 2020, mostram que as mortes por armas, incluindo suicídios, atingiram o nível mais alto já registrado no país. Foram 45 mil vítimas, das quais mais da metade foram suicídio, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

Dia seguinte ao massacre do Texas é marcado por luto e dúvidas

Parentes de vítimas mortas durante o massacre do Texas nesta terça-feira, 24, em Uvalde. Dia foi marcado por luto e homenagem às vítimas Foto: Jordan Vonderhaar/AFP

A população de Uvalde, cidade do Texas onde o massacre desta terça-feira aconteceu, começou a ter algumas respostas nesta quarta sobre o incidente, embora persistam dúvidas sobre a motivação. À medida que se descobria o perfil do assassino e os avisos deixados por ele sobre os atos de violência, parentes das 19 crianças e duas professoras mortas receberam atendimento psicológico em um centro comunitário.

“Esta é uma comunidade muito unida. Todo mundo se conhece. Todo mundo conhecia esse menino (o atirador)”, disse uma moradora de Uvalde, identificada como Lara de La Cruz, à agência EFE. Ela era próxima a uma das crianças mortas na escola, informou a agência.

Um pequeno memorial de homenagem às vítimas foi montado no pé do centro comunitário de Uvalde, com fotos e objetos que pertenciam a eles. Além dos parentes, estudantes, funcionários da escola e motoristas de ônibus compareceram ao local para receber atendimento. /REUTERS, NYT E EFE

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.